Quem sou eu

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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Imagens de Erivelto - novembro e dezembro de 2011

Erivelto Reis em 28/12/2011                    

Amizade antiga e valiosa: Primitivo e Erivelto

1ª comunhão dos meus filhos Erick e Ian

Minha musa, Gloria Regina                   

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Poema: Sobre Sentido e Silêncio - Erivelto Reis

SOBRE SENTIDO E SILÊNCIO


Erivelto Reis



Sou feliz por ser pai

De um filho que, infelizmente,

Vez em quando, me parece triste.

Que vive enlutado de um evadir-se de si,

Que tanto machuca e persiste.



Silêncio de sentido é o abismo que se lança,

No adulto e na criança,

Entre tudo o que se pensa,

E aquilo que de fato existe.

Não sei se posso protegê-lo.

Não sei se sei do que não sei como pai.



Sei que tenho um amor que produz

Orgulho e um grande medo de não compreendê-lo.

Um medo de perdê-lo por entre os desatalhos

Dos cascalhos da linguagem,

Que ferem, confundem e denigrem

Minha austera, paterna, patética

E (im) própria imagem...

Gerando dor, dissabor e estresse.

Talvez eu nem soubesse do poder, se o tivesse.



Nossa conversa é um rito gasto de gestos sem palavras,

Com quase poucas palavras...

E olhares que se desencontram, que desatinam,

E que fazem com que nossa alma desconverse.

Isso é tão difícil pra nós,

Mas é quase sempre isso que acontece.



Às vezes, acho que ele não confia em mim,

Mas sei que confiaria se pudesse.



O vejo andando, progredindo, só que em círculos,

Em espirais de aprendizado e teste;

Inseguro sobre o chão de informações,

Que brincam de roda com as suas emoções.



Tudo é novo, mesmo na centésima vez que aparece

Tudo é estranhamente diferente e repetido

Perto, longe, distante, parecido.



No que eu vivo, no que vejo, no que penso.

Sou tão igual ao meu filho:

Que, às vezes, nem me conheço.

Ora emociono e não explico,

Ora explico e não convenço.



Por sensações e recomeço,

Vejo-me repleto e contrito

Por tudo o que, a ele, sobre de silêncio...

Por tudo o que, a mim, me falte em sentido.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Poema: Minha Vida - de Erivelto Reis

Minha Vida




Minha vida é o alarde

Dos sustos que a emoção me prega

É um DVD que não pega

Um devedor que não paga

É a fé cega, a faca afiada

Minha vida é o meu passo de Jeca

É a última música do LP

O bug do HD

O chuvisco da TV

Minha vida é ouvir o horóscopo distraído

É minha zona de conflito, minha trincheira de conforto

É tudo que entra por um ouvido e não sai pelo outro

É ficar calado, é pedir desculpa

É marejar os olhos e viver só

Chorar com saudades da avó.



É não ter amigos

É perder amigos

É não ter razão



Minha vida é olhar a chuva

Que molha as folhas da melancólica palmeira

É ficar na fila, é de segunda-feira

É reconstruir o muro, é não sair do chão

É alugar casulo para a solidão.



Minha vida é colecionar e-mails

É perder cabelo

É dor no joelho

É ter pesadelo

É passar calor





Minha vida é a procissão

Que leva o andor de um santo de figuração

Asa de milagre que não se insinua

É voltar pra casa e viver na rua

Minha vida é o esboço

Do que ela seria

É namorar a prosa

É amar a poesia

É o lado de fora da academia

Minha vida é sonhar com aquilo

Que eu jamais vivi

A ordem dos livros que eu não li

É viver correndo

Pra fugir de mim.

Poesia de Michel Melamed

rio de janeiro,


menos 20 graus.

os patinadores cavalgam parelhos no espelho de gelo da lagoa.

o cristo redentor,

quase irreconhecível

assim,

com a neve cobrindo-lhe

o dorso das mãos pés braços ombros cabeça...

não fosse a justa localização e tamanho

poderia se suspeitar que fosse outrem ali:

um king-kong petrificado no apogeu da escalada;

uma esfinge, de pé, propondo a pantomima do seu enigma;

a estátua da liberdade − renunciando à tocha,

os braços semi-erguidos como asas, livre;

quiça a torre eiffel obesa

ou mesmo um patético espantalho gigante afugentando o sol...

a neve tomba sobre a cidade.

queda lentamente escorada pelo absoluto silêncio,

este silêncio hibernado há mais de quinhentos anos,

lapidando as hélices dos flocos

para o desbunde branco.

casais sobre esquis descem o pão de açúcar.

na baía de guanabara um pai puxa o filho no trenó.

pinguins aplaudem a aurora boreal no posto 9.

vai mesmo que o pau-brasil cisma desbotar na polônia

e uma ave gargarejar na rússia.

uzbequistão e suas palmeiras do mangue...

sibéria 40°...

hoje,

aqui,

são as neves de março que fecham o verão.

e promessa nenhuma.

nunca mais.







MICHEL MELAMED − in regurgitofagia, pág.105 − Ed.Objetiva

Poema: Tarefa - Artur da Távola

TAREFA
Artur da Távola


Escrever é lutar contra todos os estados de espírito.

É cavalgar o próprio tédio

É passar por cima de inspirações

Tripular a esperança,

A alegria própria... tanto quanto tristezas.

Escrever não é prazer nem confidência, é tarefa!

Desafiar as palavras, exercitar-lhes o sentido,

Namorar-lhes contornos,

Espreitando sutilezas e mil significados.

Escrever é conviver com dúvidas, medo e coragem,

É dar socos na falta de assunto.

É aprender a calar, falando.

E falar... Calando.

É enfrentar ditadores, detratores,

Dez tratores ou mil elogios.

Escrever é perder o medo de si próprio

e desabrir caminhos secretos.

É varar distâncias, encontrar pessoas sós.

É velar, pensar, penar, sentir por si e pelos outros.

É fazer um bem que não se imagina possível.

É pedir licença. É errar. É querer.

É permanecer acreditando.

Revolver infâncias,

Redescobrir adolescências espantadas

Compensar, contestar, reparar...

Escrever é ato de amor feito tarefa

Crônica: “CONGRATULATO DE CONGRATULATION”, de Erivelto Reis

“CONGRATULATO DE CONGRATULATION”
Erivelto Reis




Fim de ano chegando. Outra vez me encontro tentando ocupar os espaços em branco dos cartões de Natal que pretendo enviar, com algo um pouco mais criativo, do que a já famosa expressão: “Sinceros votos a você e sua família!”.

Prefiro usar frases mais elaboradas nos cartões e, sempre que possível, enviá-los acompanhando presentes. Presentes que passarei o ano seguinte, quase todo, pagando. Não me importa se mantive com determinada pessoa, um relacionamento de amizade sincera ou de forçada cordialidade: tasco-lhe um cartão e um presente! E a pessoa presenteada ficará surpresa de ser tão bem quista. Pois que não é! E as comemorações passarão, e de novo, nos toleraremos cordialmente. Se a pessoa em questão for um familiar, aí é que eu capricho no cartão e descuido um pouco do presente, já que toda família precisa ter o seu posto de “pau-duro” ocupado...

Preencho meus cartões, cuidadosamente, com frases como: “regozijai-vos de felicidade e alegria!”. Não é lindo?!... Ou ainda: “O meu mais sincero agradecimento!” Terá havido um agradecimento menos sincero?...

Ano passado um parente distante me enviou um cartão com uma frase incrível, que eu pretendo, inclusive, usar nos cartões que enviarei este ano. Ele escreveu: “Neste Natal, mesmo distante, congratulato de congratulation!!!”

Pelo número de exclamações, ele devia estar berrando quando escreveu isto. Na certa queria que eu o ouvisse daqui. Acredito que meu parente goste mesmo de mim. Mas não faço ideia  do que essa frase quer dizer. Há de ser coisa boa. Tomara!

Se você não gosta de escrever, ou não costuma escrever “pérolas” como esta; nem se endivida até a raiz do cabelo para comprar presentes, siga este conselho: seja feliz e faça alguém feliz! Não apenas neste fim de ano, mas em todos os dias da sua vida. Você já entendeu que o amor, a amizade o respeito e uma vida melhor, se conquistam através de gestos e palavras simples e sinceras que devem nos acompanhar todos os dias e não apenas nas festividades.

Você, que dedica à sua família, aos amigos, conhecidos e vizinhos um tratamento cordial e generoso, não precisa dar presentes. Você é o próprio presente! Com saúde e fé siga o seu caminho. E, quem sabe um dia, eu não lhe envie um cartão?





Poemas do Livro Sem Rima (2004), de Erivelto Reis

Convenções






Não me julgues

Pela aparência,

Que todos sabem,

É ilusão fugaz!

E os elogios

Que me fazes agora,

Já foram feitos

A muitos outros mais.

