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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Curtametragens, de Erivelto Reis

I
A cada "vitória", um tropeço,
A cada discurso, uma vergonha,
Você se perde e pensa que ganha...
A cada explicação, uma complicação,
A cada defesa, uma implicação.
Segue seu caminho assim:
Tudo tem seu preço,
Afinal,
Seu fim é só o começo.

II
(Fu)mantes
A falácia do seu
Silêncio
Tá poluindo todo
OxI, gênio...

Poema "Libra(s)", de Erivelto Reis

Libra(s)
Erivelto Reis

Assistir seus amigos partirem
É um tipo de solidão transitória
Na esperança de que outros surjam...
Amigos são o esteio da estrada
O amparo e o abrigo.
Suas lembranças serão celebradas.
Ou discretamente guardadas.
Partir e deixar seus amigos
É a solidão definitiva!
É o mesmo que nenhuma vida vida,
Que nenhuma rima
Tem razão
Que a linguagem das Libras
São o aceno e o silêncio e o vazio
Das mãos na hora das despedidas
Quando nenhuma metáfora faz sentido...
A pior solidão é partir, partir-se, ir partido.
É perder a quem se admirou
E amou como amigo.

Poema: "Três maneiras", de Erivelto Reis

Três Maneiras
Erivelto Reis

Três maneiras de usar álcool:
Torpor,
Ardor,
Amor...

"Um poeminha para Flávio e Cícero", de Erivelto Reis


Um poeminha para Flávio e Cícero
Erivelto Reis

Bem aventureiros os que têm filhos na idade da vida em que o amanhã demora
Bem aventureiros os que bebem as marcas que desejam
Bem aventureiros os que soltaram pipa, os que jogaram bola, ping-pong
Bem aventureiros os que os cães botaram pra correr, os que foram mordidos
Bem aventureiros os que acordaram cedo, os que dormem tarde
Bem aventureiros os que trabalharam em bancos, os que devem aos bancos
Bem aventureiros os que foram psicólogos, os que foram aos psicólogos
Bem aventureiros os que disfarçaram o vazio da garrafa com guaraná e desculpas
Bem aventureiros os que respeitaram os irmãos e honraram as mães viúvas
Bem aventureiros os que foram femininos, feministas, felizes
Bem aventureiros os que escolheram literatura e filosofia
Bem aventureiros os que não riram dos canastrões e dos canalhas
e nem tiveram medo de avisar que seus números não agradaram
Bem aventureiros os que promoveram o casamento incestuoso
da poesia com a música
Bem aventureiros os que choraram assistindo a vida dos outros e azul é a cor mais quente
Bem aventureiros os que se calaram porque ante seu grito, só a fúria encontraria êxtase
Bem aventureiros os que são simples, sendo bons, sendo humildes
sem se fazer de simplórios, de tolos ou permitindo a própria humilhação ou de outrem
Bem aventureiros os que encararam a vida com tanta força
apesar de só lhes terem permitido a sensibilidade como poder
Bem aventureiros os que sorriem e praguejam como meninos
cujo dente de leite acabou de cair
Bem aventureiros os que foram proscritos da roda dos arrogantes
Bem aventureiros os que a arte e as culturas populares conhecem tanto
quantos lhes conhecem os cânones e os eruditos
Bem aventureiros os que escrevem a verdade da vida
com a ficção dos livros.


terça-feira, 26 de novembro de 2019

Poema: "Sororidade", de Erivelto Reis

Sororidade
Erivelto Reis

Afaga a outra alma
Com a luz que brota da tua.
Abraça, conforta,
Protege e luta.
Algumas palavras
Não servem pra desmentir e apagar
A desigualdade que existe
E ainda persiste.
E só outra irmã
É capaz de proteger
Como se desse de presente
Uma semente de germinar amanhã.
Aos demais, cabe o respeito,
E o carinho pela dignidade,
De quem ama os sonhos
Que nascem no seio
De onde todos os sonhos vêm.
Abraça e toca o semblante
Daquela que comporta
Outra alma feminina igual a tua:
Vibrante, inquieta, sensível,
Latente.
Sororidade:
(Espaço de comunhão
Onde a Liberdade atua).
Necessária mais do que se imagina.
Afaga uma alma feminina
E irmã igual a tua.

