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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

Crônica: "Educação 3.0", de Erivelto Reis

Educação 3.0

Erivelto Reis

Os estados têm diminuído ano a ano a carga horária para disciplinas como Língua Portuguesa, Redação, Produção Textual ou qualquer outro nome que se dê ao processo de apropriação e desenvolvimento da escrita pelos estudantes na educação pública.

Eliminaram por decreto a nomenclatura Literatura do quadro de horários de suas escolas. Mitigaram até transformar o ensino de Literatura em um apêndice de outra disciplina do campo de linguagens, fragilizando e precarizando os professores formados e habilitados em Português/Literaturas, ao ponto de considerar-se para contratação e/ou concursos apenas Licenciatura em Português e, depois, os números aferidos no país em processos avaliativos como o ENEM confirmam a dificuldade da grande massa de estudantes oriundos da escola pública em escrever e interpretar textos.

Enquanto isso, as secretarias de educação aqui e ali publicam posts com casos esparsos de alunos e alunas que, apesar de todo o sistema que corrobora para a diluição e o esfacelamento do interesse dos alunos e alunas por uma articulação, mediação e diálogo em torno e a partir da literatura e dos estudos literários como ciência e arte em favor da educação, conseguiram uma boa nota no ENEM. Estes são a exceção e não a regra. Porque, apesar do grande potencial de nossos estudantes no ensino público, o sistema é feito para não permitir o acesso. Por tudo que sabemos: superlotação em sala, desvalorização do docente, condições socioeconômicas da comunidade escolar e de seu entorno que não favorecem aos alunos e suas famílias, décadas de políticas de governo equivocadas, ausência de acesso a outros serviços básicos que a escola não tem condições de suprir...

Isso tudo sem falar do processo de relativização da importância de outras disciplinas em outras áreas do saber e, por consequência, dos profissionais com licenciaturas e formação nessas áreas. E, a depender do que tem sido feito como política de valorização - na verdade, políticas de capitalização do processo de formação docente e discente - o cenário tende a piorar e se tornar ainda mais precário, sobretudo quando considerarmos os espaços de interação interpessoal, mediada por médias numéricas e frequências que permitiriam acesso aos valores monetários oferecidos por essa educação capitalizada.

Há mal estar docente, adoecimento, precarização e responsabilização social do professor em decorrência de políticas equivocadas, gerenciamento burocratizado e macro de redes de ensino em detrimento da transformação real da educação; o achatamento dos salários dos profissionais da educação e a virtualização da aplicabilidade dos conhecimentos e da formação dos docentes acentuam e sinalizam para um futuro não muito promissor em relação à educação como política de governo e como profissão em nosso país.

As grandes corporações, os conglomerados de investidores amam a possibilidade de capitalização per capta da educação no nível que se pretende e que se desenha. É mais um passo para tornar atrativa, rentável, segura, segmentada, controlada a privatização do ensino público. Ver para crer é diferente de pagar para ver. É o último passo antes de privatizar. Para apagar o apagão, apagarão a ideia de soberania e transformação através da educação, transformando-a numa sequência de negócios num balcão.

 

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