Dos cemitérios verticais
Erivelto Reis
Quando você passar na rua,
(Em qualquer rua)
Não há mais uma escola pública...
Há um prédio público
Com uma gestão privada no meio.
Desde a merenda, à sala de leitura,
Passando pelos equipamentos,
Pelos livros didáticos, até a hora do recreio...
O que se come, o que se veste
Como são tratados
Os funcionários públicos
Ali lotados, sobreviventes...
Os terceirizados aterrorizados
Com os descontos no contracheque
Com a ausência de garantias trabalhistas
E o volume de trabalho crescente.
Os estatutários, desconfiados,
Tentando entender a repentina
Mudança de humor e de postura ética
Dos ex-colegas que viraram títeres-gestores
Mas que agem e se comportam
Com a desfaçatez autoritária dos donos e dos chefes.
Na escola pública, por enquanto,
Apenas o prédio, conteiner, depósito
É público de fato.
Já vimos esse filme com o petróleo,
com a energia, com as estradas,
com os aeroportos... até com a água...
Depois, em muito pouco tempo,
Não nos pertencerão nem os prédios,
Não sobrarão nem servidores públicos,
Nem isso mais ao menos...
Quem passar na rua
E olhar pra escola, pro colégio público
Vai estar vendo só o prédio
Verá um biscoito sem recheio,
Um automóvel sem estepe,
Um cemitério de soberanias,
Um esquife de cimento e esquecimento...
Um prédio público
Com a escola pública sendo privatizada,
Desmantelada...
Com sua função social e democrática
Sendo sepultada por dentro...

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