(Over) dose
Erivelto Reis
Bastou tomar dois uísques,
Que as palavras jorraram de mim,
Como cachaça de alambiques.
Bastou tomar duas doses,
Pra confundir os sons,
Pra ouvir vozes,
Pra suspeitar dos maçons,
Pra ficar amigo dos garçons.
Para emergirem antigas dores atrozes.
Pra rabiscar os livros,
Pra suspeitar dos vivos,
Desenterrar velhas fotos,
Recordar os mortos,
Cantarolar tristes músicas,
Apegar-se a minúcias,
Embotar as núpcias…
Bastou beber dois goles,
Pra igualar-se a um trapo,
Rabiscar guardanapo,
Pra perder a bic,
Pra dar chilique,
Pra ficar com inveja,
De quem se diz chique.
Bastou tomar dois uísques,
Pra ler Leminski,
Pra ouvir Wisnik.
Pra misturar os contos de Clarice,
Pra cometer tolices.
Olhei as linhas tortas,
Das palmas das mãos trêmulas,
Qual duas flâmulas,
Qual dois emblemas…
As vias da vida se atiravam
Para todas as direções!
Iam, inicialmente, para longe…
Depois, pra bem perto:
A um Lugar onde, lentamente,
Estão morrendo os sonhos.
Bastou tomar dois uísques…
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