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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Poema: "Estilhaço", de Erivelto Reis

 

Estilhaço

Erivelto Reis

 

Ninguém saiu imune de 2020...

Ninguém saiu ileso desse ano triste!

Mesmo os recuperados,

Os de maior idade... os vacinados.

Ninguém saiu sem marcas,

Nem conseguiu ainda juntar todos os cacos.

As pessoas perderam o sono, o emprego,

A saúde e gente amada...

As pessoas se perderam de si mesmas

E muitas delas talvez ainda não se tenham encontrado.

2020 foi um ano irremediável!

Um ano sem cura,

Um ano de medo, de incerteza, de loucura...

Em que os canalhas, tiranos e corruptos

Mostraram muito de todo o potencial

De sua fúria, de seu ódio, de sua crueldade...

Em que a coragem de pôr a cara na rua

Foi a necessidade da força de acreditar

Que a vida se reinventa, cessa, mas que o mal passa.

E surgiu do âmago de gente simples, trabalhadora e capaz,

Da arte, da cultura, da música, da Literatura...

Surgiu no ecrã da tela, no áudio, no podcast

2020 ruiu por completo com qualquer plano, projeto...

E deu lugar ao reparo, à reconstrução

Foi um vale de lágrimas

Cujas sequelas acompanharão muita gente pra toda vida.

2020 nos ensinou a perder muito

E a dar mais importância a cada pequena vitória.

Se você não abriu mão de sua dignidade, de sua humanidade,

Do seu respeito, de seu amor próprio

E da empatia pelo próximo

E do cuidado e da proteção aos seus,

Você venceu 2020!!!

Não saiu ileso, não saiu imune, mas venceu...

Que continue são e sã...

Que continue a salvo.

Aplaudo sua luta

E me solidarizo com a tua tristeza.

2020 foi um ano triste:

Vitrine estilhaçada de nós mesmos

Reflexo de aprendizado,

Traumática experiência

Regada a lágrimas de dor e de susto

Adeus, 2020,

Ano de silenciamento e soluço...

sábado, 26 de dezembro de 2020

Poema: "Croc, croc", de Erivelto Reis

 

Croc, croc

Erivelto Reis

 

Aceite esse conselho

Persevere, não acuse, mas denuncie o golpe:

Que o castigo vem a cavalo, a galope!

Não é trote, é só mais um croc,

Croc, croc vai roendo a educação...

Não é trote é só mais um croc,

Croc, croc vai doendo o coração.

Não é trote é só mais um croc,

Croc, croc devagar devastação...

Croc, croc consolidar a servidão.

O aluno cheio de problema na família,

O professor sendo obrigado

A construir a ficção numa planilha

Gastando a sua net, sua saúde, sua energia

E todos os seus momentos não remunerados

Preenchendo infindáveis documentos...

Eita, herói mais zoneado!

Eita, herói ironizado,

Sem valor, sucateado,

Eita, herói com seus poderes

De fazer voar tão cerceados!

Os corruptos e os incompetentes,

A cada dia mais, saindo da casinha, dos casulos

Usando contra nós, para calar a nossa voz

O amor de todos nós

Pela educação e por nossos alunos.

Croc, croc vai doendo o coração

Croc, croc implementar devastação.

Croc, croc consolidar a servidão...

 

 

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Poema: "Maria Bethânia", de Erivelto Reis

 

Maria Bethânia

Erivelto Reis

 

Para Cinda Gonda

 

Cinda é a Maria Bethânia da academia.

Ninguém mais humano, tão talentoso quanto,

Mais simples no complexo ofício do lúdico

E mais humilde no abraçar e agradecer.

O que não significa necessariamente

Que não haja outros e outras

Tão inspiradores e inspiradoras

Ao parecer do idealizado enleio de nossos afetos,

De nossa admiração fraterna e filial

Por nossos professores e professoras.

Ninguém há mais endossada para a defesa

Dos apanhados e apanhadas nas teias labirínticas

Das vaidades e das veredas entre a margem do que

É sonho e, às vezes, pesadelo...

Cinda tem a manha, tem a sanha, tem o jeito

É Santa, Bárbara, senhora dos navegantes!