Não me releves a palavra

Amena,

Que a ti pareça

Bela e trivial...

A elegância da minha

Discordância

Pode caber numa frase banal.

E a ti eu quero prevenir:

Não te apresentes

Tal e qual “estrela”,

Pois o orgulho

Pode te iludir!

Já que o brilho

Da verdadeira estrela

Que vês no céu,

Há muito tempo

Deixou de existir.



Sem Rima





Agora chega,

Não vou mais rimar pra você!

Não serei mais o apaixonado

- Sonhador incompleto -

Que vive sonhando

Em viver ao seu lado.



Deixarei de olhá-la,

Ainda que me custe

A dor de uma paixão.

Deixarei de falar com você,

Ainda que meu coração

Fale mais alto...



E apesar de tudo,

Meu amor, eu lhe juro

Que nada mais neste mundo,

Vai me fazer rimar pra você.



Seguirei sem rumo,

Apesar de conviver com você.

Passarei noites em claro,

Apesar de sua doce lembrança.





Mas amor, eu lhe juro

Que não há nada mais

Neste mundo,

Que vá me fazer rimar

Pra você.



A minha louca decisão,

Nem você pode entender.

Mas eu sinto que ela

Pode impedir

Que eu continue a sofrer.



Porque você é o meu amor...



Você é a luz que me ilumina!



Por isto, eu lhe peço,

Neste último momento,

Me deixe quebrar o juramento

E me despedir com uma rima!



O Delírio de Um Poeta





Por onde passei, ouvi mágoas.

Transformei-as: Belas!

Embora, muitas delas

Eu não pudesse compreender.

Por onde passei, ouvi gritos.

Histéricos, ridículos...

Que então, trouxeram

Aos meus sentidos,

A agonia de viver!

Por onde passei, deixei marcas,

Aos poucos, ofuscadas

Pela brilhante luz dos tempos!

Fui muito longe...

Estive em quase todos os lugares,

Em quase todos os momentos.

Fui a lágrima de um palhaço...

Do fim, fui eu o adeus!

Do lutador, fui o cansaço.

Do espelho, fui a imagem.

Do amor, fui a paixão.

Do amigo, o inimigo...

Do corpo, o coração!

Da vida, eu fui a morte.

Dos maus, eu fui o bem.

Do passado eu fui presente.

Do azar, eu fui a sorte.

E da ausência, eu fui ninguém...



Da noite, eu fui o medo.

Dos olhos, fui a retina.

Do ódio, eu fui o perdão...

Das drogas, fui cocaína!

Por onde passei,

Eu vi moças

Alegres e soltas,

Que de tão fúteis,

Sequer descobriram

A dor de não ter como ser!

Eu sempre segui meu caminho

Pisando em espinhos...

Vago à sombra da luz

Sem ter ninguém

Para me acompanhar,

Nem retirar as duras pedras

Da estrada...

Sei que vou morrer,

Por isso eu quero lhe dizer,

Que tentando ser tudo na vida...

(Hoje eu sei!)

Eu não fui nada pra você.



Pra Quem Acredita...





Se alguém notar

Que alguém me segue...

Me avise agora!

– Logo... –

Não antes,

Nem depois!

Não me importo em saber

Onde está o lado de lá...

Quem está vivo,

Quem morreu,

Quem nascerá!

Porque,

Se agora estou aqui

Neste mundo,

Minha hora chegará!

E as almas que ignoramos,

Ou as que se escondem,

Irão voltar

Pra falar de coisas tão fáceis

E tão difíceis de aceitar,

Já que a sombra que me persegue,

É a extensão da minha alma.



Só que você não percebe.



Utopia





O que é pra ser,

Será sempre.

Não importa o tempo

Que durar.

Um minuto pode ser

Guardado eternamente...

Uma vida em branco,

Pode em prantos se acabar.

Sendo um trabalhador,

A mente pode voar.

Sendo um sonhador,

O mundo pode mudar.

Sendo criatura,

Confunde-se

E torna-se

Criador de sentimentos

Que mexem com toda a gente...

Sendo planta,

Desabrocha como flor!

Eis sua missão:

Sendo pássaro,

Espalhe as sementes.

Sendo criança,

Semeie o amor.



O Delírio De Um Poeta


II





Agora a solidão anda comigo!

A dor é bem mais forte

E eu não ligo!

A paz, que eu perdi,

Me bate à porta

Implorando para entrar...

Eu finjo não escutar.

Agora,

O seu adeus não me interessa!

As lágrimas,

São motivos para festas...

Percebo

Que toda aquela velha angústia,

Me faz dormir,

Mesmo sem sentir...

Agora,

Que eu fiquei aqui sozinho,

Eu percebi

Que não preciso de carinho!

Agora,

Não estranho,

Nem estrago

Os meus ideais...

Quais?!





Agora,

Eu já não choro

Quando vem o entardecer

E eu me descubro

Sem você!

E assim o tempo

Vai passando

E nem tudo

O que eu tento lembrar

Eu consigo!



Perdi o juízo

E quero me enganar...



O que será possível,

Se este

Último delírio

Vier me matar?!



Eu Não Tenho





Eu não tenho filhos

Eu não tenho fome

Eu não tenho nome

Não tenho ninguém!

Eu não tenho sorte

Também não sou forte

Eu não tenho fibra

Eu não sou de Libra...

E minha alma grita

Pelo dom que não tem!

Não tenho um passado

Nem um ás guardado

Nem um par formado

Eu não tenho sonhos...

Também

Não tenho sono

Só o desespero

Quando a noite vem!

Eu não tenho beleza

Também

Não tenho certeza...

E não tenho nada

Para lhe falar!

Eu não sei fingir

Também

Não vou mentir...

Porque tudo o que sinto

É tudo o que há.



Eu Quero Tudo



Eu não vou dizer

Que só quero o seu amor.

Eu quero tudo...

Eu quero o máximo

Que você puder me oferecer!

Eu quero que seja

Só seu o meu mundo...

Eu posso esperar

Mas quando começar

Meu amor

Vou querer tudo!

Eu quero o seu olhar

O seu jeito de falar

Eu quero a sua boca...

A sua voz bem rouca

Num papo informal

Sob o calor do lençol!

Amo você loucamente

Deixarei gravadas

No corpo e na mente

As coisas que nós sentimos!

Eu quero que seja

Só meu o seu mundo...

Eu posso esperar

Mas quando começar

Meu amor

Vou querer tudo!



Lua Triste



Linda, há pouco tempo

Nos conhecemos.

Um sonho de amor

Nós vivemos

E você quer me dizer adeus.

Linda, louco estou.

Depois que você se afastou,

A minha lua ficou triste.

Se você está distante,

A pobre lua é minguante...

Se você está ausente,

A saudade no meu quarto

É crescente...

Infeliz do homem apaixonado...

– Um lunático! –

Que, na lua nova,

Novamente está só.

E a lua cheia que o inspira,

E à vazante da maré,

Não inspira à sua amada,

Já que a lua é culpada

Da tristeza e do martírio...

A vingança é que seu brilho

É bem menor que o fascínio

Que há nos olhos da mulher!



Amor Verdadeiro



O amor verdadeiro

Não permanece estável

Estático

Intocável

Imutável

Invulnerável...

Ele bate

Ele sofre

Ele grita

Ele ri

Ele chora

Emociona

Afasta

Afaga...

Ele é a saga

De dois seres

No nó

De uma alma só!

Nós dois

– Eu e você. –



Quanto Vale



Quanto vale a tua felicidade?

O que é preciso pra te ver feliz?

Quanto custa a chuva

Que molha o teu rosto?

O pranto

– Fruto do teu desgosto –

A certeza de estar “por um triz”.

Quanto vale a tua felicidade?

O que é preciso pra te ver feliz?

O chão onde pisas, valerá quanto?

A natureza, a beleza,

O céu, o mar,

O vento aos quatro cantos...

O sorriso de quem se quer bem,

Ou as palavras sinceras

Que um amigo te diz?

Quanto vale a tua felicidade?

O que é preciso pra te ver feliz?

O sol da manhã,

Que faz reluzir o orvalho na relva...

A força do teu braço,

Ou os teus pés descalços,

Brincando na areia

De uma praia deserta...

A tua porta entreaberta,

Esperando a volta

De alguém que se quis...





Quanto vale a tua felicidade?

O que é que te falta

Para ser feliz?

Quanto vale a fé que possuis?

O sangue em tuas veias,

A tua ilusão, a voz,

O ar nos pulmões,

As tuas emoções e o teu coração?...

Quanto custa a tua solidão?

Quanto vale a tua felicidade?

O que ainda esperas

Para ser feliz?

A arte, a Poesia, a pintura...

A música, toda a cultura!

O talento e o sucesso,

O bom e o perverso,

Cada estrofe, cada verso,

E a sensação de ser um professor

(E, ao mesmo tempo, aprendiz...)

