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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Crônica: A DAMA DE VERMELHO: o que houve com o pequeno príncipe e com a fábrica de chocolates?!, por Erivelto Reis

 

CINEMA COM PIPOCA E GUARACAMP

O BONEQUINHO DEGUSTOU

4/10 – A DAMA DE VERMELHO: o que houve com o pequeno príncipe e com a fábrica de chocolates?!

 

                Fui convidado para poucas coisas tão difíceis na minha vida como escrever sobre as minhas dez comédias mais marcantes. O Bonecão, cujo criador é o destemido, ambivalente e poliédrico Roberto Bozzetti, quando quer enlouquecer uma pessoa, pergunta sua opinião, só pode. Isso posto vamos ao quarto filme da série.

            A DAMA DE VERMELHO (1984), uma adaptação do filme francês O doce perfume do adultério, de 1976, feita por Gene Wilder, que também atua e dirige o longa-metragem. No filme, que já começa in media res (no meio da narrativa). Um sujeito de meia idade está de roupão, no beiral externo de um edifício a muitos andares de altura. A tomada aérea da câmera vai se aproximando até que se possa identificá-lo.  Não há a menor dúvida: trata-se de Willy Wonka – aquele do meme: “Conte-me como é”?!, melhor dizendo, trata-se da Raposa do Pequeno Príncipe. O brilhante comediante Gene Wilder. E foi apenas isso e não a dama de vermelho que atraiu a minha curiosidade para essa comédia de desencontros com toques de sensualidade. A partir dali, serão apresentadas aos espectadores as intempéries que o levarão até aquele ponto e como se resolverá o impasse de estar no parapeito de um prédio.

Na trama Teddy, vivido por Wilder, é um executivo que basicamente pode ser definido como um sujeito atrapalhado, com uma vida pacata, além de um biótipo curioso, para dizer o mínimo, com seus cabelinhos loiros de molinha, ao melhor estilo Biro-Biro, que fica encantado com a beleza de Charlote, literalmente a dama de vermelho, vivida pela modelo e atriz Kelly Lebroke a quem assiste de dentro do carro, num estacionamento,  julgando-se sozinha, reproduzir a célebre cena do vestido esvoaçante tal qual Marilyn Monroe no filme A coceira dos sete anos,  que aqui foi apresentado como “O pecado mora ao lado” (1955).

Aliás, julgo haver tempo e espaço para render homenagem a Marilyn Monroe por sua atuação no cinema de maneira geral (pouco mais de uma década e tornou-se um ícone do cinema, da moda, das teorias conspiratórias, do empoderamento feminino, da cultura pop no século XX) e, especialmente, em comédias como Nunca fui Santa (1956), sua única indicação ao Globo de Ouro, Os homens preferem as loiras (1953), inspiração para o clipe de Material Girl, de Madonna; Como agarrar um milionário (1953). Sobre o clássicão Quanto mais quente melhor (1959), o Bonecão do Roberto Bozzetti já vaticinou bem vaticinado em sua lista das dez maiores comédias. E se ele falou, tá falado.

Reparem que em apenas duas semanas o marido fiel, o pacato cidadão se vê às voltas com todo o processo de envolvimento e sedução que vai culminar em um encontro fortuito de adultério. A dublagem de Mário Monjardim parece reforçar o histrionismo nonsense do personagem de Wilder que nada tem de galã. Há uma cena em que a esposa, de arma em punho, o assiste receber um telefonema previamente combinado com um amigo, convocando-o para o “trabalho”. Interrompendo (ironicamente para o público), justamente uma conversa em que ela dizia que o marido de uma amiga havia usado essa tática para manter um caso extraconjugal.  Teddy finge não querer ir “trabalhar”, bate o telefone, querendo, esperneando na banheira... fazendo a pantomima do marido fiel. A essa altura com a cabeça completamente virada pela dama de vermelho.

Wilder foi um brilhante ator que entre um momento e outro de sua vida atuou sob a direção de Mel Brooks, um gênio do humor, e ao lado de Richard Pryor, uma lenda do humor em stand-up e do cinema. Em obras como as já citadas aqui: A fantástica fábrica de chocolate (1971), O pequeno príncipe (1974), Banzé no Oeste, O jovem Frankenstein (1974), com o qual concorreu ao Oscar de roteiro adaptado e como ator coadjuvante concorreu em 1969 em Primavera para Hitler.

Com Richard Pryor formou uma dupla notável filmes como: Expresso para Chicago (1976), Loucos de dar nó (1980), Cegos, surdos e loucos (1984) e teriam atuado juntos também em Trocando as bolas (cujos papéis acabaram indo para Eddie Murphy e Dan Aykroyd) e Banzé no oeste (escrito por Pryor e Mel Brooks), no entanto, os problemas de Richard Pryor com drogas acabaram encurtando a parceria entre os atores.

 A DAMA DE VERMELHO concorreu e ganhou um Oscar pela canção de Stevie Wonder. Seu humor reside nos interditos, nas insinuações. A cabeça do público faz o resto. Mas se você pensar na beleza da personagem de vermelho e na impossibilidade do quase, vai da comédia ao drama num segundo.  Penso que falar das comédias tem me levado a revisitar o trabalho a trajetória de grandes atores e diretores. Gente que escreveu e marcou com seu jeito de atuar o que seria um espaço cômico para o humor na linguagem cinematográfica, que diferentemente do que preconiza a linguagem, não necessita de um acordo tácito e prévio e tem nas surpresas e no exagero dos “defeitos” uma qualidade para despertar a graça.

A arte culinária, evidentemente, é do Bonecão, o venturoso Roberto Bozzetti. O prato é descrito por ele mesmo: A arte culinária, evidentemente, é do Bonecão, o venturoso Roberto Bozzetti. O prato é descrito por ele mesmo: Trivial simples. 17 de abril de 2020.

A DAMA DE VERMELHO, 1984

ROBERTO BOZZETTI, PROFESSOR E PESQUISADOR (De vermelho)

O trivial Simples. 17.4.2020

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