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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

quarta-feira, 15 de abril de 2020

Texto: "Atari", de Erivelto Reis

Atari
Erivelto Reis
O Google não tem uma sala de aula nem é capaz de oferecer uma. O que é o Google senão o resultado do que centenas de pessoas aprenderam verdadeiramente com seus professores e professoras nas reais salas de aula? Da genialidade, da inventividade, das frustrações e do contato com o outro surgem as grandes ideias, os grandes ideais. Não dá virtualização. EaD é uma ferramenta do processo. Não substitui a aventura da viagem e o que ela seja capaz de proporcionar em amadurecimento e crescimento e, principalmente, nos anos de formação inicial, em experiências socioculturais e afetivas. Fosse diferente, bastaria o tour virtual por países e museus e seria já o suficiente para saciar as inquietações do Espírito humano. Portanto, uma classroom apenas se parece com uma sala de aula. É como o dinheiro do Banco imobiliário. Ou milhões de seguidores numa rede social. O que as pessoas seguem? Senão um perfume do que seria humano, empático, palpável e capaz de um gesto humano e sensível? Ou um espelho delas mesmas? O que se compra com o dinheiro que só existe virtualmente e só existe naquele momento do jogo.
A classroom do Google ou de qualquer outra plataforma é um videogame de escola. Como um Fifa soccer de gramática ou de álgebra, como um super Mario de ciências ou de química. Não é mesmo a gramática, a álgebra ou a aula de ciências e de química. Apenas emula algo pretensamente, supostamente parecido com uma aula. O professor que se inscreve lá naquele espaço virtual apenas se parece, pelo instrucional da linguagem, pelo imperativo dos comandos ou pela artificialidade da linguagem escrita - por melhor que este seja como tutor - com o professor do dia a dia que experimentamos na liturgia da aula. Mesmo que não se lhe possa encontrar um único defeito virtual - essa "perfeição" já seria por si só um desvio, um ponto fora da curva. Há avatares, mas nesses, por mais reais que se pareçam, não bate um coração de verdade. O foco no resultado é garantido quando todo o processo é informatizado. Premissa falsa de resultados duvidosos. A sala de aula é todo dia o big bang da existência de sonhos, de novos universos e descobertas. A sala de aula é o ensaio de nossas estréias, o anfiteatro de nossos afetos e de nossas emoções. O palco de nossas experimentações. Espelho de si e ecos dos outros. Sala de aula virtual é um console para um jogo. Que nem sempre pega. E não adianta assoprar o cartucho. Educação on line num país como o nosso, com os problemas que temos é tentar zerar o jogo antes da primeira fase. Game Shark. Craquear. Quem vai arcar quando hackearem o futuro das gerações vindouras. O ser universal globalizado, vazio de si e do outro apertará qual tecla pra resetar o jogo e restaurar a configuração original? Ou o fará por comando de voz?

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