A dor, a tristeza e a saudade.

Quanto vale a tua felicidade?

O que ainda é preciso

Pra te ver feliz?



Casa Vazia



Casa vazia, vida vazia,

Sem alma, sem calma...

Poeira no corredor

Sufoca o peito apertado.

Coração bate sem compasso

Quando falta amor!

Portas que não se abrem,

Me lembram do que você dizia...

E a casa continua vazia...

Paredes nuas e frias,

Sem quadros, sem alegrias.

Não ouço ecos de passos,

Pois não há ninguém!

O teto feito de esperanças.

O piso feito de lembranças.

Passado e presente

Se misturam quando chove...





Casa vazia, vida vazia.

Nas janelas escancaradas,

Há um grito de saudade!

Vento gelado de solidão

Que invade o porão

Dos sonhos não realizados.

Casa vazia, vida vazia.

No jardim,

As flores sem perfume,

Têm espinhos de segredos

E pétalas de ciúme!

Esperam alguém

Que as colha e perdoe

Enquanto estão magoadas.

Emoções abandonadas...

São tijolos amontoados,

Que não construíram nada!



Pedaços de Nada



Pedaços de nada

Jogados na estrada.

Sobras de sombras

Deixadas às frestas de luz.

Montes e destroços

De emoções e remorsos...

Lágrimas e gritos

Que ninguém jamais viu

Nem ouviu!

Pedaços de nada

Jogados na estrada.

Taças de um passado

Bebido, embriagado!

Garrafas de um nó,

Que só a solidão

Sabe dar...

Sentado num bar

Sem ninguém pra falar,

Dos pedaços de mim

Que ainda estão

Com você.





Pedaços de nada

Jogados na estrada.

É assim que me sinto

Esperando você...

Pedaços de nada

Jogados na estrada.

Que as pessoas reparam,

Para, em seguida,

Esquecerem!

Sinto falta de tudo

O que hoje,

É só dor...

Sou um pedaço de nada,

Humilhado,

Implorando

Um punhado de amor,

Para me lembrar

De quem sou!



O Delírio de Um Poeta


III



Na vida pela qual passei,

Tive que suportar

Humilhações, frustrações

E agressões

Ao meu pobre coração!

Na vida pela qual passei,

O sofrimento esteve presente

Em cada amanhecer.

E as lágrimas

Passavam comigo as noites,

Me falando da dor

Que eu experimentava,

Esperando alguém

Que nunca voltava!

E hoje estou aqui.

Estou louco,

Esquecido...

Estou são,

Estou perdido.

Cheio de infelicidades...

Amargo por experiências.





Estou quase liquidado!

Tenho no peito, trancada,

A velha e antiquada ilusão!

Não quero que me tirem daqui,

Pois a esperança que perdi,

Anda de mãos dadas

Com a morte!

Eu quero morrer sozinho.

Tropecei

Em seu caminho

E escorri, como areia,

Em suas mãos!

Eu vou morrer delirando,

Sofrendo horrores...

Lembrando amores

Sufocados em meu coração.



O Que Mata Mais



O que mata mais?

O Fundamentalismo ou

O Capitalismo?

A Ciência ou a Religião?

A Guerra Fria ou

A Guerra Santa?

A mente ou o coração?



O que mata mais?



A verdade ou a Democracia?

A fome ou a revolução?

A violência ou a violação?

O trânsito ou a transação?

A tirania ou a submissão?



O que mata mais?



As “Torres” caindo ou

A Argentina falindo?

A Bomba de Hiroshima ou

A Guerra das Malvinas?

As minas no chão ou a poluição?

O Holocausto ou a Inquisição?





O que mata mais?



É a falta de “Tom”...

A ausência de “Elis”...

Viver sem “Drummond”...

E pensar ser feliz?

Depender do patrão ou

Da meretriz?!



É o presente,

É o passado,

É o futuro...

É o tempo perdido!



É tudo o que pode

Ser consertado.

E que nunca será

Esquecido...



Gente



Cisma e sai

Quase diariamente.

Espera sorrir,

Mesmo que o outro lhe fale,

Mesmo que o mundo se cale!

A vida vai,

Mesmo sem ter sentido.

Tudo o que foi,

Mesmo o que está tão distante,

Era tão lindo.

A dor que você sente,

Pois fala tudo sem mentir...

A dor que você sente,

Quer lhe dizer

Que o que vale no mundo

É o amor.

Fale o que foi,

Dê um sorriso agora,

Chore depois...

Banque o eterno fraterno:

– Comece tudo do zero! –





Pense

No que faz parte

Desse mundo

E quer que você

Viva um amor tão sincero...

E eu não duvido

Que tantos querem o amor

E que a vida dê certo,

São gente comum

E se sentem tão perto!

Gente que vive

Sem nem mesmo um teto,

E encontra na vida

Razão pra lutar!



Ao País do Futuro



Brasil, fulgurante glória,

Um marco na história

Estabelecida,

Lenda descabida.

Toda a tua memória,

Tão contraditória,

Banhada pelo manto,

– Celeste desencanto. –

Espelho de riquezas...

Dunas de incertezas!

És gigante, és forte,

Indigno de tal sorte.

Com teu povo nativo,

500 anos em perigo!

Miscigenado além do esperado.

E se te causo espanto,

Sou menos um quebranto.

Brasil, a terra desbravada...

Cultura aniquilada!

Teu sutil falar: enigma no ar.

Quem viu quão vil nasceste,

Te compreende bem.

Te assume, “Paradisíaca Ilha

Dos prazeres de além-mar”!

Édipo sem pátria,

Em teu solo sou tão pequeno

Que tal qual semente,

O meu querer abafas.





A tua natureza

É toda a tua nobreza.

O teu alvorecer

Não depende de ti,

Que entre milhões e milhões,

És a mais bela entre as nações!

Brasil, o teu destino é assim:

O teu melhor, só quem conhece

É quem te ama ou te explora...

A tua alegria,

Hoje é folia marginal.

Os teus valores e qualidades

São esquecidos

E te descubro

Multinacional!

És, na verdade,

Multirracial!

Os teus heróis,

Poucos conhecem.

Só aparecem

Como enredos

No carnaval!



Globalização



O Mundo

É governado por loucos.

A Rússia

Mata os soldados aos poucos...

Os Jornais

Se ocupam de fatos.

A Riqueza

É propriedade de alguns...

A Igreja

É Instituição Sagrada.

Dinheiro

Não tem Credo nenhum!

A Verdade

É território profano...

O Medo

É um oceano profundo

Meu filho

Dorme e caminha sonâmbulo.

A Família

Hoje em dia, é refém...

A Tecnologia

Escraviza quem não a detém!

Afinal de contas,

Computador não diz amém.



Agora Eu Mando No Meu Coração



Eu tenho errado pouco ultimamente,

Tenho conseguido olhar pra frente,

Sem lembrar do meu passado!

Eu tenho novos rumos pra traçar,

Eu tenho agora um futuro

Onde você não está!

Eu não tenho mais medo

De me olhar no espelho!

Reconheço os meus erros,

Gosto da minha nova imagem!

Troquei toda a angústia

E desespero,

Por meia dúzia de conselhos

E um pouco de coragem!

Agora você vê que eu sou

Bem mais forte!

Que agora eu não dependo

Mais da sorte!

Não temo nem sequer a solidão...

Você, agora, me vê

Como indestrutível...

Estou tornando isso

Bem possível:

Agora eu mando

No meu coração.



O Delírio de Um Poeta


IV



Veja o final dos tempos!

Olhe pra mim, aqui, esquecido.

Saiba que,

Como o ontem é passado,

Eu já fui querido,

Eu já fui amado...

Tive que descobrir tantas coisas

Para encontrar

A minha razão de viver.

Tive que amargar derrotas,

Que ser traído,

Perder apostas...

Mas hoje eu sei:

Que um ator fracassado,

Fica esquecido.

Que um palhaço chorando,

Provoca sorrisos!

Que tudo o que é bom

Um dia tem fim.

Que a imagem do caos

Se reflete em mim.

Sei que quem teme a noite,

Também teme a vida,

Que se alguém fecha as portas,

Não acha as saídas...

Sei que a paixão tem seu tempo,

Mas não tem idade.

Sei, com pesar e tristeza,

Que alegria e beleza

Não são liberdade!

Sei que as moças que vi,

Não me deram a mão.

Que os amigos que tive,

Se chamavam Ilusão!

Hoje não peço que volte,

Alguém que se foi.

E a quem eu não quero,

Que me deixe, se vá...

Hoje, tudo o que eu preciso

É de um inimigo para me escutar!

Bem, esse é o meu fim...

E à morte, agradeço

Pela paz que me deu!

Pobre de mim:

– Um Poeta morrendo...