Poema: "Xô", de Erivelto Reis


Erivelto Reis
Bishop bixou
Baixou o ibope
É shopping
É golpe
Photoshop
Vai dar xabu!
Água no chopp
Boicote.
Choque.
Xarope.
Acinte.
Acharque.
Parachoque.
Que a Flip flope.

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Poema: "Cuidado! Cão falso!", de Erivelto Reis e "Hás de virar sabão quando chegar a hora", de Cícero César


Cuidado! Cão falso! [ parece o "cão chupando manga"]
Erivelto Reis

“Cão feroz”! Avisa a placa!
Os que não conhecem até se enganam!
Lambe os próprios textículos,
rosna para própria sombra
e abana o rabo para os poderosos.
De dia, ronrona, qual felino...
De noite, estranho em sua própria casa!
Ataca os que lhe dão comida,
apoio, amor e abrigo;
copula com a própria vaidade,
emite juízos-ganidos
rigorosíssimos contra os desafetos,
ostenta os títulos:
coleira de pedigree forjado que se autoconcedeu,
Cão misógino: assedia e gosta de humilhar.
Passa! Cachorro falso!
Dá voltas em torno de si mesmo,
lambe os próprios textículos,
vive sempre com a pulga atrás da orelha,
mastiga suas próprias fezes...
Vai arrumar sarna para se coçar.

Hás de virar sabão Quando chegar a hora
Cícero César

Hás de virar sabão Quando chegar a hora Hás de morrer feito um cão Com a língua pra fora As moscas em ti pousarão Depois irão embora Beijar a mais nova mão De um borra-botas Se o dono te der pancadas Daquelas que quebram as costelas Sejas um bom cão de guarda Redobres a sentinela Bebas das águas paradas Comas as sobras de muitas panelas E morras, sem saber que morrer não é nada E que viver é que são elas

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

"Vai buscar teu filho, Liberdade", de Erivelto Reis

Vai buscar teu filho, Liberdade.
Que o canto desse povo é de alegria e de saudade.
Nem medo, nem ameaça, nem quebranto
Ou maldade, vão impedir meu povo de ser feliz!
Pode atrasar, é verdade.
Vai buscar teu filho, Liberdade...

Poema: "A historiadora", de Erivelto Reis

A historiadora
Erivelto Reis
Para Marcia Cristina de Vasconcellos
Essa é uma saudação em Vida!
Não será a primeira vez
Que um historiador faz História:
Com seu trabalho, com sua ética,
Com valores acadêmicos
E capacidade inconteste.
Márcia Vasconcelos,
Com qualidade, dedicação e amor
Marcou a História
No coração da Zona Oeste.
Deve-se reverenciar seu trabalho,
Respeitar sua trajetória...
Sua inquietude e obstinação
Com a pesquisa, com os estudos.
Sua grande Lealdade
Em favor da História
E da formação adequada de suas alunas e alunos.
Seu humor bem de leve
─ entre azedinho e açucarado ─,
Sua coragem e bravura contra os
Fascismos, intolerâncias e preconceitos
(explícitos ou disfarçados).
Há pessoas cujo convívio perdemos
E não quereríamos perder,
(E que nos servem de exemplo)
Uma delas era você.
Toda revolução tem um estopim!
Silenciosa que seja,
Mas ela marca o fim
Da opressão, da exploração
E da banalidade medíocre
Das soluções tacanhas.
Você é grande demais
Sendo simples, generosa e humilde
Eis mais essa sua façanha.
A teia que liga os pontos da sua história
Será tecida por suas lutas e vitórias.
Historiadora e professora igual a você,
Márcia Vasconcelos,
Não se acha toda hora.