Seus atlânticos domínios nos unem ao nosso passado

Ao chão e ao solo dos nossos antepassados...

Bramindo a espada dos orixás contra a ira sonsa

E silenciosa dos fascistas, coronéis e neocoloniais.

Entregando avisos, lições, poemas, cravos e rosas

Às pessoas que se julguem poderosas.

Os fios de seus longos cabelos

São texto e contexto de lutas tantas, muitas colossais.

E ainda digo mais:

São suas lágrimas por nossas vitórias,

Sua vontade de agregar e sua inabalável disposição para lutar

Que fazem com que o mundo que conhece,

Seu vasto repertório artístico, acadêmico e intelectual,

Sejam quase coadjuvantes do seu dom de ser e de ensinar.

Irmã, amiga, mãe e advogada nossa, porto seguro e linha de chegada...

Ao que não se faz de rogada, compadecida dos/as injustiçados /as

Do mundo e dos graduandos/as e pós-graduados/as.

Cinda sabe onde pisa, sabe por onde anda...

Sabe bem que às vezes tiram as coisas do lugar

Para depois dizerem que nossa mão não as alcança...

Tem a ética de quem não se apanha

Por vaidades e conveniências momentâneas

Feitas por exercícios arbitrários de poder e ar

Canta Grândola, Vila Morena,

Que a revolução não tarda a começar...

Poema: "Ah, teu...", de Erivelto Reis

 

Ah, teu...

Erivelto Reis

 

Senhor, vos agradeço nesta hora,

Por ter mais uma graça grande e boa.

Sabeis que ontem, hoje e agora,

Meu êxito é criticar qualquer pessoa.

 

Protegida por um manto que só eu vejo,

Contra ímpios e impuros, de acordo com meu tino,

Insulto, discrimino e praguejo...

Pela boca excretando o que me sai do intestino

 

Minha bile equivale à minha fé e ao meu desdém.

Nem senso, autocrítica ou equilíbrio me detêm!

Condeno com a altivez de um pelego.

 

Exijo o respeito que sonego,

Disfarço a inveja com calúnia porque me convém,

Fazer muita maldade é o que eu faço bem.

 

 

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Crônica: "Conselho", de Erivelto Reis

                                                                            

Conselho

Erivelto Reis

 

Pertencem ou descendem ou se enquadram em duas linhas mestras aqueles que pretendem ascender aos quadros da docência no ensino superior no país.

Sua atuação ocorre sem que necessariamente haja implicação na basilar existência, desde as grandes instituições até as pequenas, cooptando e/ou direcionando os rumos de sua atuação e de seu funcionamento: o grupo dos opressores e o grupo dos oprimidos. Não importa se na tecnologia, na medicina, nas humanas ou exatas.

Os opressores veem o ensino superior como um pódio, um patamar intermediário entre a vitrine de suas vaidades, como um espaço deliberadamente exclusivo e confortável a que pretendam atingir. Favorecem-se pelo prestígio de que gozam tais instituições, frente a uma sociedade ainda em evolução com graves problemas políticos, econômicos, culturais e sociais. E assim protegem a mediocridade de suas intenções, mascaram-nas através de projetos pouco relevantes ou preferencial e disfarçadamente excludentes. Traficam relações que podem trocar por falso(s) afeto(s), vantagens pessoais, sejam elas quais forem. Coisas que até poderiam bancar com seus próprios recursos e, talvez, até mais sofisticadas e especiais se lhes fossem concedidas ou conquistadas em outras áreas profissionais. Mas estes as querem com o bônus de as terem conquistado pretensamente por seu potencial intelectual.

Querem-nas com o dinheiro público, para que outros/as simplesmente não as tenham, ou como o reflexo do prestígio de suas relações interpessoais. Querem-nas financiadas para si, por mais escassas e raras que sejam, escandalosamente selecionadas a despeito de haver outros projetos mais relevantes e abrangentes, como um fator confirmador explícito ou implícito de seu valor intelectual.

Estar é o ponto. É o auge. Ser é incidental, ocasional e seletivo.

Os de sua predileção gozam de gentilezas, contatos, atenções, apoio, indicações e quaisquer ações facilitadoras de seu trajeto, desde que este evidencie a “genialidade” de seu tutor ou mimetize seus traços mais marcantes, eventuais teorias ou constantes idiossincrasias.