Tentando ser Deus! –



Prefiro



Prefiro ser mel

Mesmo sendo sal

Prefiro ser bom

Mesmo sendo mau

Prefiro ser eu

Sendo natural

Prefiro viver

Viver e ser leal

Prefiro um ser

Um dom sensorial

Prefiro calar

Que ser imoral

Prefiro conter

Que ser informal

Pretendo ser bom

Ou mau ou como for

Prefiro ser eu

Mesmo não tendo valor

Prefiro ser real

Do que ser artificial.



Morrer



Morrer

É como ir a Niterói

E levar junto

Só o vazio

Morrer

É como se despedir do Rio...

Morrer

É já não ter nenhum amigo

Ninguém

Que nos empreste um livro...

Morrer

É já não ter nenhum amor

Perder um filho

Não colher nenhuma flor...

Morrer é injusto

Último pôr-do-sol...

Fim do percurso

Barco que não volta ao cais...

Morrer

É não viver em paz!



Oi Meu Amor





Oi, meu amor!

Eu tenho tanto

Pra falar pra você.

E certas coisas,

Eu não posso esconder.

E eu espero que você

Sinta o mesmo.

Minha emoção,

Meus sentimentos todos

Quero lhe dar.

O meu amor

E essa energia que há...

Essa é a força

Da nossa união!

Quero dizer sinceramente,

Que eu amo você!

E peço a Deus

Pra Ele proteger

A sua vida

Que pra mim é importante.

Você pra mim

É muito mais

Do que amor e paixão.

É muito mais

Do que amizade e atenção.





Você pra mim

É um presente de Deus.

Saiba que eu,

Na minha vida,

Nunca amei tanto assim!

Me dê um beijo,

Fique junto de mim,

Pois com você

Eu quero sempre viver!

E quando um dia,

Nossa velhice

A gente partilhar...

Aos nossos filhos,

Aos nossos netos,

Sei lá!

Nós mostraremos

O sentido do amor.

E nossa história

Não terá fim,

Porque foi Deus

Quem a escreveu.

Fico feliz

Porque você me escolheu.

Quero tanto você

Que já sou todo seu!



Homem Com Olhar Sincero



Homem com olhar sincero...

Homem de luta e de guerra,

Só quer a paz nesta Terra.

Homem urbano e rural,

Só quer o bem social.

Evitar o êxodo rural,

E a exploração imoral

Do homem que vive escravo,

Distante da terra natal!

Homem que quer liberdade,

Trabalha com honestidade.

Enfrenta, com muita coragem,

A dura realidade.

O amor é a sua verdade!

Respeita, desde um simples mendigo...

Até a mais importante autoridade!

Um Pai, um Irmão, um Avô...

Um ser social – Lutador! –

Um sim ou um não

(Com razão.)

Um Mestre da Emoção,

Um imenso coração,

E um divino mistério nas mãos:

Que é esse maravilhoso dom!

E fala com tanta certeza,

E fala com toda clareza,

E fala com tanta beleza,





Que a morte,

(A maior das tristezas!)

Nos chega com tanta riqueza

E consegue nos confortar.

Não fala pouco nem muito,

Mas fala de qualquer assunto!

Fala de dor e alegria,

Mas fala sem hipocrisia.

Herói, sem medalha ou retina...

Eu vi naquele dia,

Nos olhos daquela menina:

Seu destino é jamais ser esquecido!

E digo sem medo de errar,

E chego a me impressionar,

Quando lembro de autores como você,

Com talento sem igual:

Camões, João Cabral, Drummond,

Tom Jobim, Stanislaw,

Bilac, Castro Alves,

Machado de Assis e

Jaime Caetano Braun!

Poeta, Ator e Amigo...

Poeta e Grande Homem...

Os cabelos grisalhos

E as marcas do tempo na testa.

Você não nasceu para ser só homem,

Você nasceu pra ser Poeta!



O Delírio de Um Poeta


V



Procurei sempre

Contornar o incontornável!

Tornar doce, quão agre fosse.

Possibilitar o impossível...

E enxergar, nas pedras do caminho,

Pelo menos um sorriso seu!

Imaginei, com verossímeis fatos,

Coisas, com detalhes,

Que de fato eu jamais sonhei.

Imaginei ter as respostas

Das perguntas que ninguém me fez.

Acreditava que o sofrimento

Seria a sala de espera

Para a minha vez...

Contei as lágrimas que rolaram,

Decorei quantas estrelas se apagaram!

Contei nos dedos

E cantei com medo,

Belas canções

Que falavam de amor

E não lembravam a dor.

A minha vida foi sempre assim:

Só soube amar

A quem só quis me magoar...





Não enxerguei

Os poucos amores que encontrei!

Não escutei

O que as mentiras me falavam...

Não aprendi

Com as verdades solitárias,

Que nasciam em minha mente

E morriam no meu coração!

Eu já fiz de tudo

Quanto possam imaginar...

Eu aplaudi de pé

As minhas duras quedas.

Eu tive luz

Para encontrar as minhas trevas.

Eu tive medo

De confiar em minhas pernas...

Então, por isso, eu fiquei aqui!

Agora, tudo aquilo é passado,

E eu entendo

Sempre que me dizem não...

Toda a beleza

Me deixa pouco impressionado.

Eu olho em volta

E contemplo a solidão!



Amigo



Sente-se e converse comigo.

Eu estou bem, e você, como vai?

Me diga se alguém o ofendeu,

Se o seu time perdeu

E você nem ligou.

Entre, venha cá, meu amigo!

Que tal um café ou uma água,

O que você bebe comigo?

Invente um assunto pra gente falar.

Dê uma gargalhada pra me encabular...

Não, não se importe com as horas,

A mim me parece, que você chegou agora,

E já, tão depressa, não o deixo sair.

Vamos sorrir, conversar,

Matar a saudade...

É um prazer e uma honra

Recebê-lo aqui.

Bom, foi bom você ter aparecido

Tão feliz e tão contente,

Como tem sido ultimamente...

Pois você não foi embora.

– Sei que a morte é uma transição –

Você está na minha memória...

Você e todas as suas histórias,

Pra sempre no meu coração!...



Mudo



Se não gostam do que eu digo

Eu mudo

Se não entendem o que eu escrevo

Eu mudo

Se meu estilo é confuso

Eu mudo

Se minha rima é muito pobre

Eu mudo

Se me rotulam de Poeta vagabundo

Eu mudo

Mas não desmereça a Poesia!

Deixe que ela cresça

No dia a dia de qualquer um!

Não cometa esse crime

– O crime mais hediondo do mundo –

Pecado de quem se acha o melhor

E quem diria

Por um suposto amor à Poesia

Acaba obrigando o Poeta

A ficar mudo!



Pra Quem Gosta de Você



Pra quem gosta de você,

O certo e o errado

São vice-versa.

Qualquer Soneto,

Qualquer Poesia,

São só conversa!

O sol só se põe de manhã,

E a futilidade

É irmã da vaidade

E da falta do que fazer!

Pra quem gosta de você,

O preço a pagar é sempre alto:

O beijo de amor é gelado,

Qualquer confissão é pecado...

A verdade e a mentira convencem.

A covardia e a coragem

São sempre gestos de uma alma

Em busca de paz,

E por que não,

(Quem sabe?),

de algo mais!





Pra quem gosta de você

E ainda há tantos,

Que sequer

Os conheço...

O céu e o inferno

Têm o mesmo endereço

E viver ou morrer,

É apenas questão de espaço,

Tempo

Ou de sofrimento.

Pra quem gosta de você,

Liberdade não é traição

E insônia é só um processo

De total criação.

A tristeza é algo sensato

E o amor

É um cálculo exato.

É horrível,

Mas preciso dizer:

Pra quem gosta de você,

Qualquer porcaria

É um bom prato!



Mãe



Mãe,

Não pude lhe escrever,

Mesmo com tanta coisa pra dizer.

Mãe,

Se você soubesse o que eu vivi,

Você, no mínimo,

Iria “morrer de rir”...

Olhe mamãe,

Eu estou aqui,

Precisando muito de alguém

Que possa me ajudar.

Que tenha amor

Pra dividir comigo.

Que possa me emprestar

Um ombro amigo.

Eu sei mamãe,

Que se eu lhe obedecesse...

Se o que você tivesse dito,

Eu compreendesse..

Eu até, talvez,

Não me arrependesse!

Olhe mamãe,

Que tudo o que eu quis,

Foi encontrar alguém

Pra me fazer feliz!





Que compreendesse bem

Meu louco coração.

Mas não encontrei ninguém

– Só a ilusão! –



Mãe,

Aqui vou terminando...

A minha lucidez

Já está acabando.

Aconteceu tudo

Como você previu...

Por isso eu imagino,

Que neste exato momento,

Enquanto choro,

Você esteja “sorrindo”...

E eu sinto

Que esta dor que eu sinto...

