No sense
Erivelto Reis
Não é nem ao menos o medo de morrer...
É medo de não ter o que dizer,
Se eu tiver que justificar
O momento que atalhei,
Que me perdi
Ou o quanto demorei pra
Retomar o caminho.
É um medo da falta que vou fazer
Pra gente que eu nem sabia
Que ia sentir minha falta...
E o medo de não fazer falta alguma
Pra gente que tinha um apê, um airbnb, bem aqui
No lugar que parou de bater.
É medo de ser numa sexta,
É medo de ser na data de um aniversário,
No dia de uma formatura,
No dia de alguém importante
Para um grupo social mais relevante.
Não é medo de morrer propriamente,
É medo de não poder mais cuidar do quintal,
É medo do outro espaço
Ser um deserto espiritual,
Ou um oásis para o qual
Eu não tenha passe vip ou preferencial.
Ou pior:
Ser um céu inalcansável,
Um não-céu no sense,
Um areal de escombros,
Um lodaçal de pessimismos,
Cheio de pensamentos intrusivos,
Remorsos terrenos...
E de coisas que continuem me fazendo mal.
Não é medo de morrer exatamente
É medo do extrato com saldo negativo
De uma vida inexpressiva e banal!
Uma desvida caricatural...
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