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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Poema: "Sobre a profundidade dos rasos", de Erivelto Reis


Sobre a profundidade dos rasos
Erivelto Reis

Saramago não está mais no mundo,
Borges e Ícaro abandonaram os seus labirintos,
Sísifo desistiu de tudo,
O cão das lágrimas nos evita...
Nossa embarcação flutua sem direção,
Submerge um pouco a cada estúpida decisão
Que tomais...
É longe pra buscar um porto,
É tarde pra voltar ao cais...
A Literatura e as Artes
São as únicas coisas que os bárbaros temem!
Os manuais eles conhecem
De cor e sem amor e remorso.
Nossa cegueira é irrestrita,
E nossos olhos ardem.
Sei muito bem quais os vossos planos:
Sorriam mais,
Vossos dentes e expressão do rosto
Simulam gestos humanos.
Vossas atitudes cortam nossa carne como bisturis...
Desistiremos?! 
Sobreviveremos em um navio fantasma?
Naufragaremos?!
Fugiremos a nado,
Desafiando as ondas, a profundidade,
O cansaço e a correnteza?!
Consertaremos o rombo no casco?!
Somos presas fáceis de vossas ideias vis... 
Jazemos num navio, 
Subitamente, tomado por zumbis e ratos.



terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Poema: "Tantinho da Vida", de Erivelto Reis


Tantinho da Vida
Erivelto Reis

Martinho da Vila,
Martinho da vida...
Há mar nessa tua praia que são o Samba,
A Literatura e o que mais quiseres.
Martin Luther luta lá...
Mandela por África e por nós
E não é marketing,
Pela arte, segues o exemplo:
Em Lisboa, por aqui e em Luanda,
A tua música é boa, tua escrita encanta.
O mundo é tua Vila...
E a Vila é a Avenida em que sambas e te deleitas.
Onde encantas em Português, em Quimbundo.
Martinho canta, anda, luta e dança...
Devagar e com axé, pintaste tua aquarela,
Fizeste tua Ópera Negra, tua Kizomba...
Sem parar, deixas a tristeza pra lá.
Batuqueiro, na tua casa de bamba
Madalena, o ex-amor e as mulheres que tiveste,
São prova inconteste do quanto amaste, apesar e além da disritmia do amor.
Entre um e outro ato, ainda uma vez mais,
Elifas Andreato ilustraria a força de tua energia ao subir no palco,
Rodeado por deuses, musas e orixás.
Noel e Donga te reverenciariam, Ismael e Silas te aplaudiriam,
Tirariam a Cartola, tocariam pra ti um Pagodinho,
À sombra de um imenso e Nobre pé de Jamelão, de uma Mangueira,
Acompanhados por Neguinho de tua coirmã,
Por Paulinho da Viola, Arlindo Cruz, Nelson Cavaquinho,
Alcione, Beth Carvalho e Leci Brandão,
Jovelina, Clara Nunes e Dona Ivone Lara pronunciariam, em coro, o teu nome,
Irmanados para sempre no espaço lúdico-celestial do samba-(canção),
Fizeste da alegria a tua Porta-bandeira.
E, no entanto, tua humildade faz de ti
Semelhante ao passista mais apaixonado e anônimo,
Ao trabalhador mais simples que houver no barracão:
O samba é teu homônimo, é tua escola, tua raiz.
Canta, escreve e compõe, Martinho!
Que é pra deixar o meu povo
Um tantinho da vida mais feliz.


domingo, 18 de fevereiro de 2018

Poema: "A INTERVENÇÃO COMEÇOU QUANDO:", de Erivelto Reis


A INTERVENÇÃO COMEÇOU QUANDO:
Erivelto Reis

A Escola foi abandonada à mingua,
O Professor teve sua importância relativizada,
Os políticos foram endeusados,
O serviço público, dilapidado,
E o servidor, satanizado.
A intervenção começou quando:
Deixaram de pagar o que deviam,
A Universidade sofreu tentativa de desmonte,
Os conchavos se alinharam,
Os bens públicos e os direitos adquiridos
Foram alvos de desmanche.
A intervenção começou quando:
Os que se sentaram à mesa de comando não sabiam comandar,
Mas eram simpáticos e subservientes aos interesses
Que os alçaram ao ponto, ao posto a que aspiravam.
A intervenção começou quando:
Os mais experientes assistiram a tudo,
Aguardando o expediente acabar...
Mas com a premissa de que sua experiência
Conferia-lhes status de não ter de responder a nada nem a ninguém.
A intervenção começou quando:
O patrão bem ou mal intencionado não quis valorizar e pagar o ordenado ao empregado,
O colocou ao rés do chão, ameaçado, amedrontado e humilhado.
Não é o general, não são os criminosos, os tanques e os traficantes:
Nem os milhares de problemas, nem os milhões de reclamantes...
A intervenção começou antes...
Não são os bilhões desviados,
Os direitos cerceados e os deveres renegados,
A propina, a criança abandonada, a cracolândia na esquina...
É a falta de respeito, de ética, de hombridade e honradez
Que elegem o mal como sina.
A intervenção começou quando:
Tínhamos horizontes e eles nos foram tirados.
Há medo, muito medo!
E isso não é segredo.
Ora a violência, ora a prepotência e a arrogância do poder,
E de quem pensa poder...
Relegam-nos ao degredo.
Com medo de o remédio ser veneno,
Exilados em nós mesmos,
E no país em que vivemos:
Perecemos.