Crônica: "Para os que defendem a Democracia", de Erivelto Reis



PARA OS QUE DEFENDEM A DEMOCRACIA
Erivelto Reis

Os que defendem a Democracia não estão ou vão a determinados lugares simplesmente porque querem. Vão ou estão porque é preciso ir. Vão ou estão porque outros tão destemidos quantos eles não puderam ir.
Os que defendem a Democracia vão ou estão na linha de frente do combate ao preconceito, à humilhação, à destruição do estado democrático, à supressão dos direitos civis e constitucionais porque, antes deles, em um tempo muito, muito recente na história do Brasil, outros que estiveram ou que foram aos cenários equivalentes aos da mesma batalha foram presos, sequestrados, capturados, interrogados, torturados, mortos. E os que não morreram sofreram violências da natureza das torturas descritas nos círculos infernais de Dante.
Os que defendem a Democracia vão ou estão em combate contra os inescrupulosos, os déspotas, os capachos de ditadores, contra os entreguistas, os detratores, os caluniadores, os torturadores, os corruptos porque é preciso que alguém comece a combatê-los.
Os que defendem a Democracia não toleram ameaças como “brincadeiras”, o compadrio como forma de se fazer política, sabem que, historicamente, quando forças econômicas, religiosas e políticas se unem, pode haver componentes perversos que brutalizem o povo; ou o banalize ou o escravize ou o animalize ou o bestialize. É raríssima a possibilidade de favorecer, esclarecer, governar e proteger o povo em circunstâncias análogas. Leia na História, na Arte e na Literatura: você vai ver.
Os que defendem a Democracia o fazem porque acreditam na soberania, na autonomia entre os poderes, na Educação, no trabalho e na valorização de trabalhadores e trabalhadoras, na proteção das riquezas naturais de um país, no respeito à dignidade humana, na justiça, na Arte e na Cultura, na Liberdade e na convivência pacífica entre as pessoas.
Nenhum regime democrático se legitima pela opressão, pela subserviência aos países ricos e pela Violência, física, institucional, pela supressão de direitos dos trabalhadores e pelo discurso de ódio.  Os que defendem a Democracia sabem disso. Os que buscam privilégios e migalhas de privilégios, não. Ainda não.
O autoritarismo no agir e no falar, a indiferença ao diálogo, o menosprezo ao interlocutor, o uso de ameaças explícitas ou veladas, o assédio aos servidores, o enfraquecimento administrativo e a transferência sistemática de patrimônio, bens e serviços essenciais do estado para os setores privados, sem discussão e debate com a sociedade e sem justa e real compensação é roubo de patrimônio e, mais grave ainda, de nosso futuro. Condena nossa população à indigência, porque certamente nos veja assim.
O repúdio à arte, aos artistas, à cultura, à livre expressão, a perseguição aos professores são indícios claros de um estado antidemocrático. Penso que os professores representem para os ditadores o que os comerciantes judeus representavam para os nazistas na Alemanha no período que antecedeu a abertura dos campos de concentração.
O uso de violência contra os mais pobres, o horrendo balé da cópula entre corruptos e corruptores, cujo ápice do prazer é a dissolução dos direitos mais elementares à vida, à saúde, à segurança, ao ir e vir, ao trabalho, à seguridade social, à escola... são indício da brutal sanha com que os ditadores se lançam ao que julgam ser o corpo agonizante do estado democrático ­─ ensaio de cadáver putrefato ─ de uma jovem Democracia. Demonstram seu fetiche pela dor do outro, sua arrogância e sua libido pelo ódio e contra as instituições democraticamente legitimadas.
A coexistência de jovens de “boa índole”, com boas famílias desprezando a escola e escolhendo o partido da esperteza, do preconceito, assenhorando-se pessoal e virtualmente do comportamento do “troll”, do “hater”, das pequenas corrupções, do desprezo à ética, ao trabalho, do Bullying com o desejo por justiça com as próprias mãos, sobretudo quando feita contra os pobres e desvalidos, as mulheres e crianças, os idosos, os de matriz religiosa diferente, os indigentes, os marginalizados por quaisquer razões, na mesma grande massa de pessoas às quais os governos antidemocráticos pretendem aplicar a pena capital em doses homeopáticas, constantes e cada vez mais intensas, é outro indício de que os que lutam pela Democracia não devem se calar e não devem parar de estar e ir aonde precisam ir.  E porque sabem que a Democracia deveria estar em todos os lugares.
Os que defendem a Democracia sabem que é preciso defendê-la todos os dias com gestos, atitudes e palavras. Os que defendem a Democracia sabem que, nos tempos que se seguem, esta talvez seja a última coisa que façam.




sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Reunião, poema de Erivelto Reis







Reunião
Erivelto Reis

Pagamos os bancos esse mês?
Claro! Pagamos.
Parabéns.
E os funcionários e funcionárias?
Que esperem.
(Parabéns.)
Pagamos os bancos esse mês!
Mas eles podem esperar?
Se não esperarem empregados, esperarão desempregados.
Mas nós temos o direito de fazer isso?
Não temos dinheiro.
Mas não estamos pagando aos bancos?
Claro que estamos.
E os salários atrasados desses funcionários e funcionárias?
Pagamos os bancos esse mês.
E as famílias deles e delas,
Que estão passando por dificuldades?
Pagamos os bancos esse mês!
E no mês passado... e no outro mês...
Não deixamos de pagar os bancos nenhum mês.
Mas por que fazemos isso?
Para não pagarmos mais juros.

