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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

segunda-feira, 6 de abril de 2020

Poema: "Necropsia", de Erivelto Reis

Necropsia
Erivelto Reis
O mais difícil parece ter sido o primeiro golpe.
Os demais atos, dentro do golpe,
e subsequentemente a ele,
precisaram somente de acertos internos,
da condescendência de parte da imprensa,
da anuência de certos religiosos,
da paixão pela ignorância
e do ódio sem explicação
a um alguém ou algum grupo
que nunca lhes fizera mal.
Esquecer-se dos próprios erros
e ocultar as próprias falhas
também foram responsáveis pela letargia.
A pandemia
(quando se instalou, pouco operou
sobre o que já havia de estrago)
apenas realçou o quadro.
Agora e outrora podem ser épocas
propícias para se queimar arquivos
Ninguém é prova viva do golpe,
metafórica e circunstancialmente,
por muito tempo.
Jazer é verbo predominante
em tempos nada fascinantes.
Vai ser difícil explicar aos filhos
o ódio contra os mais pobres e desconhecidos.
Causa mortis ainda em vida:
a estupidez decrépita de uma memória sem honra.

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