Pátria
Erivelto Reis
Não sou nem fui
Nem sombra do pai que tenho,
Que tive…
Que deteve o meu amor, que eu jamais detive.
Queria dizer isso se pudesse,
Se o tempo voltasse…
Não sou nem em sonho,
Mas o vejo em sonho
(Nas fantasias de abraço e reencontro).
Não chego nem aos pés,
Mas o vento, se não varreu o convés,
Distanciou os portos,
Com ondas de remorsos
De quem viu o trago da cana
No altar do banquinho,
Esperando – símbolo da conversa adiada –
Que era pra dizer tudo,
Mas que não pôde dizer nada.
Há certo tipo de dor que é
Feita pra se carregar sozinho.
Não sou nem de perto, nem de longe
Melhor do que o meu pai, meu sogro,
Meu paipoeta e gente que sabe sempre
O que fazer na hora certa.
Sou apenas um pai orgulhoso,
Sou apenas um pai zeloso…
O que escrevo na orla da noite do dia
Declaro não querer ser poesia,
Declaro ser homenagem, saudade:
– A saudade é sempre urgente! –
(É isso que tenho sentido),
E pesa mais
Que carregar centenas de sacas de arroz!
Pra só depois abraçar o primogênito
Recém-nascido.
Não sou…
Mas sei reconhecer quem é, quem foi.
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