Escravo em Babilônia
Erivelto Reis
Pra Cícero,
doador ambulante de Poesia...
Escravo é um homem sem tempo,
Quando os que compram seu tempo
Não pagam por tudo o que ele significa.
Escravo é um homem endividado, evadido,
Inviável, que não tenha qualquer coisa de invejável.
Que paga com a vida
Por um sono que jamais será tranquilo.
Escravo é uma mãe aflita
Porque seu filho ou sua filha,
Ou qualquer um de sua família,
Até ela mesma –
Não têm certeza
De um feliz retorno à própria casa.
Escravo é um homem
Sem vaidade, em estágio constante de vertigem,
Por pedra, tropeço, droga ou paixão
Que cesse ou que aplaque
A ilusão de liberdade que simule.
Escravo tem sempre a mão estendida,
Presa por grilhões de afago,
Reconhecimento, poder ou apoio.
Que se dê a guisa de esperança.
Escravo é nascer e nunca ser criança...
É amar e não produzir lembrança,
É existir apenas de aparência,
É ser objeto abjeto de uma desciência.
Não olhe pra mim com esses olhos:
Há algo neles que não me liberta,
Há um lago neles que me aprisiona.
Há um logo neles que me dá vergonha...
Escravo é todo aquele a quem
Tentam impedir de amar e ama.
Que impedem de sonhar
E sonha...
Escravo é o
poeta nos lapsos da escrita,
Nos arredores de tudo quanto chamam vida.
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