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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

sábado, 16 de maio de 2015

Marmoraria - Poema de Erivelto Reis

Marmoraria
Erivelto Reis

Como todas as pedras têm função
Alguém quis, sei lá por que razão,
Que os humanos fossem iguais.
Atribuíram funções,
Postos, posições hierárquicas,
Políticas e anárquicas.
Talvez meia dúzia de propósitos.
Organizaram, então,
Com os grãos as pedras,
Com as pedras, as montanhas...
Com a humanidade não organizaram nada.
Ou, decerto, não entendi a sua organização...
Dureza não é o único predicado
Que une pedras e homens.
Os nomes, as classes, os valores,
E o que há em seus interiores...
Foi tudo catalogado, mas ainda não tão bem explicado.
As pedras têm matizes, cores
E pertencem ao reino dos minerais
Os homens têm gêneros,
Quase todos transsentimentais
Uns atiram pedras,
Outros recebem pedradas...
As palavras são pedras
Que se libertam dos homens
Têm valor incalculável,
Ou causam ferimentos letais...
Alguns homens são pedras
Que se tornaram animais.


Poema: A traça - Erivelto Reis

A Traça
Erivelto Reis
A traça tem um troço,
Um treco,
Uma trapaça que atrapalha:
Devora os livros,
Não sabe nada!
Os transforma em buraco,
Fungo, mofo, migalha.
A traça se atraca com a palavra
Que ignora.
Agora,
Há que se dizer, não para.
Não importa o preço!
Por um triz, não a esmigalho,
Amasso e me vingo do mal
Que constato e do qual padeço:
Outro estrago nas obras por
Que tenho apreço.
A traça tenta de novo,
Desta vez, outro livro, –
Seu sustento é sua sina...

Criatura miserável:
Viver entre os livros
E morrer à míngua.


segunda-feira, 4 de maio de 2015

Poema: "Parábolinha" - Erivelto Reis

PARÁBOLINHA
Erivelto Reis
Que dia foi este em que a Educação
Soprou aos teus ouvidos prometendo-te fortuna?
Prometeu-te trabalho,
Mas tu ouviste emprego.
Prometeu-te inquietude,
Mas tu ouviste sossego.
Não pode ser,
Seu ego é cego, surdo à realidade?
Que absurdo:
Educação é condição humana fundamental
Para nossa continuidade: como a água ou o ar.
Mas tu ouviste “status”; tornaste-te Midas,
Que em tudo que toca transforma em ferrugem,
Postergação e queixume...
Que afugenta com fogo do orgulho, que abusa
E se recusa a aceitar o desafio do conhecimento.
Mas topa na hora a empáfia de desafiar
Os de teu próprio exército.
A Educação te abriu os grilhões,
E tu inventaste novas prisões.
A educação te fez livre e tu te tornaste agressivo,
Evasivo, corrosivo e crítico dos que a teu favor trabalham.
Devias aprender para mudar,
Mas simulaste aprender para ostentar o título,
Que proclama coisas que tu mal dizes e mal sabes.
És soldado ileso, sem cicatriz.
És parecença do que é ser aprendiz.
És o porta-estandarte, da arte que desconheces.
Mentes se diz “mestre”; tremes se ouves “prove”.
Assuma teu posto, mude, tire a prova dos nove.
Arrepende-te!
A Educação é o novo evangelho a que te convertes.
Construa-te!
Não envenenes a água que tu mesmo bebes.