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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Crônica: Adam Sandler: ou COMO SE FOSSE A PRIMEIRA VEZ, por Erivelto Reis

 

CINEMA COM PIPOCA E GUARACAMP

O BONEQUINHO DEGUSTOU

8/10 – Adam Sandler: ou como se fosse a primeira vez

 

 

                Fui convidado pelo Bonecão, cronista criado pelo napolitano, toscano, calabrês, piemontês, sardenho, siciliano (tô começando a entender a relação dele com a culinária...), ítalo-português-hispânico-asteca-tupi-guarani brasileiro Roberto Bozzetti, último cacto do lácio, professor apaixonado por cinema, paratagmas e provocações sócio-judaico-cristãs a listar as minhas dez comédias preferidas. Isso já tem mais de um mês. Chego agora à oitava indicação.

Enquanto isso, no decorrer de apenas um mês, o insular e meridional cronista já escreveu 20 crônicas sobre cinema, já produziu 40 pratos diferenciados de alta gastronomia, já arrumou e espanou sua vastíssima biblioteca, já adotou dois gatos, já leu duas teses, já foi banca em duas dissertações, participou de uma live em que discutiu a origem dos cancioneiros e sua relação com a música popular a partir dos vilancetes; escreveu sobre livros fundamentais, pessoas em que daria toalhadas, provocou diversas vezes o professor, seu best friend forever, Marcos Pasche... seguir o líder não é garantia de vida fácil.

Agora, duvido que ele tenha assistido a três novelas inteirinhas na Globoplay (Tieta, Vale tudo e Fera Radical) e maratonado Lúcifer, La casa de papel, Killing Eve, Chuck, Smallville, Friends, Fleabag, The Walking Dead, Supernatural, Grey’s Anatomy, Anne With an E, e Modern Family... Duvido mesmo que ele quisesse fazer isso. Vamos ao oitavo filme da famigerada lista.

O filme de hoje marca a presença de um comediante (ator, diretor e roteirista) proeminente nos blockbusters a partir da segunda metade dos anos 90: Adam Sandler. Escolhi apresentar como marco inicial os filmes COMO SE FOSSE A PRIMEIRA VEZ (2004),  com Drew Barrymore; e ESPOSA DE MENTIRINHA (2011), co-estrelado pela atriz Jennifer Aniston. As histórias são simples, como, aliás, todas as histórias contadas por Sandler. Situam-se em um dos três eixos de sua produção:

1) Rapaz encontra moça, decide conquistá-la;

2) Sujeito fora dos padrões de “normalidade” aprende as regras do jogo social e o modifica;

3) Sujeito com uma visão idealizada e particular do mundo confronta-se com a realidade.

As décadas de 90 e os anos 2000 trazem a consolidação popular de três comediantes em particular: Jim Carey (O Máscara, Debi & Lóide, Ace ventura, O mentiroso, O todo poderoso, Eu, Eu mesmo e Irene, O show de Truman); o também diretor, ator e roteirista, Ben Stiller (Entrando numa fria, – as continuações:  maior ainda e com a família ao lado de medalhões com Dustin Hoffman, Robert de Niro e Barbra Streisand  –; Quem vai ficar com Mary? Quero ficar com Polly, Um maluco no golfe – com Sandler; Antes só do que mal casado, O Pentelho – como diretor de Jim Carey; a franquia: Uma noite no museu e, ao lado de Dustin Hoffman, na inteligente comédia Família a gente não escolhe ); e Adam Sandler (Um maluco no golfe, O paizão, A herança de Mister Deads, Click, Espanglês, Gente Grande 1 & 2; Cada um tem a gêmea que merece – com participação de Al Pacino, Tratamento de Choque – com Jack Nicholson, Garota veneno – com seu quase inseparável partner Rob Schneider e a comediante Anna Ferris, de Todo mundo em pânico; Eu vos declaro Marido e... Larry, Golpe baixo) e, especialmente, ESPOSA DE MENTIRINHA (2011) e COMO SE FOSSE A PRIMEIRA VEZ (2004), com Drew Barrymore.  

Em COMO SE FOSSE A PRIMEIRA VEZ, um rapaz namorador, conquistador e volúvel envolve-se com uma moça e descobre que a final de cada dia ela tem a memória zerada devido a um acidente que deixou sequelas em seu cérebro. E, ao se aproximar mais dela, apaixona-se e tem a tarefa de fazer com que ela se apaixone por ele todos os dias como se fosse a primeira vez. Claro que a moça tem um irmão atrapalhado como alívio cômico, um pai que a ama e protege e tutores por toda a ilha havaiana. Aliás, a beleza e o exotismo das locações são outro dado interessante a ser considerado nas produções de Sandler. O ator volta a contracenar com Drew Barrymore uma década depois na comédia familiar: Juntos e misturados.   

Em ESPOSA DE MENTIRINHA, um jovem judeu (não há filme de Sandler que não tenha pelo menos uma dezena de piadas de judeu), às portas do casamento descobre a traição da noiva. Desmanchado o compromisso, afogando as mágoas num bar, o recém-separado descobre o fascínio que a aliança de casamento e a história da traição desperta na audiência feminina. Passa o tempo e encontramos o jovem judeu formado como cirurgião plástico bem sucedido, riquíssimo e requisitado, dando o mesmo golpe da aliança nas moçoilas incautas.

