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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

terça-feira, 10 de setembro de 2024

Poema: "Sermão do afastamento do ser violento", de Erivelto Reis

 Sermão do afastamento dos violentos

Erivelto Reis
São três os desejos do ser violento:
Poder,
Silenciamento,
Exclusividade.
Usados como degraus
Para uma ascensão
Que o distinga,
Que o proteja até a blindagem,
Que o destaque, impedindo-o
De regressar para o espaço
De onde não deveria ter saído.
É seu habitual prazer
O manejar do poder para o silenciamento
De contrários e contraditórios.
Eis um dos mandamentos
Da bíblia perversa dos violentos.
Evidentemente, há violências
Praticadas por todo tipo de gente.
Dos omissos aos coniventes,
Que chamam os que se rebelam
Contra os violentos
De inconvenientes.
Mas as violências praticadas
Pelos que têm como credo
Essa tríade:
(Poder, silenciamento e exclusividade),
São ostensivamente
Utilizadas para aferir
Sucessos efêmeros,
Nos quais o ser violento
Pretende uma simbiose,
Fundindo-se com o cargo
Que ocupa.
Assim, tenta esconder o recalque,
A frustração e a insegurança
Que, secretamente,o consomem.
Dele, dir-se-ia incapaz
De cometer o mal.
Eu refuto:
Incapaz talvez do mal sem álibi forjado,
Incapaz talvez do mal
Sem atribuir culpa
A quem quer que seja,
Incapaz do mal
Sem ser incapaz do bem
Por desinteresse.
O violento lê o jornal
Por sobre o seu ombro
E passaria por sobre o seu cadáver
E forçaria a sua depressão, Burnout,
Até que você se sentisse
O primeiro dos impostores,
A última das criaturas,
Ou se atirasse do alto da ponte.
Contamina seu fim de semana
Com o medo e a incerteza...
E a sua semana
Com o assédio e a opressão
Dissimulados e administrados
Em doses cada vez maiores e letais.
Dele, a eficiência se declama
Com números rearrumados.
E se o olharmos atentamente,
Veremos que crê na pantomima
De sua qualificação, no mamulengo
De suas habilidades.
Seu bom dia é rançoso.
Seu hálito enjoa.
Máquina sem engrenagem
Oco, tosco, fosco.
Opaco vulto,
Mágoa em pessoa.