Eu sinto que esta dor

Que estou sentindo agora...

Pode acabar por acabar comigo!

Ó Mãe!



E Você Pode Até


Encontrar Outro Alguém



Amor, é sério,

Eu lhe disse...

E se você me ouvisse,

Eu não estaria

Lhe dizendo adeus!

Foi bem feito,

Não houve jeito...

Sinceramente,

Até que durou muito.

Mas não chore,

Lágrimas em você

Não ficam bem.

E você pode até

Encontrar outro alguém

Que a ame como eu

A amei, também!

Estou pronto...

Você, triste.





Quer que eu fique

Ao seu lado,

Mas seu coração,

Nada faz!

De repente,

Vem correndo,

Me abraça

E toda a ilusão

Se desfaz,

Ao ouvir minha voz

Sussurrando:

“Agora é tarde demais!”

Você nunca acreditou em mim,

Mas agora percebeu...

Eu não a amo mais!

O amor que existia,

Morreu.



O Delírio de Um Poeta


VI



Hoje eu fui pensando

Em minha vida.

Hoje eu fui buscando

As saídas, que só agora,

Com um pouco mais

De experiência,

Consegui achar.

Pra ser fiel à verdade,

Antes que o meu tempo acabe,

Eu terei de reconhecer:

Não fiz nada de útil,

Vegetei,

Ao invés de viver...

Eu nunca entendi bem,

Por que não me diziam

“Eu te amo”...

mas invento amores,

sofro todo o ano!





Estou delirando

E sei que vou morrer.

Nunca tive outro sentimento,

Que não o desespero.

Nunca, nenhum outro perfume,

Que não o seu cheiro.

Sempre estive acompanhado

Da minha solidão.

Nunca tive liberdade

Para criar minha

Própria prisão.

E morrerei assim:

Sem alguém

Que queira simular,

Sequer uma lágrima

Por mim.



Antes



Antes mesmo de acordar,

Ela já sente.

E acorda e olha a sua volta,

Mas não vê ninguém.

Também – tola ilusão! –

Ele agora está distante,

Em outros braços.

E o embaraço dessa situação,

A faz chorar.

Antes mesmo do primeiro soluço,

O seu primeiro impulso

É não amar nunca mais.

É, no momento, o mais certo,

Embora, com ele perto,

A sua vida

Passe a ter mais sentido.

E se pega sofrendo,

E se encontra mentindo...

Antes mesmo do primeiro suspiro,

E de derrubar os seus livros,

Os presentes e os discos

Que ele havia lhe dado,

Ela – num completo delírio –

Relembra...





Em êxtase contempla

O primeiro beijo

Que ele lhe roubou.

E se encontra sorrindo,

E se entrega sem medo!

E até lhe sente

As pontas dos dedos,

Percorrendo-lhe o esguio corpo

De mulher madura e apaixonada.

E, antes mesmo, que o planeta

Lhe volte aos pés

– Aqueles mesmos! –

Que ele tanto admira

E que o excitam,

Pelo contorno e pela forma...

Ela pensa em esquecê-lo.

Mas já não poderá fazê-lo.

Pois ela já o amava

E esperava por ele...

Antes mesmo, muito antes,

Que viesse a conhecê-lo.



As Fotos



Objetos... abstratos...

Colecione-os

E se torne um “Deus”.

Escolha quem, quando, como,

Onde e para quê?

E só então irá entender.

Detenha toda a beleza,

E quanto mais o tempo passa,

Mais belas – que ironia! –

(Já revelei quem são...),

Elas vão ficando.

Já que elas só desbotam

E não envelhecem.

E se são alegres,

Saudosas se tornam.

E se são tristes,

Impossíveis de esquecê-las.

Obscuras... obscenas...

(Nunca obsoletas...)

Orgulho de escondê-las,

Arrependimento por mostrá-las.

Não falam,

Mas jamais se calam!





Revelam quem somos,

Onde estamos,

E o que fazemos.

E até quando não queremos,

Fazem parte

Da nossa existência.

E nossas experiências

Estão retratadas nelas.



Os fatos...



As fotos!



Contam mil histórias,

Quase sempre verdadeiras.

E quando alguém querido:

Um parente, (um Poeta),

Um amor ou um amigo

Nos deixa...

Uma simples foto,

– Mesmo uma 3x4 –

... Expressa mais vida

que uma vida inteira.



Quem Sou Eu



Sou o nascer do sol

Sou o bem e sou o mal

O açúcar e o sal

Sou o amargo e o azedo

A coragem e o medo

A emoção e a razão

A luz e a escuridão

O não e o sim

O início e o fim...

Sou a porta e o batente

Eu sou bicho e sou gente

O passado e o presente

Sou a flor e a semente

Sou especial

E sou qualquer um...

Sou extraordinário!

Sou caso comum





Sou a prosa e o poema

O verso e a rima

O teatro e o cinema

O solo e o clima

A montanha e a estrada

A planta e a raiz

Sou tudo e sou nada...

Sou este país!

Eu sou concordância

E sou controvérsia

Eu sou a memória

E sou amnésia...

Quem sou eu?

Eu sou substantivo

E o adjetivo...

Eu sou muito

Primitivo!

E você pode

Não entender.



Falhas





A força humilha o fraco

A falha embarga a fala

A farda enverga o “cabra”

O gole afaga a mágoa

O afeto acalma o ego

O filho encanta a alma!

A fuga fere a fé

A fama cheira à trama

A fome infesta a praça

A flor enfeita o tempo

A folha freia o vento

O fogo afronta o frio

A fumaça faz desgraça!

O vício apressa a morte

A faca faz o corte

O fútil vem à tona

A chuva lava a “Lona”!

A lama lota o lar

A fúria faz chorar

O lixo prevalece

O luxo enlouquece

O planeta envelhece...

E a humanidade esquece

Que só o amor permanece!



sábado, 3 de dezembro de 2011

Texto: Os Professores - José Luís Peixoto (Escritor e Poeta português)


OS PROFESSORES

José Luís Peixoto

O mundo não nasceu connosco. Essa ligeira ilusão é mais um sinal da imperfeição que nos cobre os sentidos. Chegámos num dia que não recordamos, mas que celebramos anualmente; depois, pouco a pouco, a neblina foi-se desfazendo nos objectos até que, por fim, conseguimos reconhecer-nos ao espelho. Nessa idade, não sabíamos o suficiente para percebermos que não sabíamos nada. Foi então que chegaram os professores. Traziam todo o conhecimento do mundo que nos antecedeu. Lançaram-se na tarefa de nos actualizar com o presente da nossa espécie e da nossa civilização. Essa tarefa, sabemo-lo hoje, é infinita.

O material que é trabalhado pelos professores não pode ser quantificado. Não há números ou casas decimais com suficiente precisão para medi-lo. A falta de quantificação não é culpa dos assuntos inquantificáveis, é culpa do nosso desejo de quantificar tudo. Os professores não vendem o material que trabalham, oferecem-no. Nós, com o tempo, com os anos, com a distância entre nós e nós, somos levados a acreditar que aquilo que os professores nos deram nos pertenceu desde sempre. Mais do que acharmos que esse material é nosso, achamos que nós próprios somos esse material. Por ironia ou capricho, é nesse momento que o trabalho dos professores se efectiva. O trabalho dos professores é a generosidade.

Basta um esforço mínimo da memória, basta um plim pequenino de gratidão para nos apercebermos do quanto devemos aos professores. Devemos-lhes muito daquilo que somos, devemos-lhes muito de tudo. Há algo de definitivo e eterno nessa missão, nesse verbo que é transmitido de geração em geração, ensinado. Com as suas pastas de professores, os seus blazers, os seus Ford Fiesta com cadeirinha para os filhos no banco de trás, os professores de hoje são iguais de ontem. O acto que praticam é igual ao que foi exercido por outros professores, com outros penteados, que existiram há séculos ou há décadas. O conhecimento que enche as páginas dos manuais aumentou e mudou, mas a essência daquilo que os professores fazem mantém-se. Essência, essa palavra que os professores recordam ciclicamente, essa mesma palavra que tendemos a esquecer.

Um ataque contra os professores é sempre um ataque contra nós próprios, contra o nosso futuro. Resistindo, os professores, pela sua prática, são os guardiões da esperança. Vemo-los a dar forma e sentido à esperança de crianças e de jovens, aceitamos essa evidência, mas falhamos perceber que são também eles que mantêm viva a esperança de que todos necessitamos para existir, para respirar, para estarmos vivos. Ai da sociedade que perdeu a esperança. Quem não tem esperança não está vivo. Mesmo que ainda respire, já morreu.