Nota-se, portanto, no comportamento dos opressores que ascendem aos quadros do ensino superior que nada lhes é mais caro do que o vaticínio de suas pretensas capacidades em detrimento de suas reais obrigações.

E há as situações em que aqueles que descendem ou pertencem historicamente ou se enquadram no rol dos oprimidos ascendem aos quadros do ensino superior.

Para estes há duas escolhas: mimetizar mambembe das péssimas práticas dos opressores, criando para eles e contra si mesmo novas e mais insidiosas práticas de opressão (em médio e longo prazo), ou lutar para que a opressão cesse através da pesquisa, da empatia, da extensão, da construção permanente de pontes de diálogo, da batalha contra o ego e distorção de sua autoimagem em função da urgência e da importância de sua atuação e de seus atributos intelectuais ou dos constantes e intensos ataques depreciativos às suas atividades. Além da luta óbvia contra quem não sabe o real valor da educação, negacionistas, intervencionistas, políticos mal intencionados e conglomerados que querem fazer da educação um negócio ou simplesmente contra aqueles e aquelas que querem atuar num determinado campo profissional sem fazer jus, ética e tecnicamente, ao diploma que pretendam.

Os que ascendem aos quadros do ensino superior oriundos das classes oprimidas compõem, em geral, o perfil dos profissionais que tornam orgânicas, transparentes e acessíveis as funções sociais, acadêmicas e de transformação pessoal e coletiva produzidas pela formação em nível superior. Os oprimidos produzem bons trabalhos recorrentes. Os opressores fazem de seus resultados um périplo e de suas ideias uma grife.

Pode ocorrer e ocorre com frequência que oriundos dos opressores e dos oprimidos coexistam em atividades no ensino superior. O embate é constante, quase sempre silencioso e, não raro, usa os discentes, as publicações, direcionamento de verbas e recursos (até mesmo equipamentos e disponibilidade de salas), prestígios externos ao terreno das funções e atuações acadêmicas, relações de afinidades eletivas e coligações político-partidárias como escudo ou como arma.

As batalhas são travadas a partir de inúmeros artifícios: no dia a dia, nas funções e atribuições acadêmicas cotidianas, na oferta, direcionamento ou cancelamento de bolsas, nas congregações, nos sindicatos, nas plenárias, nas escolhas dos projetos que são apoiados e prestigiados, em proibições explícitas ou veladas e na estigmatização de determinados perfis profissionais.

Chefes, diretores, reitores opressores estimulam a capilaridade da opressão em nome da produtividade e da seletividade nos espaços acadêmicos.

Chefes, diretores, reitores oprimidos podem tornar-se opressores quando alçados ao poder dentro dos quadros do ensino superior. Mentir, negligenciar, omitir e/ou enlouquecer tentando impedir que os opressores façam mais estragos do que costumam fazer.

É possível aprender com o opressor.

É possível aprender infinitamente mais e com mais qualidade com o oprimido.

O opressor pressente, desde os primeiros momentos, a presença de oprimidos prontos a se rebelarem contra seus desmandos e sua vaidade entre as fileiras de seus alunos e alunas. Como também reconhece e forma rapidamente seu séquito de aduladores/as.

O oprimido semeia a transformação equânime e rapidamente angaria detratores e desafetos prontos a desdenhar de suas capacidades, espalhar inverdades e imprecisões a seu respeito e a debochar de tudo que seja qualidade natural no oprimido e que, segundo sua visão distorcida, possa ser usado para tentar torná-lo em uma cruel caricatura de pessoa e profissional.

Entre as inúmeras coisas que o opressor não pode ensinar existe uma que ele sequer consegue mimetizar: o desejo de que o outro seja livre e de que estimule outras pessoas a serem livres também.

Pode mimetizar a escrita, a postura, um interesse pelo outro... Mas ensinar a ser livre é para poucos. Para pouquíssimas pessoas. Carece de exemplo, empatia, paixão por algo além de si, mas que se busca, mesmo já havendo tanto encontrado, na experiência de lidar com o outro. Porque nisso reside a essência da Educação. Um perfume tão sutil e tão maravilhoso que os opressores podem simular que sentem sem senti-lo ou distingui-lo de outras fragrâncias.

