LADAINHA PÚBLICA
Erivelto Reis
Porque há quem suponha
que o problema do acesso ao Google Classroom por parte dos alunos do Ensino
Médio no Estado do Rio de Janeiro seja causado por professores e professoras...
Porque há quem suponha
que o problema do acesso ao Google Classroom por parte dos alunos do Ensino
Médio no Estado do Rio de Janeiro seja por causa dos conteúdos...
Porque há quem suponha
que o problema do acesso ao Google Classroom por parte dos alunos do Ensino
Médio no Estado do Rio de Janeiro seja por causa do número de disciplinas...
Porque há quem suponha
que o problema do acesso ao Google Classroom por parte dos alunos do Ensino
Médio no Estado do Rio de Janeiro seja por causa de uma possível “quantidade
exorbitante” de horas destinadas a disciplinas como Português, Literatura,
Matemática, Filosofia, Sociologia, Artes em muito superiores ao que se pratica
em escolas consideradas de ponta na Rede particular de ensino...
Porque há quem suponha
que o problema do acesso ao Google Classroom por parte dos alunos do Ensino
Médio no Estado do Rio de Janeiro seja por causa do pacote de internet que o
governo NÃO disponibilizou às famílias dos alunos e alunas e dos computadores e
tablet’s e celulares que ele NÃO emprestou
para que os alunos e alunas pudessem ter acesso on-line, full time às aulas durante os horários de seus respectivos turnos...
Porque há quem suponha
que o problema do acesso ao Google Classroom por parte dos alunos do Ensino
Médio no Estado do Rio de Janeiro seja devido à qualidade dos equipamentos e
das conexões de internet que o governo também NÃO forneceu aos professores e
professoras para que pudessem trabalhar...
Porque há quem suponha
que o problema do acesso ao Google Classroom por parte dos alunos do Ensino
Médio no Estado do Rio de Janeiro seja a falta de empatia dos professores e
professoras por uma minoria de alunos e alunas que, podendo estudar remotamente,
abrem mão de fazê-lo, em detrimento dos MILHARES que dependem da escola e da
educação e não podem fazê-lo por absoluta falta de recursos...
Porque há quem suponha
que o problema do acesso ao Google Classroom por parte dos alunos do Ensino
Médio no Estado do Rio de Janeiro seja o fato de que os professores e
professoras não ficam à disposição dos alunos por horas a fio na hedionda
plataforma sem sequer receber um bom dia, ou receber a devolução de atividades
em branco, ou não receber qualquer retorno...
Porque há quem suponha
que se pressionando e assediando-se moralmente os profissionais de coordenação
e direção para que particionem e “dourem a pílula” do que continua sendo
assédio moral entre sua equipe docente em reuniões, posts, publicações e
chamadas em grupos de Whatsapp, exaurindo física e mentalmente toda a equipe,
se possa “melhorar” os resultados...
Porque há quem suponha
que o problema do acesso ao Google Classroom por parte dos alunos do Ensino
Médio no Estado do Rio de Janeiro, caracterizado por grande exclusão do governo
do corpo discente, sem condições de acesso on-line, não seja caso de
representação aos conselhos tutelares, ministério público, sindicatos,
secretarias de governo...
Porque há quem suponha
que o problema do acesso ao Google Classroom por parte dos alunos do Ensino
Médio no Estado do Rio de Janeiro seja quantidade de conteúdo, afinidade com
professor, ou meritocracia dos poucos que têm condições de acesso e/ou real
interesse...
Porque há quem suponha
que o problema do acesso ao Google Classroom por parte dos alunos do Ensino
Médio no Estado do Rio de Janeiro não seja fruto do desempoderamento da escola,
de seus profissionais e da vergonhosa situação salarial e das precaríssimas
condições de trabalho a que sistemática e historicamente têm sido submetidos,
mesmo durante a pandemia, em que o governo descaradamente particiona a despesa
com a educação pública entre os de seu quadro docente e administrativo, em
detrimento da qualidade e das condições mínimas de ensino e inclusão, que são
direitos da população...
Porque há quem saiba e
sinta na pele e veja in loco tudo que
eu relato, mas opte pelo disfarce, pelo silêncio, por lavar as mãos, por
esperar o tempo que falta para escapar do pesadelo, por compor um quadro, por
concordar com tais premissas, por indiferença, por carreirismo, por entender no
serviço público apenas uma fonte “confiável” e “segura” de renda...
Porque há quem pense
diferente e não se coloque de forma franca para o debate, preferindo a
maledicência, o conchavo e a intriga. Como também há quem pense igual, mas
permita que as forças e a imagem de um/a (pessoa ou grupo) sejam exauridas por
sempre pretender defender a necessidade de se pensar e discutir uma educação
libertadora, equânime e justa até ser tido como pária, inconveniente e ser
afastado/a ou afastar-se...
Porque há quem finja não
ver o atropelo e o desmantelo sucessivo das legislações visando tão somente
eximir-se das responsabilidades futuras e compor quadros de combinações de
capital político favoráveis...
Porque há quem suponha
que com, apesar e depois do “ENSINO REMOTO”, do período da pandemia, que algum
dia será possível voltar ao “normal”, por considerar que a falta de
investimento, de interesse de muitos alunos e suas famílias, de respeito para
com a educação e os profissionais que a compõem, a superlotação das salas de
aula, a diminuição brutal do número de horas destinado às disciplinas de
formação, do cerceamento e da intimidação pela violência das ações e discursos
algum dia possa ter sido chamado de NORMAL...
Porque há quem nunca e
sempre e também...
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