Educação 3.0
Erivelto Reis
Os estados
têm diminuído ano a ano a carga horária para disciplinas como Língua
Portuguesa, Redação, Produção Textual ou qualquer outro nome que se dê ao
processo de apropriação e desenvolvimento da escrita pelos estudantes na
educação pública.
Eliminaram por
decreto a nomenclatura Literatura do quadro de horários de
suas escolas. Mitigaram até transformar o ensino de Literatura em um apêndice
de outra disciplina do campo de linguagens, fragilizando e precarizando os
professores formados e habilitados em Português/Literaturas, ao ponto de considerar-se
para contratação e/ou concursos apenas Licenciatura em Português
e, depois, os números aferidos no país em processos avaliativos como o ENEM
confirmam a dificuldade da grande massa de estudantes oriundos da escola
pública em escrever e interpretar textos.
Enquanto
isso, as secretarias de educação aqui e ali publicam posts com casos esparsos
de alunos e alunas que, apesar de todo o sistema que corrobora para a diluição
e o esfacelamento do interesse dos alunos e alunas por uma articulação,
mediação e diálogo em torno e a partir da literatura e dos estudos literários
como ciência e arte em favor da educação, conseguiram uma boa nota no ENEM.
Estes são a exceção e não a regra. Porque, apesar do grande potencial de nossos
estudantes no ensino público, o sistema é feito para não permitir o acesso. Por
tudo que sabemos: superlotação em sala, desvalorização do docente, condições
socioeconômicas da comunidade escolar e de seu entorno que não favorecem aos
alunos e suas famílias, décadas de políticas de governo equivocadas, ausência
de acesso a outros serviços básicos que a escola não tem condições de suprir...
Isso tudo sem
falar do processo de relativização da importância de outras disciplinas em
outras áreas do saber e, por consequência, dos profissionais com licenciaturas
e formação nessas áreas. E, a depender do que tem sido feito como política de
valorização - na verdade, políticas de capitalização do processo de formação
docente e discente - o cenário tende a piorar e se tornar ainda mais precário,
sobretudo quando considerarmos os espaços de interação interpessoal, mediada
por médias numéricas e frequências que permitiriam acesso aos valores
monetários oferecidos por essa educação capitalizada.
Há mal estar
docente, adoecimento, precarização e responsabilização social do professor em decorrência
de políticas equivocadas, gerenciamento burocratizado e macro de redes de
ensino em detrimento da transformação real da educação; o achatamento dos
salários dos profissionais da educação e a virtualização da aplicabilidade dos
conhecimentos e da formação dos docentes acentuam e sinalizam para um futuro
não muito promissor em relação à educação como política de governo e como
profissão em nosso país.
As grandes
corporações, os conglomerados de investidores amam a possibilidade de
capitalização per capta da educação no nível que se pretende e que se desenha. É
mais um passo para tornar atrativa, rentável, segura, segmentada, controlada a
privatização do ensino público. Ver para crer é diferente de pagar para ver. É
o último passo antes de privatizar. Para apagar o apagão, apagarão a ideia de
soberania e transformação através da educação, transformando-a numa sequência
de negócios num balcão.
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