Envergonhem-se aqueles que dizem ter perdido a esperança. Envergonhem-se aqueles que dizem que não vale a pena lutar. Quando as dificuldades são maiores é quando o esforço para ultrapassá-las deve ser mais intenso. Sabemos que estamos aqui, o sangue atravessa-nos o corpo. Nascemos num dia em que quase nos pareceu ter nascido o mundo inteiro. Temos a graça de uma voz, podemos usá-la para exprimir todo o entendimento do que significa estar aqui, nesta posição. Em anos de aulas teóricas, aulas práticas, no laboratório, no ginásio, em visitas de estudo, sumários escritos no quadro no início da aula, os professores ensinaram-nos que existe vida para lá das certezas rígidas, opacas, que nos queiram apresentar. Se desligarmos a televisão por um instante, chegaremos facilmente à conclusão que, como nas aulas de matemática ou de filosofia, não há problemas que disponham de uma única solução. Da mesma maneira, não há fatalidades que não possam ser questionadas. É ao fazê-lo que se pensa e se encontra soluções.

Recusar a educação é recusar o desenvolvimento.

Se nos conseguirem convencer a desistir de deixar um mundo melhor do que aquele que encontrámos, o erro não será tanto daqueles que forem capazes de nos roubar uma aspiração tão fundamental, o erro primeiro será nosso por termos deixado que nos roubem a capacidade de sonhar, a ambição, metade da humanidade que recebemos dos nossos pais e dos nossos avós. Mas espero que não, acredito que não, não esquecemos a lição que aprendemos e que continuamos a aprender todos os dias com os professores. Tenho esperança.





José Luís Peixoto, in: revista Visão (Outubro, 2011)

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Crônica: A Caixa - Erivelto Reis

A CAIXA


Erivelto Reis



Numa caixa cabem sentimentos que a gente nem lembrava que tinha. Como numa música antiga que a gente cantarolava sem saber sequer de onde é que ela vinha. Uma caixa pode ser de bombom, de boneca, de música, de jóias, torácica, craniana, de leite – como o dente – d’água – como a gente –, de supermercado, econômica, de sapato... tem gente que acha que caixa é lugar de guardar apenas o que ficou no passado.

Entendo que a caixa é o lugar onde você sepulta aquilo que até pode ser ressuscitado. Uma carta de amor, um poema mal escrito e os bem escritos que serão, quem sabe, aproveitados. Um bilhete antigo, escrito por um dileto e distante amigo. Interessante: as coisas que cabem na caixa ocupam na mente e no coração o mesmo lugar que ocupavam antes. Quando antigamente era perto. Não as deixamos guardadas em caixas para não perdê-las. Deixamos para preservá-las. Talvez, até, para afastá-las. Para nos livrar de ser quem somos quando elas não nos deixam esquecê-las.

Uma caixa é um esconderijo e tanto para uma lágrima que escorre; para o sorriso que não espera retribuição; primeira mamadeira do filho, uma mecha de cabelo; lembrança de primeira comunhão; documento oficial; é o porta-retrato ideal pra foto de alguém que faz falta. Uma caixa é um portal, uma ponte... um disfarce. Espelho de se revelar a face. De ocultar remorsos, saudades, detritos e destroços: sonhos-objetos que caem nas caixas, como pedras-perdas que se atiram em poços. Uma caixa pode ser um lago raso mais profundo. Um sair narcísico das profundezas do que restou de nós no mundo.

Caixas são sinônimos de fartura e de prosperidade no Natal. São indicadores econômicos contundentes do aquecimento da produção da indústria nacional. Uma caixa pode vir com um elo, um pedido matrimonial. Com fitas douradas, acetinadas, ornamentadas pacientemente. Segurá-las, recebê-las e embalá-las é o pré-regozijo que antecede a visão do presente.

Uma caixa é uma casa, um sofá, um travesseiro, uma mala, um guarda-roupa, uma cama, uma coberta... se rasgada, se fechada, se aberta, se forrada pra servir de abrigo pra quem dorme embaixo de um viaduto, na sarjeta de qualquer lugar do mundo ou na calçada da Central. Uma caixa, vista assim, não pode ser motivo de orgulho. A fome, o frio e o desatino não aceitam embrulho. Isso não se encaixa (é a moral baixa, e o moral idem de uma cidade, onde ricos e pobres se dividem, se agridem). Esse não pode ser o destino do nosso país. Quem depende de rasgar e de existir na caixa pra sobreviver, não pode ser muito feliz. Caixa, só como objeto, não pode ser casa e brinquedo de nenhum menino, vitrine de manipular. Invólucro do desejo de se anular; recipiente do limite, sinal do obstáculo que não se pode ultrapassar.

Uma caixa pode ser depósito de contas, de contos, de carnês, de notas promissórias. De rascunhos de palavras que deixaram ou que um dia entrarão pra história. Pode conter contracheques, certidões, documentos de toda espécie. Segredos recorrentes que a gente não abandona; ponta do iceberg de mistérios que não podem vir à tona.

Talvez uma caixa seja apenas um símbolo. Signo de um belo presente, de uma lição para o futuro; da saudade do que se passou. Marca de um valor que não está somente no preço do objeto contido, tem valor estimativo que, como diria o poeta Primitivo, acaba tendo “muito valor”.

domingo, 27 de novembro de 2011

Erivelto Reis recebe homenagem da ASBAERJ


O Professor, poeta e escritor Erivelto Reis receberá um Diploma da Ordem do Mérito da Academia Soberana Brasileira de Artes do Estado do Rio de Janeiro por sua atuação nas áreas da Arte, da Educação e da Cultura no Estado do Rio de Janeiro.

A solenidade será:


Data: 29 de novembro de 2011, terça-feira, às 15 horas.

Local: CONFALB / FALARJ (Edifício do I.H.G.B.)

Rua Teixeira de Freitas, nº. 05 / 3º. andar / sala 303 Passeio Público, centro do Rio de Janeiro - RJ.

Saudações acadêmicas, Edinira Silveira

domingo, 20 de novembro de 2011

Prof. Erivelto Reis faz palestra no Centro Universitário Moacyr Sreder Bastos

No último dia 18-11-2011, na Semana de Estudos Literários do Curso de Letras (Português-Literaturas) do Centro Universitário Moacyr Sreder Bastos, convidado pela Coordenadora do Curso, Profª. Drª. Lia Martins, o Prof. Erivelto Reis, da FEUC, proferiu uma palestra sob o título:  A guerra e a Literaura: o alvorecer da arte  no século XX. Acompanhado pelo Prof. Dr. Valmir Miranda, professor da FEUC e da Moacyr Bastos, que falou sobre o movimento surrealista, o professor Erivelto Reis abordou o espetáculo A Sagração da Primavera, as crônicas de Rubem Braga na Segunda Guerra, e o Jornalismo Literário de Truman Capote.

Crônica: Edredom Verde - Erivelto Reis

EDREDOM VERDE
Erivelto Reis

Um amigo afirmou que um edredom verde que ganhara lhe trouxera impressões e visões de uma pessoa recém-morta. Realmente é de preocupar. Não sou supersticioso, mas evito passar embaixo de escada, bem como cair de uma – embora já tenha caído. Evito gato preto, angorá, gato da Light e da CEDAE, quando dá. Sou como boa parte dos brasileiros: acredito que água benta e aguardente podem servir pra cuidar de uma gripe e pra elevar o pensamento pros santos. Pé de coelho e coelho ensopado, tô fora! Espelho descoberto, ficar sem camisa, cortar cabelo, segurar faca, em momento de raios e tempestades, também não rola.

Não sei se meu amigo viu ou não viu o edredom verde se mexendo. Acredito desacreditando e desacredito afirmando que... sei não. Tudo é possível. O edredom verde tem até uma leitura metafórica, em relação àqueles que têm sua última morada no estilo jardim da saudade. A imagem da grama como edredom verde que cobre e conforta sepultados como a aquecê-los do frio eterno, prometendo protegê-los do esquecimento. Haja Paciência!

Não gosto do confinamento da morte. Mas há quem goste. Quem erija monumentos, odes. Há quem a suporte, explique e conforte com religião, metafísica explicação ou com um galão de Jurubeba Leão do Norte.

Antes que eu me esqueça, também não dá pra confundir alma penada, com coisa inventada, visão embaçada de gente estressada, ou sarcasmo de quem não acredita em nada. Isso vale até pra você que, como eu, até bem pouco tempo confundia fantasma com ET. Fantasma é o vulto que a gente pensa que não vê. Enquanto ET é gente do outro mundo que a gente cisma que vê. Como quando um bom poeta declama um lindo poema pra você. Se pintarem de verde, então, não tem como não parecer.

Sei de muita gente que é destemida, que revida. Que bota assombração pra correr. Que acende vela pras almas, que manda rezar novena. Que paga caro no cinema pra ver o espírito aparecer. Sei que há também gente medrosa, apavorada, desesperada. Que não pode nem pensar em horas extremas, últimos dias, momentos derradeiros. Entre uma ponta e outra, entre mortos e feridos, está o resto do mundo inteiro.

