SOBRE SENTIDO E SILÊNCIO
Erivelto Reis
Sou feliz por ser pai
De um filho que, infelizmente,
Vez em quando, me parece triste.
Que vive enlutado de um evadir-se de si,
Que tanto machuca e persiste.
Silêncio de sentido é o abismo que se lança,
No adulto e na criança,
Entre tudo o que se pensa,
E aquilo que de fato existe.
Não sei se posso protegê-lo.
Não sei se sei do que não sei como pai.
Sei que tenho um amor que produz
Orgulho e um grande medo de não compreendê-lo.
Um medo de perdê-lo por entre os desatalhos
Dos cascalhos da linguagem,
Que ferem, confundem e denigrem
Minha austera, paterna, patética
E (im) própria imagem...
Gerando dor, dissabor e estresse.
Talvez eu nem soubesse do poder, se o tivesse.
Nossa conversa é um rito gasto de gestos sem palavras,
Com quase poucas palavras...
E olhares que se desencontram, que desatinam,
E que fazem com que nossa alma desconverse.
Isso é tão difícil pra nós,
Mas é quase sempre isso que acontece.
Às vezes, acho que ele não confia em mim,
Mas sei que confiaria se pudesse.
O vejo andando, progredindo, só que em círculos,
Em espirais de aprendizado e teste;
Inseguro sobre o chão de informações,
Que brincam de roda com as suas emoções.
Tudo é novo, mesmo na centésima vez que aparece
Tudo é estranhamente diferente e repetido
Perto, longe, distante, parecido.
No que eu vivo, no que vejo, no que penso.
Sou tão igual ao meu filho:
Que, às vezes, nem me conheço.
Ora emociono e não explico,
Ora explico e não convenço.
Por sensações e recomeço,
Vejo-me repleto e contrito
Por tudo o que, a ele, sobre de silêncio...
Por tudo o que, a mim, me falte em sentido.
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