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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

segunda-feira, 27 de abril de 2020

Texto: "Expedição", de Erivelto Reis

            É preciso uma expedição ao âmago do retrato revelado de Dorian Gray em que o país se viu transformado. Não há gado, não há pasto. Há zumbis e robôs. Comandados por criminosos sem consciência, hostis em seus propósitos.
Há um sequestro permanente de uma democracia agonizante. Uma massificada teia de palavras de ordem, vazias de sentido e realidade já ao serem proferidas, mas que têm sustentado e mobilizado um ódio ao que não existe, direcionado contra os que pedem calma e reflexão, aos desvalidos, aos funcionários públicos, à Universidade e à escola.
            Os que têm desprezo aos mais pobres, os que não conseguiram, não quiseram ou não puderam ser abraçados pelos breves e já saudosos tempos da mudança sustentam um déspota genocida no poder. Legislativo e judiciário parecem pairar indiferentes ao lodaçal do executivo.
            A pandemia agrava o isolamento de ideias. Não há uma contra-ofensiva em marcha e não parece possível que haja responsabilização à altura dos crimes perversos cometidos. Nem antes, nem agora. Nossas reservas de tudo estão sendo torradas dia e noite, as pessoas morrem à míngua, as mínimas condições trabalhistas nos foram arrancadas.
            Como as pessoas não entendem que não se combate corrupção retirando direitos dos trabalhadores? Que se os bancos continuam lucrando, mesmo na crise, é porque os sistemas ainda se apropriam das brechas de corrupção do Estado e de seus gestores e legisladores?! Denunciam um professor (colegas, inclusive, o fazem), sem recursos, com os próprios parcos recursos por uma live/ead na quarentena, mas a voz some na hora em que se deveria protestar contra a política de opressão e exploração.
            Mesmo aqueles e aquelas que pretensamente se oponham ao governo fascista, a ele se aliam ao emular suas práticas, em conluios com patrões inescrupulosos, contra trabalhadores e trabalhadoras, vendendo um produto que não entregam ou entregam danificado. Capos. Capatazes e capitães-do-mato.
            Mesas partidas, famílias divididas. Gente de bem exalando uma monstruosa sede de vingança por algo que sequer existe ou contra o desejo individual que alguém expresse de existir para além de convenções burguesas. Fala-se contra a violência com violência contra os que sempre foram oprimidos.
       Contra a ciência em nome de um deus mínimo, limitado e particular. Um deus domesticado pela mesquinhez e pela frustração dos que o aprisionaram nos labirintos de seus discursos. É sábado, 25 de abril. São 5 ou 6 semanas de confinamento. Lá fora não há cura nem governo. Aqui dentro é outono, mas parece inverno.

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