E o que acontece enquanto funcionários e funcionárias não recebem?
Eles pagam juros.
E quando recebem?
Pagam os juros da dívida que contraíram
Por não haver recebido no tempo que deveriam.
Mas nós pagamos os funcionários e funcionárias?
Ocasionalmente. Parcialmente. Às vezes, integralmente.
(Antigamente era sempre).
E, de uns tempos para cá, principalmente, na justiça.
Mas não é mais justo e ético
Pagar funcionários e funcionárias conforme a lei?
É! Mas na justiça, ganhamos tempo.
Para quê?
Para pagar os bancos.
E as outras dívidas que temos...
Que outras dívidas?
Trabalhistas, por exemplo.

Por que temos dívidas trabalhistas?
Porque não estamos pagando os funcionários e funcionárias que temos.
E os que tivemos?
Demitimos. Porque não gostavam que não os pagássemos.
Ou se demitiram. Porque não gostavam que não os pagássemos.
Ou porque não puderam mais suportar a forma como os pagávamos.
Mas nós pagávamos...
De um jeito que eles não gostavam.
Por isso os estamos pagando na justiça
Com o trabalho dos funcionários e funcionárias que temos.
E que não estamos pagando.
Mas pagamos os bancos esse mês.
Mas os funcionários e funcionárias não reclamaram?
Reclamaram!
E nós, o que faremos?
Pagaremos quando pudermos.
Aos bancos?
Não, aos funcionários e funcionárias.
E se eles protestarem?
Os bancos?
Não, os funcionários e funcionárias.
Pagaremos os bancos esse mês.
E se ainda assim  os funcionários e funcionárias reclamarem?
Otimizamos.
Aconselhamos.
Orientamos.
Avisaremos.
Demitiremos.
E pagaremos os bancos esse mês.
Mas nossos funcionários e funcionárias não são bons?
São. Porque os coordenamos.
Porque os dirigimos.
Porque fazem o que mandamos.
Porque esperam mesmo quando não os pagamos.
Mas há os ruins?
Há. Sobretudo, aqueles que não concordam
Com o fato de que não os pagamos na forma como a lei determina.

Por que devemos tanto aos bancos?
Não devemos, estamos pagando.
Por que devemos tanto aos funcionários e funcionárias?
Porque estamos pagando aos bancos...
E ( só porque a justiça manda) aos funcionários e funcionárias que tivemos
E que não pagávamos quando os tínhamos.
Planejamento para o futuro?
Tentar convencer os insatisfeitos, demitir os descontentes,
Contratar novas frentes, novos ares,
Gente mais alegre.
Mas se pagarmos os nossos funcionários e funcionárias regularmente,
E os respeitarmos, reconhecermos sua capacidade, seu talento,
E lhes dermos melhores condições de trabalho,
Eles também ficarão satisfeitos.
É. Mas aí saberemos as caras feias que fazem.
E teremos a recordação das reclamações que fizeram quando não os pagávamos.
E eles terão para sempre a memória do que sofreram.
Não dá para confiar.
Progresso também é isso:
Produzir memórias ruins
Em pessoas boas diferentes ao longo de várias épocas.
E conseguir pagar os bancos.
E quando a dívida com os bancos acabar?
Todo o resto terá sido lucro para nós.
A reunião de hoje foi produtiva.
Embora haja muitos meses
A pauta tenha sido sempre a mesma.




Sonetos de Cícero César e Erivelto Reis dialogam


ESTE OCEANO SE PARTIU EM DOIS
Cícero César

Este oceano se partiu em dois
Este navio já tocou o chão
A tua voz se ergueu em vão

E o pior é o que vem depois:
Nosso algoz, acima de nós
Tira proveito da situação

O vento derrubou o cais
E à deriva vai a embarcação
Há dias que singram iguais
Aguenta firme, pobre coração

Cá estou fazendo um poema a mais
Pra abraçar a causa do irmão
Sem saúde, sem amor, sem paz
Aguenta firme, pobre coração



SONETO CABISBAIXO
Erivelto Reis

O coração já se afastou do cais...
E a razão estrangulou a aorta!
O oceano é raso pros boçais.