Não importa o que a NASA e a Igreja digam. Não gosto que me assustem, que me intimidem, que me pressionem, que me persigam. Se querem mandar uma mensagem, usem a criatividade, dispensem minha mediunidade claudicante, minha visão holística, astrológica, metafísica. Mandem um e-mail, com o assunto: “Importante”. Que não seja campanha, corrente, repassando ou encaminhando. Mandem uma informação autoastraltuitando.

A dor de quem perde alguém não passa com remédio. Nem mesmo sei se tem cura. Perdi minha avó e dois ou três amigos queridos e até hoje não me curei. Sofro até com a dor alheia. Sofrimento sentido assim, de meia, é uma coisa feia. É o latifúndio da dor que distribui lembranças e cruzes, à margem de covas de sete palmos, jazigos perpétuos, gavetões de cimento e gelo. Marca de calendário, dia de desaparecimento, interrupção fatal. Coroa de flores, cheiro de murta. Última lágrima. Tempo que custa a passar.

Não é que falte quem console. Há quem não se deixe consolar. A morte é a morte da morte. Você pode não perceber! Covas, sepulturas, campos santos, cemitérios, jazigos, crematórios e o que mais aparecer. O jardim da saudade é o céu, mas poderia ser o mar. Edredom verde talvez não seja o jardim da saudade. Quem sabe, um jardim de sempre lembrar.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

O Poeta e Cronista Erivelto Reis relançará seu livro na VI JORNADA NACIONAL DE LINGUÍSTICA E FILOLOGIA DA LÍNGUA PORTUGUESA




O Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos tem o prazer de informar  sobre o “LANÇAMENTO DO LIVRO "SOMOS - CRÔNICAS E POESIAS”  na modalidade de Comunicação Oral na VI JORNADA NACIONAL DE LINGUÍSTICA E FILOLOGIA DA LÍNGUA PORTUGUESA, que se realizará nas FACULDADES INTEGRADAS CAMPO-GRANDENSES no dia 05 de novembro de 2011.

domingo, 16 de outubro de 2011

Crônica: A Confraria dos Relojoários - Erivelto Reis

A CONFRARIA DOS RELOJOÁRIOS
Erivelto Reis



A primeira coisa que ganhamos ao nascermos, não é um nome, é um relógio. Um relógio biológico é verdade. Mas é um relógio. Vá lá que ele demore um pouquinho para se adaptar ao espaço extra-uterino e que, à medida que o tempo passe, ele piore gradativamente, pois nem os suíços têm um relógio biológico suíço!
Assim, inauguramos a obsessão humana pela passagem do tempo e assim prosseguiremos até o último segundo. Vejam: não se pergunta simplesmente o nome de um bebê sem que se pergunte quanto tempo ele tem. Depois, só se lembram da data ou nem disso. A data é uma espécie de relógio que parou no tempo e que pelo menos uma vez por ano terá razão. Relógios e tempo são assuntos pontuais na estranha e invisível máquina da condição humana de existir.
Sinceramente, não me surpreende o fascínio que as pessoas têm pelo tempo e pelos relógios. Eu as respeito e espreito. Flávios, Freds, Umbertos, Arildos, Paulos, Primitivos e tantos mais, perdendo ou ganhando tempo diante de vitrines, em balcões de relojoarias e joalherias ou, como eu, nas bancas de camelô, escolhendo, comparando, comprando modelos, sonhos e desejos.
O brilho dos mostradores tal qual o espelho da madrasta no imaginário popular marcado a fogo e sombra, a indagar: “espelho, espelho meu, blá, blá, blá...” – substitua por “tempo, tempo, tempo, blá, blá, blá...”, de Caetano Veloso e parece claro que o relógio é o espelho individual de ver o tempo que passa. De ver o que ganhamos e o que perdemos. É o espelho de nos projetar no tempo futuro, no momento que agendamos para passarmos por lá. Um relógio é uma fatia de bolo que nos lembra de partilhar o tempo. Ou deveria ser, sei lá.
Filósofos, sociólogos, pedagogos, literatos, tecnocratas, operários, professores e artistas sabem do segredo. Não é futilidade, subjetividade tacanha. É a constatação de que não importa a ocupação funcional, o dom celestial, a capacidade laboral ou a formação profissional que o indivíduo tenha, ostente ou conquiste, a verdade é uma só, desde que o mundo existe: há poesia em observar o tempo. E não há capacidade criadora que resista à praticidade de olhar o tempo num “mecanismo de precisão”, num “cebolão”, num símbolo de status e ostentação, numa réplica à perfeição, numa barata imitação.
Pergunte a Santos Dumont, que tirou o homem do chão, mas só aprendeu a voar quando teve o tempo ao seu dispor num dos pulsos. É o impulso criador que move o mundo, como num relógio, a cada segundo.
Relógios de modelos digitais, geniais, clássicos, inovadores, de parede, de corrente, de anel, relógio londrino monumental, relógio cuco, de carrilhão, o relógio público da Central. Relógio de sol, na tela do computador, com ou sem mostrador, relógio com a máquina aparente, com pulseira de aço, de borracha, de napa, de plástico, de couro, de silicone, de ouro. Relógio como eterna opção de presente, para cronometrar o esporte e o momento da derrota ou da vitória. Relógios que vêm com um carro pelo lado de fora.
Consultado para registrar o direito ao salário do operário; para marcar o criativo momento do hábito de nosso ócio crítico e ácido; para assinalar nosso último suspiro na certidão de óbito. Para garantir que a noiva se atrase em qualquer casamento, para pesar nos centésimos de nossos sofrimentos. Para eternizar a hora de nosso nascimento. Para marcar nosso tempo de esperar na fila, para ajudar a supor os motivos de quem nos faz esperar.
A fome é o relógio do corpo, o amor é o relógio da alma (esse, às vezes atrasa ou para de funcionar). O tempo é o relógio da vida. Relógio é obra de arte parada que se mexe. É o livro das horas ganhas e perdidas. É utensílio, é instrumento que mede e pelo qual a sociedade decidiu medir a importância de um homem: quanto menos tempo ele tem para ouvir, ler, conversar e abraçar, mais importante ele parece ser. Será?
A saudade é o relógio do passado, a gaveta é o relógio do guardado. A memória é um relógio escangalhado. A bússola é o relógio do mundo, a biruta é o relógio do vento. O medo é o relógio do silêncio. Um relógio é a bula de um remédio que cura todos os males. É a joia da esperança. É algema que nos prende ao tempo. É um link, um insight, um flashback, um porta-portrait, uma desculpa de pensar no idioma inglês. Quem ainda não teve um relógio, tenha fé que um dia terá.
Convido, sem ser convidado, a que todos ingressem na Confraria dos Relojoários. Uma confraria dedicada e formada por todos aqueles que gostam, que usam, que admiram, que colecionam e que pagam para ver o tempo passar, mas que não o deixam passar impune. E mesmo assim ele passa.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Crônica: É, Pai... - Erivelto Reis

É, PAI...
Erivelto Reis


É bom que meu pai nem saiba o quanto por mim é amado. Senão é capaz de chorar. Não é amor negado. É amor velado. Guardado. É um amor manipulado para não manipular. É Caixa de bibelô. Coisa que se faz de frágil para não fragilizar. É amor verdadeiro. Ou que um dia será.
O amor paterno é um amor profundo. É um amor sagrado. É santo de barro no andor da vida. Copo que não se derruba. Aceno gentil de mão. É minha mais antiga ruga. É a vida dura. A curva da estrada. É perder o medo do escuro. É não ficar inseguro.
É bom que ele nem pense no quanto por mim é amado. Senão é capaz de chorar, é capaz de sofrer. De pedir perdão por coisas que eu não possa perdoar porque não saiba esquecer. É bom que ele não pense. Que apenas sinta. Talvez evite que eu minta.
É bom que ele me inclua e que conte comigo. Que, mais do que pai, queira ser meu amigo. Que seja honesto. Que ame os netos. Para se redimir. Para exemplificar. Para que prove que é sempre possível melhorar.
É bom que ele não leia. Que não me leia. Que ignore meus textos de ar e matéria. Mas que saiba, por portador fidedigno, que é pai de um menino que escreve versos e loas, que é até gente boa. Embora não chegue nem perto da popularidade de seu pai. É bom que não se compare. Que compreenda que a vida é assim. É bom que ele não saiba, mas que dê pistas de que, de vez em quando, pensa em mim.
É bom que ele não saiba do meu orgulho, do meu respeito e que o imito... do meu jeito. Talvez eu não dissesse antes, por sentir menos, por não perceber que sentia. Sentimento não é ciclo de vida. Ciclo de vida é tempo que a gente sente passar enquanto não sente amor.
Mas chega um tempo em que somos sinceros para elogiar e não para fingir. Para pedir desculpas e não para agredir e afastar. Chega um tempo que é tempo de ouvir e de ficar calado. Chega um dia que é feito para abraçar. Escrever homenagens, mensagens, falar de saudades e de remorsos.
Talvez para desejar que o amor entre pais e filhos perdure até o final dos tempos. Até no tutano dos ossos.