Ser livre é tornar-se livre.

O opressor apenas consegue parecer livre enquanto aprisiona os outros.

Como você gostaria que as novas gerações encontrassem e fossem recebidas no ensino superior? Um campo a ser semeado ou um campo a ser desminalizado. Como você quer sair do ensino superior?! Livre para a sua vida, seu trabalho, suas escolhas e sua família... Ou fadado ao constante tributo de aprisionar, ao fardo de estar preso à desigualdade e à injustiça por uma falsa educação que não ensinou você a amar? Por uma lição que você não quis aprender?

 

 

 

 

 

sábado, 31 de outubro de 2020

Poema: "Eviscerado", de Erivelto Reis

 Eviscerado

Erivelto Reis

 

Quando a morte vier me pegar,

Vai ficar desapontada!

Vai cumprir o seu dever,

Mas vai ficar transtornada.

Não haverá nenhum ai,

Nem bônus, nem um plus...

Não importa quem seja seu pai:

Não poderá se queixar ao diabo,

Não poderá se gabar pra jesus.

 

Quando a morte vier me encontrar,

Quando eu me quedar morto...

O que ela encontrará é quase nada:

Metro e meio de um corpo, arbusto apenas,

Já sem fruto, ao largo de qualquer estrada.

Não haverá alma para aproveitar,

Não haverá nada a compreender,

Tudo já terá sido dito, vivido.

Não haverá nada porque se arrepender.

 

Quando a morte vier, soberba, altiva

Minha palavra estará dispersa, antes tão dispersiva,

Travesseiro de penas,

Eviscerado na janela do mundo.

Mesmo que ninguém conheça, leia ou ouça

O que escrevi e o que me esforcei pra explicar,

Minha vida, esse inútil bibelô de louça,

Útil apenas pelo que significar

Para mim mesmo ou para quem bem me queira.

Vai deter-se na orla do meu não mais ser e do que jamais serei,

Vai ficar de fora de tudo quanto eu inventei.

 

E pouco importa se não houver céu,

Se eu não for troféu, cebola no olhar de ninguém...

Emoção ferida, saudade sentida,

Lenda, lição de vida, piada pronta

Que nunca fez ninguém rir.

Destroço de acidente no calendário:

“É... foi nesse dia que ele morreu”.

Se o outro não se comove, como logo eu,

Morto, haverei de sentir?!

 

Poupem-se os eufemismos

Para os que os merecerem

Para os que perecerem em vida...

Quando a morte vier, à maneira de Bandeira,

Estarei de saída, desde que iniciei a lida,

Mas não a cumprimentarei, não haverá saudação.

Serei uma corrida perdida.

Ela voltará para sua casa, na cidade de pesadelo,

Dirigindo puta, o carro uno de sua fúria,

Maldizendo o fato de não ter-me visitado antes.

E terá plena certeza de que perdeu

Um cara de sorte.

Que ela maltratou bastante,

Tirando pessoas muito importantes

Do rol de minhas convivências.

Mas nunca de minha memória e de meus afetos.

Chocada, constatará:

“Não pude matar o Erivelto”.

 

Quando a morte vier,

Decrépita em seu intento

Já não poderá tocar-me.

Terei partido

Infenso às suas garras e seu tempo.

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

EPÍSTOLA 3 - PARA CÍCERO CÉSAR

 

Aqui, 30 de outubro de 2020.

 

Prezado Cícero César e seus companheiros e companheiras:

 

Não vai ser a última vez que assistiremos a uma ebulição popular dessa magnitude como a que o povo chileno mostrou ao mundo. Tampouco, receio que essa manifestação não desperte em nós o sentido de mobilização, em face à corja que nos governa. Mudar as leis, chantagear trabalhadores e trabalhadoras com o sequestro e aniquilação de seus direitos mais básicos; apresentar o estado como inimigo do cidadão e o contribuinte como dependente de esmola, beneplácitos do poder público. A depender de quem governe, nem o ar que respiramos será saudável.