Extinguiram as preocupações formais,
Ancoraram-nos, fecharam-se portas.
Sabem de menos e podem demais!

O que nós fomos o tempo não comporta,
Transcende e une por laços vitais,
A amizade e o amor são as respostas,
Valores nobres: não morrem jamais.

Estou respondendo ao teu soneto-ilha
Sofrendo ao ver a água entrar no barco,
Meu porto-abrigo: amigos e família.
Receba neste, o meu fraterno abraço.

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Poema: "Ruminantes", de Erivelto Reis

Ruminantes
Erivelto Reis
Não é Chilique!
Não é boicote.
É que o povo do Chile
Não aceita o chicote.
América Latina
Não servirá de latrina
A nenhum governo neoliboçal...
Verás que Santiago, Bogotá, Brasília
Capitais, não capitanias,
Não sucumbirão ante os déspotas,
Ante os generais. Jamais.
Ecoará o Canto Geral de Neruda,
A Grândola Vila Morena,
De Zeca Afonso, em Portugal.
As canções de Violeta Parra e
A força do canto de La Negra Mercedes Sosa
Farão, à maneira de Garcia Márquez,
Cem anos de Revolução.
Buenos Aires, Quito, Caracas,
São Paulo, Seropédica e Rio
Irmanarão, na procissão dos persistentes,
Que é o povo na rua,
Os Refugiados, os desempregados,
Oprimidos, anônimos e descontentes.
Criolo, Conceição Evaristo,
Fernanda Montenegro e Chico Buarque
Estarão na linha de frente.
Em oração polimística por Marielle,
Pela Educação
E pela Cultura, aos pés do Cristo...
Relembrarão que navegar é preciso.
Cabra marcado pra morrer,
Não morre sem denunciar a arrogância
De quem se ufana e se esconde
Atrás do poder.
Não é utopia, não é ameaça,
Não é Chilique!
É só que o povo do Chile
Não aceita mordaça, trapaças e trastes.
Ao povo a Democracia que pertence ao povo!
Aos canalhas, que o mato cresça
E que os ruminantes defequem
Sobre vossas lápides.

sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Poema: "Cataléptico", de Erivelto Reis


Cataléptico
Erivelto Reis

Sucumbir
ante a surpresa
desnaturalizado o afeto,
coração lateja
víscera que lacrimeja sangue
esperamos espólios
de batalhas perdidas.
Quando (e se)
voltar da guerra,
rei de si,
preste reverência a quem morreu lutando.
Enlutados, sublimamos
pequenos cárceres
é em nós que residimos
e de nós nos expulsamos...
é em nós que jazemos
a cada solidão
que nos assalta.

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Por ora, são. - poema de Erivelto Reis


Por ora, são...
Erivelto Reis

deus me livre de ensinar gente sem amor,
gente sem sentimento,
gente sem escrúpulos...
alguém me livre desse tipo de gente.
deus me livre de ensinar gente sem ética,
gente sem entusiasmo:
transforme meus dias todos num imenso marasmo,
se for pra fornecer pérolas aos meus próprios carrascos.
deus me livre de dizer um poema, ler uma crônica,
um capítulo que seja de qualquer romance de qualquer autor ou autora...
que deus proteja todo bom professor ou professora!
e qualquer desses se algum dia o fora.
deus me livre de discutir um aspecto de qualquer teórico
 ─ estudioso ou estudiosa ─,
pra uma gente sem autocrítica,
sem desejo de diálogo, sem noção do tamanho de seu autoegoplágio,
da antievolução de seu estágio,
cujo sarcasmo é a maior nota de seu histórico.
prefiro ficar calado, afastado, amuado, arrasado,
do que forçadamente silenciado.
deus me livre desse desagrado.
deus me livre desse pranto: me coloque no meu lugar,
bem quietinho, no meu canto,
nem no mundo do fim, nem no andor do santo
junto das pessoas que têm o que compartilhar
e humildade ao ensinar e ao aprender.
deus me coloque juntos dos meus!
deus me livre desses tipos:
de rótulos, estereótipos.
e me aproxime de quem
quer ler.



