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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Crônica: "Ladainha Pública", por Erivelto Reis

LADAINHA PÚBLICA

Erivelto Reis

 

Porque há quem suponha que o problema do acesso ao Google Classroom por parte dos alunos do Ensino Médio no Estado do Rio de Janeiro seja causado por professores e professoras...  

Porque há quem suponha que o problema do acesso ao Google Classroom por parte dos alunos do Ensino Médio no Estado do Rio de Janeiro seja por causa dos conteúdos...

Porque há quem suponha que o problema do acesso ao Google Classroom por parte dos alunos do Ensino Médio no Estado do Rio de Janeiro seja por causa do número de disciplinas...

Porque há quem suponha que o problema do acesso ao Google Classroom por parte dos alunos do Ensino Médio no Estado do Rio de Janeiro seja por causa de uma possível “quantidade exorbitante” de horas destinadas a disciplinas como Português, Literatura, Matemática, Filosofia, Sociologia, Artes em muito superiores ao que se pratica em escolas consideradas de ponta na Rede particular de ensino...

Porque há quem suponha que o problema do acesso ao Google Classroom por parte dos alunos do Ensino Médio no Estado do Rio de Janeiro seja por causa do pacote de internet que o governo NÃO disponibilizou às famílias dos alunos e alunas e dos computadores e tablet’s e celulares que ele NÃO emprestou para que os alunos e alunas pudessem ter acesso on-line, full time às aulas durante os horários de seus respectivos turnos...

Porque há quem suponha que o problema do acesso ao Google Classroom por parte dos alunos do Ensino Médio no Estado do Rio de Janeiro seja devido à qualidade dos equipamentos e das conexões de internet que o governo também NÃO forneceu aos professores e professoras para que pudessem trabalhar...

Porque há quem suponha que o problema do acesso ao Google Classroom por parte dos alunos do Ensino Médio no Estado do Rio de Janeiro seja a falta de empatia dos professores e professoras por uma minoria de alunos e alunas que, podendo estudar remotamente, abrem mão de fazê-lo, em detrimento dos MILHARES que dependem da escola e da educação e não podem fazê-lo por absoluta falta de recursos...

Porque há quem suponha que o problema do acesso ao Google Classroom por parte dos alunos do Ensino Médio no Estado do Rio de Janeiro seja o fato de que os professores e professoras não ficam à disposição dos alunos por horas a fio na hedionda plataforma sem sequer receber um bom dia, ou receber a devolução de atividades em branco, ou não receber qualquer retorno...

Porque há quem suponha que se pressionando e assediando-se moralmente os profissionais de coordenação e direção para que particionem e “dourem a pílula” do que continua sendo assédio moral entre sua equipe docente em reuniões, posts, publicações e chamadas em grupos de Whatsapp, exaurindo física e mentalmente toda a equipe, se possa “melhorar” os resultados...

Porque há quem suponha que o problema do acesso ao Google Classroom por parte dos alunos do Ensino Médio no Estado do Rio de Janeiro, caracterizado por grande exclusão do governo do corpo discente, sem condições de acesso on-line, não seja caso de representação aos conselhos tutelares, ministério público, sindicatos, secretarias de governo...

Porque há quem suponha que o problema do acesso ao Google Classroom por parte dos alunos do Ensino Médio no Estado do Rio de Janeiro seja quantidade de conteúdo, afinidade com professor, ou meritocracia dos poucos que têm condições de acesso e/ou real interesse...

Porque há quem suponha que o problema do acesso ao Google Classroom por parte dos alunos do Ensino Médio no Estado do Rio de Janeiro não seja fruto do desempoderamento da escola, de seus profissionais e da vergonhosa situação salarial e das precaríssimas condições de trabalho a que sistemática e historicamente têm sido submetidos, mesmo durante a pandemia, em que o governo descaradamente particiona a despesa com a educação pública entre os de seu quadro docente e administrativo, em detrimento da qualidade e das condições mínimas de ensino e inclusão, que são direitos da população...

Porque há quem saiba e sinta na pele e veja in loco tudo que eu relato, mas opte pelo disfarce, pelo silêncio, por lavar as mãos, por esperar o tempo que falta para escapar do pesadelo, por compor um quadro, por concordar com tais premissas, por indiferença, por carreirismo, por entender no serviço público apenas uma fonte “confiável” e “segura” de renda...

Porque há quem pense diferente e não se coloque de forma franca para o debate, preferindo a maledicência, o conchavo e a intriga. Como também há quem pense igual, mas permita que as forças e a imagem de um/a (pessoa ou grupo) sejam exauridas por sempre pretender defender a necessidade de se pensar e discutir uma educação libertadora, equânime e justa até ser tido como pária, inconveniente e ser afastado/a ou afastar-se...

Porque há quem finja não ver o atropelo e o desmantelo sucessivo das legislações visando tão somente eximir-se das responsabilidades futuras e compor quadros de combinações de capital político favoráveis...

Porque há quem suponha que com, apesar e depois do “ENSINO REMOTO”, do período da pandemia, que algum dia será possível voltar ao “normal”, por considerar que a falta de investimento, de interesse de muitos alunos e suas famílias, de respeito para com a educação e os profissionais que a compõem, a superlotação das salas de aula, a diminuição brutal do número de horas destinado às disciplinas de formação, do cerceamento e da intimidação pela violência das ações e discursos algum dia possa ter sido chamado de NORMAL...

Porque há quem nunca e sempre e também...

 

 


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