Não tenho esperança na empatia da elite pela classe de trabalhadores/as. Seu asco ao intelecto dos que servem é como um preconceito pós-colonial jamais curado. Antes, quando não havia um celular em cada mão e uma rede social de fuga e marcha – às vezes pra lugar nenhum ─, silenciar a voz do empregado, do contratado, do “classe média baixa”, do professorado era só uma questão de demissão simples, de mudar de andar, de repartição, de chefia, de função: agora é preciso aniquilar a honra, humilhar publicamente, corromper os de entorno e vender caro ou barato – pouco importa ─, a tranquilidade de seu sono e de sua estabilidade econômica, psíquica e emocional.

Para tamanha crueldade estatal, privada e/ou institucional, a propaganda, os conchavos, os conluios, a desvalorização do discurso e a supervalorização da hierarquia têm servido aos seus propósitos. É sentar-se na cadeira e supor-se o cargo que ocupa. Raros homens e mulheres distinguem-se ou recusam funções em que precisem afrontar seus próprios princípios e subjugar e vender e trair seus semelhantes. Nem tão comuns são os profissionais que na coisa pública, no serviço público, se dedicam com a qualidade que pretendem demonstrar no setor privado. E tantos têm sido os que, ancorados na vida pública, a degradam, denigrem e a usam para compor uma ópera de escárnio contra terceiros, desafetos e divergentes de suas nefastas práticas.

Também me lembro do filme O Carteiro e o Poeta, do Antonio Skármeta e de como me emocionei ao vê-lo, recentemente, no filme do Selton Mello O Filme da Minha Vida, também baseado em sua obra, no livro Um pai de Cinema. O personagem Mario Ruoppolo, o carteiro que aprende a força das metáforas e ensina ao poeta que a poesia é de quem precisa dela, torna-se gradativamente, à medida que tem contato com a arte da literatura, um ser político, crítico. Seu primeiro poema: “as redes tristes de meu pai”, escrito em homenagem ao pai que era pescador, empresta-nos a dimensão de que nossa dor só pode ser arte, depressão ou revolução quer a expressemos ou não.

Este é um tempo de ausências e de exílios. Temo que seja pior ainda para os nossos filhos. Temo por nossa profissão, por nossos alunos e pela escravidão hi-tech do desprezo à arte, ao outro e suas experiências subjetivas, à ciência, à escola e à democracia. Trocam-se afetos reais por likes por impulso e por ocasião, imaginação, por nudes e microvisualização, dias de sol ou nublados pela luminosidade do ecrã da tela.

Vi A Liberdade Guiando o Povo, de Delacroix na imagem da manifestação recente que mobilizou o Chile e que correu o mundo. Penso, no entanto, que muita gente não entendeu quase nada.  Penso que só quando alguém - entre os infames que partidarizam a questão -, for injustamente acusado e falsamente julgado e for preso por corruptos mal intencionados é que as pessoas entenderão o teatro de horror do nosso país. Também me lembrei do impactante Democracia em Vertigem, da Petra Costa e do documentário Uma noite em 67, do Ricardo Calil e Renato Terra. Nossos medos conversam no Brasil e no mundo através da história da democracia nos países da América do Sul. E as histórias que contam são de tortura, assassinato, trapaças e corrupção. Os ricos desses lugares têm ojeriza aos mais pobres. Roubam seu tempo, mesmo se pagam por ele.

Vivemos na época explícita do racismo, machismo, da violência, da corrupção e do clientelismo. Sinto, às vezes, que a estupidez parece mais insistente do que a sabedoria.  Não há antibióticos para o fascismo.

Já faz um ano e vivemos as mesmas coisas todo dia.

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

MINHA VIDA EM IMAGENS 8














 

MINHA VIDA EM IMAGENS 7











 

MINHA VIDA EM IMAGENS 6






























 

Poema: "Postiço", de Erivelto Reis

 

Postiço

Erivelto Reis

 

Serviço

Os santos e os dias santos sabem

Que eu não tenho culpa alguma nisso

Vício

Os santos e os dias santos sabem

Que eu não tenho culpa alguma nisso

Compromisso

Os santos e os dias santos sabem

Que eu não tenho culpa alguma nisso

Viço

Os santos e os dias santos sabem

Que eu não tenho culpa alguma nisso...

MINHA VIDA EM IMAGENS 5