domingo, 7 de julho de 2019

Poema: "Discípulo", de Erivelto Reis


Discípulo
Erivelto Reis

aprendi com meus alunos
o que eles adivinharam em mim
descobri como aula
virtudes que me emprestaram
um hereditário costume
de ter medo do desconhecido
eu e eles
nós ambos
eu, porque toda aula é uma confissão do muito pouco que sabemos
eles, porque toda aula traz o futuro de algum esquecimento
aprendi muito com meus alunos
e poderia ter aprendido ainda
eu e eles
nós ambos
enredados
afetivamente
nos desafios do primeiro encontro
na triste felicidade da hora de  sua despedida.

quarta-feira, 26 de junho de 2019

Poema: "Sobre educar", de Erivelto Reis

Sobre educar
Erivelto Reis

Educar 
é a arte de adestrar 
os pássaros 
aos voos 
que já sabem 
e à liberdade 
que já conhecem.

Poema: "Adega", de Erivelto Reis


Adega
Erivelto Reis

É preciso tirar o sal da vida,
do rosto, retemperar o amor.
É preciso fomentar, dessacralizar a poesia
para que reste um texto e não só um rótulo,
uma botija de um litro, um tonel de nada,
um cálice do mais cálido licor...
Envasá-la, armazenar seu aroma
no fundo da alma em constante dissabor.
Pode ser embalada em tecido fino ou
no trapo desatino roto do cotidiano
do susto e do perigo de estar vivo.
E que pese sobre ela – a poesia –,
o único despretensioso plano de um momento
em que se possa chegar ao final e no qual se diga
─ Valeu a pena esse dia!
A quem caberá tal tarefa, tão litígio?
Ao leitor, presumo:
pássaro livre de pluma e chumbo...
De tudo quanto for possível:
o suspiro, o arrepio, o testemunho,
a confissão, o extravio de si
por qualquer um em quem a poesia toque.
A incerteza de cada palavra
como o suave gole de um bom Porto,
uma amizade, um amor, um pouco de conforto,
um cabernet sauvignon, um malbec,  um merlot...
palavras, como vinho tinto,
fermentando em nossa adega, ficando mais velhas
à medida em que melhoram e talvez nos ajudem
a escapar das paredes de nosso próprio labirinto.


sexta-feira, 21 de junho de 2019

Poema: "Inventário", de Erivelto Reis

Inventário
Erivelto Reis
Que era lírico, mas era feio,
Que era lindo de tão feio!
Que não era lírico,
Era dramático e enigmático
E por isso apiedava, agredia ou encantava:
Um Vesúvio em estado de dilúvio
Um inferno de lava, lama e quase cem palavras
Por isso tão grito, tão crítico
Por isso tão empático, tão estático...
Um que era sobre nada,
Sobre a infância
Ou sobre um amor sem fechadura.
Um que era sobre amargura
Sobre depressão, solidão e náusea.
Um que era sobre voltar pra casa
Ou sobre um olhar que mudou tudo.
Um que era sobre as perdas,
Um disfarçado ementário de derrotas
Ou explícito pedido de ajuda,
Autocomiseração e súplica.
Um que era sarcástico,
Autoirônico e sem destino.
Um que não tinha rima,
Um que não tinha rumo,
Um que levantava um muro,
Um tão violento quanto um murro!
Outro que eu queria que tivesse sido meu
E que jamais saberia ter escrito.
Um do Espírito Santo,
Um que era um ponto de espantar quebranto.
Um que veio direto das retóricas de boteco
Um soprado pela musas do Olimpo:
Uma vez limpo o coração,
Eus e sujeitos líricos
Colonizam a consciência...
Tem tanto poema prematuro,
Tem tanto poeta precoce,
Tem tanto poema natimorto,
Tanto poeta morto-vivo,
Tanto poeta morto, Vivo.
Tanta poesia nas coisas mais secretas,
Tanta beleza no arranjo e no ritmo
Com que se inventam metáforas.
A poesia é um rio de muitas mágoas,
Uma estrada de muitas léguas,
Que não se sabe pra onde vai...
Um Dédalo, um Quixote, um Ulisses.
Um sábio dizendo sandices
Um santo, um mártir,
Um lugar, um jamais...
As palavras se tornando imortais
Um filho ou uma filha
Apoiando os pais na velhice,
Ou guiando à velhice os pais.

