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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

quarta-feira, 26 de junho de 2019

Poema: "Sobre educar", de Erivelto Reis

Sobre educar
Erivelto Reis

Educar 
é a arte de adestrar 
os pássaros 
aos voos 
que já sabem 
e à liberdade 
que já conhecem.

Poema: "Adega", de Erivelto Reis


Adega
Erivelto Reis

É preciso tirar o sal da vida,
do rosto, retemperar o amor.
É preciso fomentar, dessacralizar a poesia
para que reste um texto e não só um rótulo,
uma botija de um litro, um tonel de nada,
um cálice do mais cálido licor...
Envasá-la, armazenar seu aroma
no fundo da alma em constante dissabor.
Pode ser embalada em tecido fino ou
no trapo desatino roto do cotidiano
do susto e do perigo de estar vivo.
E que pese sobre ela – a poesia –,
o único despretensioso plano de um momento
em que se possa chegar ao final e no qual se diga
─ Valeu a pena esse dia!
A quem caberá tal tarefa, tão litígio?
Ao leitor, presumo:
pássaro livre de pluma e chumbo...
De tudo quanto for possível:
o suspiro, o arrepio, o testemunho,
a confissão, o extravio de si
por qualquer um em quem a poesia toque.
A incerteza de cada palavra
como o suave gole de um bom Porto,
uma amizade, um amor, um pouco de conforto,
um cabernet sauvignon, um malbec,  um merlot...
palavras, como vinho tinto,
fermentando em nossa adega, ficando mais velhas
à medida em que melhoram e talvez nos ajudem
a escapar das paredes de nosso próprio labirinto.


sexta-feira, 21 de junho de 2019

Poema: "Inventário", de Erivelto Reis

Inventário
Erivelto Reis
Que era lírico, mas era feio,
Que era lindo de tão feio!
Que não era lírico,
Era dramático e enigmático
E por isso apiedava, agredia ou encantava:
Um Vesúvio em estado de dilúvio
Um inferno de lava, lama e quase cem palavras
Por isso tão grito, tão crítico
Por isso tão empático, tão estático...
Um que era sobre nada,
Sobre a infância
Ou sobre um amor sem fechadura.
Um que era sobre amargura
Sobre depressão, solidão e náusea.
Um que era sobre voltar pra casa
Ou sobre um olhar que mudou tudo.
Um que era sobre as perdas,
Um disfarçado ementário de derrotas
Ou explícito pedido de ajuda,
Autocomiseração e súplica.
Um que era sarcástico,
Autoirônico e sem destino.
Um que não tinha rima,
Um que não tinha rumo,
Um que levantava um muro,
Um tão violento quanto um murro!
Outro que eu queria que tivesse sido meu
E que jamais saberia ter escrito.
Um do Espírito Santo,
Um que era um ponto de espantar quebranto.
Um que veio direto das retóricas de boteco
Um soprado pela musas do Olimpo:
Uma vez limpo o coração,
Eus e sujeitos líricos
Colonizam a consciência...
Tem tanto poema prematuro,
Tem tanto poeta precoce,
Tem tanto poema natimorto,
Tanto poeta morto-vivo,
Tanto poeta morto, Vivo.
Tanta poesia nas coisas mais secretas,
Tanta beleza no arranjo e no ritmo
Com que se inventam metáforas.
A poesia é um rio de muitas mágoas,
Uma estrada de muitas léguas,
Que não se sabe pra onde vai...
Um Dédalo, um Quixote, um Ulisses.
Um sábio dizendo sandices
Um santo, um mártir,
Um lugar, um jamais...
As palavras se tornando imortais
Um filho ou uma filha
Apoiando os pais na velhice,
Ou guiando à velhice os pais.