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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

sábado, 23 de novembro de 2024

Poema: "Boletim de ocorrência", de Erivelto Reis

 Boletim de ocorrência

Erivelto Reis
À noite, quando apagaram as luzes,
Cercaram o amor na praça!
Bateram muito nele,
Fizeram a maior arruaça.
Prepararam uma armadilha,
Uma intriga, um "cala a boca".
Ficaram de campana, de tocaia...
Então sobreveio a emboscada.
Ele tinha saído de casa
Para respirar um pouco,
Na constante busca
Por um ar mais puro!
(Poderia haver um amor intenso e rarefeito ao mesmo tempo?)
Pensar nisso agora talvez
Não seja justo...
O amor andava cabisbaixo,
Deprimido, sem vibração...
Já viram amor chateado?
É de partir o coração.
Já viram amor silenciado?
Não é bom nem tocar no assunto...
À noite, quando ninguém olhava,
Espancaram o amor.
Fizeram na maldade,
Fizeram de pirraça!
Atraíram ele com falsa promessa
Com uma fala falsa, mansa...
Com um cheiro de pipoca doce
Ou de Alfazema e Toque-de-amor.
Magoaram um amor destruído,
Cansado e distraído.
Daí se pode intuir
O tamanho do trabalho
Que não tiveram.
A covardia do rancor sincero!
Avançaram nele para maltratar,
Para machucar, para fragilizar.
Não pediram nada, não levaram nada,
Perguntaram apenas
Porque ainda era amor
Mesmo não sendo coisa alguma?
E se o amor, que tudo suporta,
Quando já não aguenta mais
Continua sendo amor?
(A fúria retórica da filosofia
Com o capuz dos axiomas
Cobrindo o rosto)...
Aturdido, o amor ainda viu
Os agressores fugirem...
Mas o próprio amor, sem amor próprio,
Não seria capaz de reconhecê-los,
Ou de tornar a pronunciar seus nomes.
Mesmo assim,
A queixa ficou registrada.
Atacaram o amor na esquina, na rua,
Na praça, na beira da estrada.
Ele foi de "arrasta-pra-cima"!
Os transeuntes alegaram
Que não viram ou ouviram nada.
Como sempre, todo dia...
Atacaram o amor na praça.

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