terça-feira, 21 de maio de 2019

Poema: "Prata", de Erivelto Reis


Prata
Erivelto Reis
Para Gloria Regina, em nossas Bodas de Prata

comparar amor
não é ocupação de quem ame
nada se compara ao amor de quem ama
e nenhum sentimento se compara ao amor
que há, que houve e haverá
amar preenche a moldura da existência,
o encaixe da montanha de emoções
com o mundo que há em volta
o espaço entre o primeiro e o último suspiro
entre a primeira ideia e o último fio de juízo,
entre todas as noites de amor
e cada madrugada à espera, insone...
amar é dar ao amor um nome
e o meu amor tem em você a fonte,
tem memória, sensação, história
meu amor tem seu nome,
Gloria.

domingo, 19 de maio de 2019

Poema: "Peregrino", de Erivelto Reis


Peregrino
Erivelto Reis
Para o Jean e para o Cícero

cuida
porque não sabes
quando e como
tuas dores
servirão de experiência
e alento a outros
cuida
de passar por teus percalços
de cabeça erguida
pois que lavar a alma
depende de cura
e é esta a aventura
da vida
cuida de teu pranto
e de teu sorriso
contra o tempo
apesar do tempo
e do espírito
que não se esvai
mas esmorece
cuida de aprender
para si
de aprender para ensinar
mesmo sem sentir
de não desistir
e não se evadir de si
para estar onde estais
e para sair 
do vale onde se encontre
para onde tens de chegar
para onde tens de ir
cuida
cuida com carinho
vai andando, vai
teu lugar é quando
tua luta é essa, peregrino.


sexta-feira, 10 de maio de 2019

Poema: "Como é e como se parece", de Erivelto Reis


COMO É E COMO SE PARECE
Erivelto Reis


Como é e como se parece
ensinando léguas
nos pés
as asas de hermes
as palavras
salivam medos
como é e como se parece
um santo sem prece
um deus sem pressa
um monge que se estressa
rústico resort de riscos
como é e como se parece
o dia que nunca chega
o golpe que nos devolve
à estúpida convicção
como é e como se parece
a inteligência desatenta
grávida de gêmeos:
vaidade e perseverança
como é e como se parece.
murmúrio de desculpa que se impeça
carta de impróprio punho
murro na cara,
denúncia canalha,
carro caro faltando peça
histórico de busca sombrio
histórica derrota repetida
como é e como se parece
notório anônimo
que todo mundo conhece
quando é...
e quanto se parece.

quarta-feira, 24 de abril de 2019

Poema "Soleil", de Erivelto Reis


Soleil
Erivelto Reis

Que este poema é um circo
só o público,
se houver público, não sabia!
Gargalhadas são ouvidas
enquanto as metáforas-palhaço
tropeçam na gramática
perecível da palavras
poema, poesia,
respeitável...
Lá no alto da lona
o poeta vai à lona,
o leitor vaia
e aplaude com as pálpebras,
eventualmente,
com um sorriso esboçado
com uma lágrima derramada.
Há um trapezista apaixonado
escrevendo confissões
que chama de poemas.
Entre uma queda amorosa e outra
que pode, por força da inércia do amor
e da gravidade de amar,
muito bem ser a última...
Há um domador de feras, criador de jaulas,
tentando domar a si mesmo,
fera humana de sarcasmo,
autopiedade e egoísmo...
Nesse número, muitas feras são sacrificadas
e muitos domadores morrem.
Ninguém é feliz por mágica,
não tente fazer isso em casa.
Que este poema é um circo
só o público,
se houver público, não sabe ainda!
Ninguém nota...
Outra forma de espetáculo
é observar a lástima
julgando-se a salvo (por enquanto).
No céu da boca
ocorre o equilibrismo dos silêncios
e o malabarismo de não precisar
prestar atenção às ironias
que mastigamos e engolimos como pipocas!
Não é show o amor que para,
que não continua...
Indócil, já outra plateia se insinua.

Poema "Poli", de Erivelto Reis


Poli
Erivelto Reis

“Sólido limitado por polígonos”,
Ignorância e fascismo
Mas “tudo que é sólido desmancha no ar”...
Um objeto com várias faces
E nenhuma identidade
Com a Democracia, a Educação e a Liberdade...
Poli
Conte sua versão do horror
Da pluralidade
Duas caras: ensinar a pensar,
Não pensando?!...
Tô aqui pensando:
Tenho asco e luto!
Sei que o medo entre os boçais será maior.