Sua assistente, divorciada e mãe de dois filhos, pra lá de espertos, vivida por Jennifer Aniston acaba recrutada para viver o papel da esposa de mentirinha quando uma sucessão de mentiras contadas a uma jovem ingênua e belíssima o faz inventar uma esposa de quem estaria se divorciando.

A farsa faz com que a falsa família, a jovem namorada e um amigo do cirurgião passem por uma semana inteira num resort no Havaí onde muita confusão pode acontecer. Como eu disse, roteiros simples. Sem pontos de virada, ganchos... Diversão de comédias de costume gourmetizadas por Hollywood e com o toque pessoal de Adam Sandler. Um jeito de contar história que cativa seu público, atrai o fascínio e o prestígio de celebridades e personalidades do esporte e do entretenimento norte-americano, que se oferecem para participar de seus filmes, e o retorno dos investidores. Uma combinação bastante satisfatória para alguém que pretensamente queira fazer rir e ganhar dinheiro com isso.  

Talvez seja um exagero supor – além dos três eixos de recorrência dos enredos de Sandler – supor que suas produções se repitam, mas os traços das personagens – uma visível verborragia à maneira de Jerry Lewis e uma visível consciência da própria inadequação das personagens à maneira de Eddie Murphy – constantemente se aproximam ou se equiparam. O ator possui um público fiel, especialmente no Brasil, embora, em termos comerciais tenha um rendimento de bilheteria considerado mediano com retorno de 3,2 para cada dólar investido. Em outras palavras, trata-se um investimento de retorno baixo, porém de retorno garantido, dada a sua popularidade. E desde 2015, tornou-se um dos poucos atores/roteiristas de cinema com contratos exclusivos para produção na gigante do streaming Netflix. Seus três últimos filmes pela distribuidora: Os seis ridículos (uma comédia no melhor estilo faroeste), Mistério no Mediterrâneo (essa comédia também em parceria com Jennifer Aniston) e o drama (surpreendente atuação do ato) Joias brutas estiveram entre os campeões de streaming da Netflix.

Assim, comédias besteirol como as das franquias Todo mundo em pânico e American Pie, as sátiras e paródias (não é mais um besteirol americano, Inatividade paranormal, etc.), e esses comediantes mantém o gênero em evidência. Claro que comediantes como Woopy Goldberg, Cris Tucker (em parceria com Jackie Chan), Roman Atkinson (o Mr. Bean, Johny English), Rick Moranis (Os caça-fantasmas, Os flintstones, Spaceballs, Querida encolhi as crianças), Mike Myers (da franquia Austin Powers, Quanto mais idiota melhor, Sherek), constroem uma filmografia bastante significativa em termos de gênero. Naturalmente, em se tratando de cinema norte-americano, principalmente em termos de mercado.

Ocasionalmente, Wood Allen vai produzir marcos cinematográficos, como Poderosa Afrodite (1995), Meia-noite em Paris (2011) e Para Roma, com amor (2012), que a meu ver, tonam-se cults quase imediatamente e reposicionam crítica e tecnicamente o gênero durante o período.

Observa-se ainda a “sobrevida” de mestres da comédia como Steve Martin (12 é demais 1 (1991) & 2 (1995); e Eddie Murphy (Dr. Dolittle, A creche do papai, Norbit, O professor aloprado, Sou espião, Meu nome é Dolemite) e a produção de obras pelos comediantes Martin Lawrence (A vovozona, um Tira no pedaço, Loucuras na idade média), Os irmãos Wayans (O pequenino, As branquelas,); Jack Black (Marte ataca, O amor é cego, A escola do Rock e Nacho Libre, As viagens de Gulliver).

Há a ocorrência e a inserção eventual de outros gêneros na comédia, tornando-a híbrida, como mencionado em crônica anterior, em filmes como: Um tira no jardim de infância, O último grande herói, Herói de brinquedo, com Arnold Schwarzenegger; Sherlock Holmes, com Robert Downey Jr; A máfia no divã, Entrando numa fria, Hora do Show, com Robert de Niro.

Merecem menção ainda as comédias protagonizadas por Robin Willians, especialmente em, Uma babá quase perfeita, O homem bicentenário, Jumanji, Uma noite no museu 1 e 2, por proporcionarem um repertório de blockbusters que aqueceram as bilheterias, videolocadoras, serviços de assinatura e, finalmente, os streamings.

Evidentemente que não me compete exercer um juízo de valor estético e crítica sobre os filmes. Trata-se de uma lista, de impressões de espectador e do gosto duvidoso que faz com que uma lista iniciada por Chaplin, caminhe por tortuosos caminhos, não equiparando as obras, mas talvez desconstruindo as certezas e registrando as memórias afetivas de quem escreve sobre elas com indisfarçáveis gerúndios de quem ainda esteja formando os conceitos, pensando sobre eles enquanto escreve como se fosse a primeira vez.

                A arte culinária é do guru da ONU e do Brejo para assuntos de cinema e boa mesa, Roberto Bozzetti.  Eis um Risoto de polvo produzido em 25 de agosto de 2020 pelo dândi facebookiano kafkaesca e concomitantemente à reforma e reorganização de sua biblioteca de aproximadamente 5.000 títulos afora as apostilas e xeroxes...



Sandler e Barrymore
(2004)

Sandler e Aniston (2011)

Risoto de polvo produzido em 25 de agosto de 2020 por Roberto Bozzetti.

Biblioteca Brasiliana

Roberto Bozzetti durante a "friaca" de agosto de 2020.



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