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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Poema: § Revisão § - Erivelto Reis

§ Revisão §
Erivelto Reis

Nada me traduz direito…
Às vezes, uma expressão
Apreendida do que eu disse ao acaso,
Perde completamente o sentido.
Talvez o incólume tradutor
Não me tenha compreendido bem.
Ninguém me traduz perfeito,
Ninguém me descreve plenamente feliz…
Sou encadernação rota,
Velha folha solta,
Edição esgotada, nunca publicada,
Página de diário sem qualquer elã,
Omissão do ecrã,
Erê de enciclopédia,
Traça suicida,
Orelha rabiscada,
Rasura, pé de página,
Enredo denegrido,
Pauta abortada,
Revisão na borda…
Ninguém me traduz direito,
Quando nem eu me escrevo.

Poema: (Over) dose - Erivelto Reis

(Over) dose
Erivelto Reis

Bastou tomar dois uísques,
Que as palavras jorraram de mim,
Como cachaça de alambiques.
Bastou tomar duas doses,
Pra confundir os sons,
Pra ouvir vozes,
Pra suspeitar dos maçons,
Pra ficar amigo dos garçons.
Para emergirem antigas dores atrozes.
Pra rabiscar os livros,
Pra suspeitar dos vivos,
Desenterrar velhas fotos,
Recordar os mortos,
Cantarolar tristes músicas,
Apegar-se a minúcias,
Embotar as núpcias…
Bastou beber dois goles,
Pra igualar-se a um trapo,
Rabiscar guardanapo,
Pra perder a bic,
Pra dar chilique,
Pra ficar com inveja,
De quem se diz chique.
Bastou tomar dois uísques,
Pra ler Leminski,
Pra ouvir Wisnik.
Pra misturar os contos de Clarice,
Pra cometer tolices.
Olhei as linhas tortas,
Das palmas das mãos trêmulas,
Qual duas flâmulas,
Qual dois emblemas…
As vias da vida se atiravam
Para todas as direções!
Iam, inicialmente, para longe…
Depois, pra bem perto:
A um Lugar onde, lentamente,
Estão morrendo os sonhos.

Bastou tomar dois uísques…