Protesto
Erivelto Reis
Quando foi que as asas das
xícaras ficaram mais úteis que as da imaginação?
A resposta está nos
gabinetes,
Por detrás das portas de
vidro transparentes,
De pessoas não tão
transparentes.
Está nos lares, nas
rampas, nos corredores das alamedas,
Nas pautas, pecs, no caixa
eletrônico vomitando silêncio e indiferença,
No telefonema de cobrança,
na ordem de despejo, de busca e apreensão,
Na atitude da ameaça e da
mordaça.
Ser professor no meu país
é uma aventura, é uma guerra,
É uma perpétua afronta aos
poderosos,
Que querem o melhor para
os próprios filhos e descendentes,
Mas não o mesmo para o
povo, para a gente.
Não sei escrever – sabendo
– mas não podendo,
Algo mais lúdico nesse instante
em que todas as portas se fecham,
Sob o véu de uma liberdade
sequestrada.
Aprendemos cada vez mais tudo
sobre nada.
Esquecemo-nos de coisas para
as quais a Literatura alertara,
Que a História registrou e
que esperávamos que fossem
Partes de uma página
virada.
Ser professor no antigo
melhor País do mundo
É tão mais sofrido do que
sê-lo nos países do novo Velho Continente.
Ser professor é quase ser
exótico,
Diferente por querer e por
trabalhar pra construir o bem comum.
Os que traíram a nossa
classe,
Sem classe e
constrangimento algum,
Comemoram e usam a
retórica
Enquanto (ainda) não podem
prender-nos
E torturar-nos por
querermos existir com brio e dignidade.
Os que perderão o futuro que
poderiam ter
E os sonhos que
construiriam a cada dia – não sabem que perderam,
Nem são capazes de chorar.
A indignação e alienação
Tantas vezes nos paralisa a
libido de viver e reagir.
Ser professor num país de
democracia líquida,
É sólido, lapidar e
permanentemente transitório!
Você é professor?
E faz o quê pra viver?!
Você que governa e legisla
e julga e permite esse abuso
Faz o quê pra viver com
isso?!
As asas das xícaras se
tornaram
Mais úteis que as da
imaginação...
O mundo pode até melhorar,
Mas no momento
Não há qualquer previsão.
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