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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

sexta-feira, 24 de julho de 2020

Poema: "1975-1976", de Erivelto Reis


1975-1976

Erivelto Reis

Há homens que rezam cantando,
Escrevendo um poema,
Compondo...
Há homens e mulheres para os quais
A arte é o único plano.
A arte é a luta armada do grito impedido, sufocado,
Em favor dos desaparecidos, dos torturados, dos executados...
É o drible da inteligência e da sensibilidade
Na obtusa violência dos comensais,
Que jogam em campo aberto no país do futebol.
Os vis homens maus que comandam as capitais,
Os calabouços, os porões e os arsenais.
Há homens e mulheres
Que prestam culto aos deuses,
Pintando, representando, escrevendo textos
Insanos de tão verdadeiramente corajosos.
Moças e rapazes vibrantes de tão talentosos e capazes!
Há homens e mulheres cujas ideias tenazes
Não param de criar meios e obras vigilantes,
Enquanto esperam a volta dos amigos e familiares
Enquanto não chega o seu dia, se ele houver de chegar,
Há os que visitam valas, cemitérios,
Vilas, becos e necrotérios.
Uma mãe sem o filho, um pai, um irmão,
Uma filha cujo corpo conspurcado,
Jaz despedaçado de tão violado...
Há homens que odeiam deus
Como um trauma, uma ferida ou um choque nos genitais...
Como não poder rever seus parentes,
Por não ter o mais primitivo direito à paz!
Homens e mulheres insones... cuja brutalidade do que sofreram
Jamais há de apagar seus nomes.
Há homens e mulheres que saíram para trabalhar, lecionar ou estudar
E que não voltaram nunca mais...
Como barcos naufragados num vendaval
Que os encontrou na rotina de estarem atracados
Num país de cais, cercado de caos por todos os lados.

sexta-feira, 10 de julho de 2020

Crônica: "O teu patrão", de Erivelto Reis

O teu patrão (11-7-2019)
Erivelto Reis
Teu patrão tinha uma raiva estúpida de seus direitos como trabalhador, de te encontrar, ainda quando em sua mesa houvesse apenas um único chopinho, no bar badalado em frente à praia, ou na fila do cinema do shopping da moda, ou de descobrir que você, durante as férias, à custa de muita hora extra e economia, juntou um dinheirinho para dar uma passeada. Teu patrão tinha nojo de pessoas como você que encontrava no aeroporto: ele, indo viajar pelo mundo com o espólio canalha do lucro aferido pela exploração de sua força de trabalho e da de seus irmãos trabalhadores e trabalhadoras; você, finalmente voltando talvez para o último abraço em um pai e uma mãe que ficaram tristes em algum recanto desse país quando você se lançou na correnteza de exploração e ganância desses dragões e feras das grandes capitais. Teu patrão desdenhou secretamente quando você deu a notícia: "é, doutor, os menino agora tão na faculdade. Vão ser doutor também!". Teu patrão, se não agiu assim, é teu irmão é digno e decente. Mas os que agiram e sentiram e pensaram secretamente a divisão de classes e a tua inferiorização como homem e cidadão, agora e já de há algum tempo, já o tem feito à luz do dia, abertamente como o supra sumo de todos os discursos. Eu tenho medo, muito medo de pessoas iguais ao teu patrão. Porque eu sou apenas isso: um trabalhador igual a você.

Sobre o papel de professores e artistas durante a pandemia, texto de Erivelto Reis

Se você ainda não parou pra pensar que cada professor ou professora, escritor/a, produtor/a cultural que já escreveu um artigo, uma crônica de cinema ou qualquer outra, um poema, fez uma aula on line, um sarau, uma interação on line, propôs uma reflexão sobre as artes, uma performance... e que cada artista que dialogou, encenou, cantou, apresentou seus quadros, fotografias... apresentou um trabalho sem recurso ou apoio - independentemente de juízo estético sobre tal expressão ou performance -, já fez mais pela educação e pela cultura do que os referidos ministros e secretários das pastas em todo o período da pandemia e do isolamento social, você deveria refletir. É urgente.

Poema: "Catedrais", de Erivelto Reis

Catedrais
Erivelto Reis

Os homens e suas catedrais:
Ei-los: vazios dos sentidos das palavras
Vazios do sentido de haver deus.
Para aqueles cujas existências
Façam algum sentido
Há a arte e a poesia
A mediar os conflitos,
Entremeadas por silêncios e ritos.