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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

terça-feira, 14 de abril de 2020

Texto: "Sobre a EaD que o Estado do Rio de Janeiro propõe", por Erivelto Reis

Sobre a EaD que o Estado do Rio de Janeiro Propõe
Erivelto Reis

EaD não é live nem é chat. Quem não entende de educação não devia administrar nem gerir educação. Governo do Rio e Seeduc não podem ver uma vergonha que já querem passar. 
Vai dar livro aos professores? "Que tal colocar todo mundo num galpão e numa fila sem a menor condição?" Vai ter que dar aula EaD durante a pandemia? "Por que não colocar o professor pendurado no próprio computador, na própria internet, gastando a própria energia elétrica?" 
E se o aluno não puder estar on line na hora da aula ? E se precisar de tempo para estudar os materiais sem a presença do professor? Ao invés de agir com inteligência, com sensibilidade e com tranquilidade, o governo, seus metropolitanos e assessores de plantão farão com que as pessoas se desarticulem e se frustrem. E o que poderia ser uma oportunidade de construção de uma metodologia de aprimoramento e de interação vira uma massada burocrática e sem eficácia. 
Não sei quem pensa ou sugere essas ações ao secretário? Se for ele mesmo, está caminhando por um terreno que mistura populismo e incompetência. EaD não é live nem é chat. 
O professor ou professora que desde o primeiro momento se propôs a pensar, a contribuir, a adaptar materiais para o bem de seus alunos e alunas, mais uma vez se vê confrontado com a falta de articulação e conhecimento didático pedagógico dos que deveriam gerir a educação. 
Na falta de melhor solução, flexibilize, dê tempo ao aluno para que possa ler. As famílias têm dinâmicas próprias. A escola é que tem dinâmicas macro na modalidade presencial. Uma aluna me escreveu: "professor, demorei pra ver a mensagem porque meus pais estão trabalhando de casa é só temos um computador". Outro aluno escreve: "professor, na hora que eu ia assistir o vídeo meu computador travou". 
Quem trabalha com EaD trabalha com demandas de tempo, atividades e tarefas que dão a um público heterogêneo e plural condições de gerenciamento do seu tempo e de seus próprios recursos. Em caso de dúvidas, há os fóruns de debate e o aluno envia um e-mail ou mensagem particular para o seu tutor que tem um tempo para ler, interagir e responder. Fazer a estrutura da escola física: mesmo horário e chamada por EaD é da ordem de despreparo, populismo e despautério de obrigar os alunos e alunas a participar das aulas EaD uniformizados. Afinal foram entregues uniformes para boa parte dos alunos. Percebem a falta de critério apoiada pela burocratização desnecessária do processo? 
Se meu aluno não estava on line no dia e horário da aula, não merece ter sua atividade considerada? Merece levar falta? Ah, gente. É um desgaste desnecessário de alunos e professores. Em matéria de educação pública, há momentos em que o Brasil parece uma eterna reunião de condomínio daquelas com gente mal humorada e conservadora reclamando de fazer mal aquilo que sempre fizeram mal. Não chame de EaD o que é apenas a escola sem escola. 
Não queira falar de educação antes, durante a pandemia ou depois dela sem valorizar os profissionais de educação, seus salários e suas condições de trabalho. Um governo que permite ou faz contratos com empresas que pagam menos que o piso de um salário mínimo (ah, os descontos...) aos terceirizados e contratados não pode estar em condições de ser efetivamente levado a sério. Considero o atual secretário de educação bastante bem intencionado, mas fico preocupado porque sua gestão não pode ver uma vergonha que já quer passar. 
Educação é olho no olho, sensibilidade, metodologia e inteligência. EaD não é live nem é chat. Lá vem o Brasil descendo a ladeira.

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