1975-1976
Erivelto Reis
Há homens que rezam cantando,
Escrevendo um poema,
Compondo...
Há homens e mulheres para os quais
A arte é o único plano.
A arte é a luta armada do grito impedido, sufocado,
Em favor dos desaparecidos, dos torturados, dos
executados...
É o drible da inteligência e da sensibilidade
Na obtusa violência dos comensais,
Que jogam em campo aberto no país do futebol.
Os vis homens maus que comandam as capitais,
Os calabouços, os porões e os arsenais.
Há homens e mulheres
Que prestam culto aos deuses,
Pintando, representando, escrevendo textos
Insanos de tão verdadeiramente corajosos.
Moças e rapazes vibrantes de tão talentosos e capazes!
Há homens e mulheres cujas ideias tenazes
Não param de criar meios e obras vigilantes,
Enquanto esperam a volta dos amigos e familiares
Enquanto não chega o seu dia, se ele houver de chegar,
Há os que visitam valas, cemitérios,
Vilas, becos e necrotérios.
Uma mãe sem o filho, um pai, um irmão,
Uma filha cujo corpo conspurcado,
Jaz despedaçado de tão violado...
Há homens que odeiam deus
Como um trauma, uma ferida ou um choque nos genitais...
Como não poder rever seus parentes,
Por não ter o mais primitivo direito à paz!
Homens e mulheres insones... cuja brutalidade do que
sofreram
Jamais há de apagar seus nomes.
Há homens e mulheres que saíram para trabalhar, lecionar
ou estudar
E que não voltaram nunca mais...
Como barcos naufragados num vendaval
Que os encontrou na rotina de estarem atracados
Num país de cais, cercado de caos por todos os lados.