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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

terça-feira, 7 de abril de 2020

Sobre pandemia e EaD, por Erivelto Reis


Nessa fase difícil por que estamos passando como sociedade considero importante que o governo esteja atuando para o bem estar da população. Não sei se o EaD seria a melhor solução para a educação no contexto social que temos no Estado do Rio de Janeiro. Nós já vínhamos de um processo de fechamento (otimização) de turmas, redução de carga horária de disciplinas essenciais como matemática e língua portuguesa (literatura sequer figura com nome oficial na grade), nossos alunos e alunas vêm de formação em escolas de municípios com condições de estrutura e gestões muitas vezes calamitosas, o valor pago aos profissionais da educação não tem reajuste há bastante tempo, além de não serem historicamente valorizados, em relação, por exemplo, a profissionais do judiciário.
Tivemos um dos maiores escândalos de corrupção ativa e passiva envolvendo um chefe do governo. Tudo isso pra chamar a atenção para um padrão de subvalorização e uso político da pasta sem levar em consideração pedagogos, professores, estudos etc. A EaD, infelizmente, vai se tornar um fardo para boa parte dos alunos seja por falta de recursos, seja por estrutura para realizar os estudos, seja por disciplina inexistente mesmo no curso presencial para realizar as leituras e tarefas, seja por falta de recursos formativos anteriores e pela percepção política intrínseca - talvez não racional e consciente -, de que numa situação como essa, dificilmente poderá haver reprovação; seja pelo medo real que as pessoas estão enfrentando nessa situação de pandemia.
Há, de fato, muitos alunos e alunas interessados e interessadas nesse processo, familiares preocupados, sobretudo, no terceiro ano do ensino médio, no entanto, os custos estão sendo repassados e divididos entre gestores e educadores. Não há realmente um plano EaD para a Educação, há uma transferência em massa de responsabilidades de gestão e articulação. Não se discutiu efetivamente com a classe, não se criou um projeto - uma pretensa live de conteúdos numa sala do google ou do facebook ou de qualquer outra plataforma - só com boa vontade pode ser chamada de aula para o público de que estamos tratando.
Mesmo em relação aos professores e professoras - há muitos colegas que pouco dominam ou conhecem de ferramentas de interação virtual, e, se formos considerar, o veículo de interação não é a aula e, sabemos, há dezenas de metodologias interseccionadas a cada interação virtual, mesmo num curso como esse, ministrado de profissionais para profissionais. Supor que às pressas, sem discussão real, em tempo mínimo, sob forte apreensão social, possa se construir uma rede EaD, é uma pretensão que atende - pode vir a atender -, a uma parcela mínima do alunado e a uma lacuna gigante de atuação política.
Considero o secretário de educação do Estado bastante bem intencionado e carismático, capaz de angariar fortíssimo e importante capital político, mas sem discutir e executar a evolução salarial do funcionalismo da educação, sem resgatar a rede FAETEC para a secretaria de Educação do Estado e valorizá-la devidamente, a EaD em tempos de coronavírus é apenas mais uma ação paliativa. O atual gestor deve raciocinar e devolver os tempos suprimidos do ensino das disciplinas como Português e Matemática, valorizar áreas como arte, filosofia, história, geografia e ciências sociais, descentralizar o poder das metro sobre a gestão direta das escolas, ou reorganizar as metros, criando áreas de cobertura menores (nem se gasta dinheiro pra uma ação como essa), e estimular a que as pessoas confiem na escola e não apenas no secretário e seus assessores. Tem muita coisa pra ser feita, pouco tempo, um cenário em que as famílias estão passando dificuldades e medo grave e real de morrer em consequência da pandemia.
Um sistema cultural, artístico, (Cinema, música, documentários, animações, shows, palestras de formação com adesão por área de interesse) mediado pelos profissionais da escola (circulando no google, facebook, youtube) me pareceria mais efetivo nessa circunstância. Não estou pessimista, embora o discurso possa direcionar para uma compreensão dos argumentos, o contexto e determinadas práticas de gestão é que me parecem apontar para um caminho equivocado. E que fique claro, sem valorizar efetivamente os profissionais da educação, mesmo o presencial ainda será um paliativo. Não desejo confrontar a nenhum/a dos/as colegas cursistas nem seus mediadores. Fiz apenas colocações que são para mim inquietantes e que não pretendem fazer de mim um dono da verdade, ou velho do restelo camoniano. São inquietações apenas. Grande abraço.

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