sábado, 9 de julho de 2011

Crônica: Resto de Coca-Cola - Erivelto Reis

RESTO DE COCA-COLA

Criança fora da escola. Trabalhador sem salário. Gente pedindo esmola. Exploração no trabalho. Solteirona que persegue. Alcaguete que não negue. É resto de Coca-cola.
Porteiro, irmão do ricaço. Fazer papel de palhaço. Figurante atrás da árvore e sem fala. Barba rala. Pedaço fraco de barbante. Falta de descongestionante. É resto de Coca-cola.
Dor de dente. Visita de parente. Pente quebrado. Operário acidentado. Professor doente. Servir cerveja quente. É resto de Coca-cola.
Braguilha desembestada. Homem, velho ou novo, sem palavra. Foto da identidade. Quem nunca fala a verdade. Nota falsificada. Levar tombo da escada. Gente que não vale nada. É resto de Coca-cola.
Menino que usa droga. Homem que bate em mulher. Noiva que “dá no pé”. Falta de educação. Soberba. Submissão. É resto de Coca-cola.
Falta de pontualidade. Ferir, com sinceridade. Ficar feliz com a maldade. Agredir, entrar “de sola”. Inveja. Injustiça. Impunidade. É resto de Coca-cola.
Humilhar quem quer que seja. Calúnia. Injúria. Penúria. Não dividir a despesa. Malícia. Preguiça. Avareza. Ira. Falta de mira. Luxúria. Marido que trai. Surra do pai. Avó que falta, mãe que maltrata. É resto de Coca-cola.
Poema desperdiçado. Texto mal revisado. Vizinho desaforado. Depender do Estado. Família que só discute. Fotomontagem no Orkut. Aneroxia. Bulimia. Bullying. Vídeoesculacho no Youtube. Perfil falso no Facebook. É resto de Coca-cola.
Atacante, impedido, pedindo bola. Doping. Cabelo na mariola. Disco arranhado na vitrola. Dormir sozinho. Trocar presente. Bueiro que explode gente. Explicação pouco convincente. É resto de Coca-cola.
É coisa que ninguém quer. Que esqueceram. Que abandonaram. Irrefletido, desagradável, inconcebível, Inaceitável. Não é bonito. É agressivo. Que não faz bem. Que jogam fora. Resto de Coca-cola é resto de Coca-cola.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Erivelto Reis e alguns mestres da Literatura brasileira

Erivelto e a Profª., escritora e historiadora Mary Del Priore


Erivelto e a escritora e imortal da Academia Brasileira de Letras Nélida Piñon.




Erivelto e o escritor, ensaísta, crítico e professor Silviano Santiago.






domingo, 29 de maio de 2011

Poema: Chamada - Erivelto Reis

CHAMADA
Erivelto Reis

Os presentes e os faltosos
Os corretos e os enganosos
Os sábios e os exaltados
Os serenos e os malhados
Os discretos e os pirados
Os melhores e os falhados
Os primeiros e os parados
Os honestos e os otários
Os mentirosos e os manipulados
Os fortes e os esforçados
Os fracos e os fracassados
Os doentes e os curados
Os românticos e os lesados
Os obscuros e os iluminados
Os brilhantes e os travados
Os indecisos e os acovardados
Os vencedores e os derrotados
Os obscenos e os moralizados

Os solteiros e os separados

Todos estressados quando
Decidem trocar de lado.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Crônica: Buscar o menino - Erivelto Reis

BUSCAR O MENINO


Erivelto Reis


eriveltoreis@yahoo.com.br



Nada disso. Não dá trabalho, não. Esse aqui é o meu filho. Passa um sábado e um domingo comigo. Fala oi pro tio, Luizinho. Venho buscar o menino a cada duas semanas. Isso é sagrado. Falto ao trabalho, mas não falto à visita. Se não a ex já implica. Antes eu dizia: “ô, mulher, abre aí, que eu vim buscar o moleque!” E ela, descacetada: “Que moleque que nada! Moleque é o filho dos outros, é o filho dos nossos vizinhos”. Conhece esses tipos de gente, que agride com as palavras como quem desse carinho?...


Sabe como é, né? A gente não se acertou. Erro de parte a parte. Briga pra todo lado e, no meio dos nossos pecados, o menino sobrou. Agora, tu mesmo tá vendo, ele tá sorrindo, brincando... Mas na hora que as coisas se passaram, que o bicho tava pegando, com agressão de lado a lado, a gente de cabeça quente e a caninha lubrificando as mensagens da mente; nossa, mas o garoto sofria! A mulher fez trutagem com a sogra selvagem, escondeu o menino, pediu pensão, passou na minha cara com o Valadão, o ex-parceiro de garagem que dirigia o busão.


Pois é, se fosse noutros tempos, me chamavam de “leão”. Sou trocador, porteiro de lotação, cobrador, roleteiro, catraqueiro. Sou um pai, com um filho no colo, inventando uma imagem, uma passagem que não machuque a sua ilusão. Hoje ele fica com os primos, na casa da minha mãe. Amanhã, vai comigo ao maraca, pra ver o meu mengo jogar. Acredita que até vascaíno ela fez o moleque virar?! Mas, não falo mal da mãe dele, quando ele está por perto. Pra não traumatizar o garoto, que isso não é direito, que isso não está certo. É uma questão de princípio, de respeito. Não é como dinheiro que a gente perde e procura porque tá sem. Respeito é um troço capitalista que mais se dá a quem mais tem.


Minha mãezinha é uma santa. Não é mulher de pilantra. Mulher de pegar no pesado, mulher de xepa da feira, mas comida no barraco não faltava, de segunda a segunda-feira. Trabalhava em casa de madame, em casa de emergente, em casa de pobre também, pra não faltar de um tudo pra gente.


Estudo, eu tive pouco, mas aprendi a fazer troco. E sem querer me gabar, na minha profissão eu sou o melhor que há. Pego dobra, mudo a linha. Sou pontual e caxias. Cativo os passageiros, agrado as senhorinhas...


Fica com Deus, amigo, deixa eu me adiantar. Que vida de pobre é assim: a gente não pode parar. Tenho que buscar meu sustento, meu filho e a felicidade. Vou descer no próximo ponto, que é parte do itinerário. De lá, pego mais duas conduções até chegar ao destino. Vou cansado, mas vou contente. Porque a infância, quando é boa, alegra a vida da gente. Por isso, protejo o menino; meu filho, meu ideal. Para que ele cresça feliz, seja um sujeito legal. Que tenha sorte na vida, que estude e que trabalhe. Que saiba que nesse mundo, não importa a profissão, a dignidade é o que vale.


Ô motor, quebra essa, já puxei a campainha! Qualquer hora a gente toma aquela cerva geladinha. Tô indo nessa, companheiro, manda um abraço pro pessoal. Vida estranha essa nossa: a gente não vê o itinerário, não escolhe o nosso destino, mas conhece o ponto final.

Erivelto Reis na Casa França Brasil

15-5-2011

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Prof. Esp. Erivelto Reis fará palestra sobre o gênero Crônica no ICHS da UFRRJ no dia 13-5-2011

Na próxima sexta-feira, 13-5-2011, às 19h no Instituto de Ciências Humanas e Sociais na Faculdade de Letras da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, o professor especialista Erivelto Reis proferirá uma palestra sobre a crônica como gênero jornalístico e literário. Além dos alunos do curso de Letras daquela Instituição, estarão presentes os alunos da Faculdade de Comunicação e convidados da Universidade. Temas como a metaliteratura e autobiografia nas crônicas e a evolução do gênero desde seu surgimento nas páginas dos periódicos nacionais e até sua utilização como recurso didático-pedagógico em sala de aula, farão parte da palestra.

domingo, 8 de maio de 2011

Queridos amigos na XX Semana de Letras - parte 6

Primitivo Paes - abertura do evento

Os mestres e seus ex alunos: Ronaldo e Cinda e os profs. Lia, Mauro e Arlene



Profª Lucy





Prof. Leandro







Queridos amigos na XX Semana de Letras - parte 5

Profª. Norma e Prof. Valmir





Profª. Arlene, Prof. Valmir e Profª. Simone Eschenazzi





Ana Iannibelli (Artista Plástica) e Erivelto Reis







Profª. Claudia Atanazio









Amigos queridos na XX Semana de Letras - parte 4

Primitivo, Júlio Corrêa, Paulo D'Athayde, Erivelto, Marcos Pasche, Alexandre Damascena e Ana Paula

Erivelto e Paulo



Erivelto e Arlene





Erivelto Reis