“OLHEIRO?”
Erivelto
Reis
–
Moço, você é olheiro?
–
Como é?
–
Olheiro?!
–
Não! Estou só olhando!
–
E o que você está olhando?
–
Os garotos jogando futebol.
–
Ah… Então você é olheiro!
– Não, sou
apenas pai de um dos garotos.
–
“Pai”?! Como assim?
–
Ué, você sabe o que é um olheiro e não sabe o que é um pai?!
–
É!
– Não entendo!
– “Olheiro” eu
já vi. “Pai”ainda não…
– Você nunca viu
um pai?
– Na televisão
eu sei que tem. Eu já vi passar.
– Você não tem
pai?
– Eu não.
– E não sente
falta?
– Sim, mas se o
olheiro me descobre, eu fico muito rico e aí o meu pai me acha.
– Pai ao vivo, você nunca viu?
- – Já vi, também, mas estes batem na gente.
– Como assim?
– Pai de mentira, que agarra a mãe…
– O quê?
– Que cheira à pinga e bate de cinto…
– Sinto muito.
– É… É cinto mesmo.
– Me calo, me
despeço e fico pensando…
Às vezes, talvez me sinta um
olheiro. Observo os alunos e já os enxergo brilhando nos gramados da sua
profissão. Penso no sonho da vida confundido e ligado à bola, ao campo ou à
educação. À fortuna, à fama, por um talento provável, óbvio, previsível,
existente ou não, que pode jamais ser descoberto.
As revelações da vida surgem como o medo que não se vende em feira, com
as coisas da infância trazidas de longe, da memória ou da história vivida de perto.
Algumas revelações eu percebo, outras não entendo, finjo que enxergo, olho e me
arrependo. Eu, olheiro? Como pode ser? Eu não entendo quase nada. Mas Deus tá
vendo…
Caro mestre Erivelto.
ResponderExcluirPassei só para "olhar" seu belo trabalho.
Um grande abraço do seu Aluno Roberto Lincoln.
Perfeito! Excelente, mestre!
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