Eis um lindo presente de Natal que recebi.
Um Mestre em cena: o segredo da liberdade.
Helton Tinoco
Para Erivelto Reis
Ao entrar no palco ele muda o seu estado.
Sai do cotidiano, do neutro, da cegueira diurna.
Muda a postura, crispa os cabelos, levanta a sobrancelha esquerda.
É prazer, é risco, é o inesperado. Caminha entre carteiras, vozes e sons.
A platéia atenta! O silêncio e a passividade o assustam e irritam.
Ele pensa: _Preciso tocar os corações!
O cenário é ainda um quadro negro, murais e trabalhos pendurados formando um cubismo infantil de sonhos, esperanças e referências.
O texto é decorado num planejamento, pensado, calculado. É tempo, é espaço, são procedimentos e recursos.
A sua voz ecoa tão profundamente necessária e traz clareza.
Tudo respeitando a diversidade dos sentidos, mas qual é o sentido?
Na platéia: aqueles que não têm luz! Será?
Uma platéia não pode ser passiva, não pode ser triste, nem alegre demais, ele diz.
Uma platéia deve ser atenta! E cada respiração, cada gesto, nada deve ser em vão.
Tudo pensado, calculado, ensaiado, no entanto, pronto para o improviso. Preparado para o risco!
O único presente possível é a presença. Viva, instigante, revolucionária. Fazedora de pensar e que destrói lentamente antigas crenças, reinventa amores, recriando a nossa humanidade entre quatro paredes.
A aula é uma cena que transcende aparências. É perder a vergonha! É ganhar na troca. É alegria e prazer, mas também, dores e rompimentos. Tudo sem amanhã e sem passado. É estar à beira do abismo e lançar-se sem certezas, com o coração cheio do dever de arriscar-se.
Ele, o Mestre, ao mesmo tempo é ator, clown e mágico. É um tipo de gente que se expõe, convida e acolhe.
Sobretudo, sem esquecer que o grande motivo de se estar ali é promover algo que brota ali, somente ali.
É o segredo da liberdade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário