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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Poema: "Dactiloscopia", de Erivelto Reis

 

Dactiloscopia

Erivelto Reis

Para o House

 

O luto é a décima primeira impressão digital.

Depois dele, em tudo o que você tocar,

A marca permanece...

É a memória que o Alzheimer não alcança

É o milissegundo em que a criatividade fica inerte.

Arcos, presilhas, verticilos

Um raio explodindo o hipotálamo

O limbo límbico de um adeus em looping...

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Poema: "Parasita", de Erivelto Reis

 

Parasita

Erivelto Reis

 

Não! Ela não é esquisita

Ela não é narcisista

Ela não é egoísta

Ela é empoderada,

Ela é antirracista.

 

Ela não engole teu falso fetiche

Ela tem a manha da periferia,

Da baixada, de Nikiti,

Tem a sabedoria da vida

Ela sabe o valor de Frida.

Você diz ler Fanon, Niketche,

Você pensa que se safa, que agrada, que bomba

Dizendo que lê (sem ter lido) aquilo que está escrito

Nas obras de Grada Kilomba, Djamila, Djaimilia,

Paulina Chiziane, Carolina Maria de Jesus, Bell Hooks,

Maya Angelou e Conceição Evaristo...

Ela entendeu teu cinismo, teu machismo,

Teu falso academicismo...

Ela sabe qual o tempero.

Ela é um oceano inteiro

E você é uma poça d’água.

 

Machão, patriarcal, vê se te manca,

Diz que é homem de bem, cheio de moral

Que tem até amigo assim, amigo tal,

Que até curte ouvir

Lineker, Majur, Emicida,

Elza, Agnes, Gog e o escambau

Ela sabe que tu finge,

No teu X-streaming

Só toca o lixo de tratar a mulher

Como objeto sexual.

Jamais assistiu Rita Von Hunty,

Nem trata mulher com respeito...

O que te define é esse falso verniz

Esse discurso pronto, esse caráter vazio,

Esse assédio descarado em tudo

Quanto é rede social

E esse eterno ajeitar de pau.

 

Disfarçando, à luz do dia,

Ao cair da noite, se embriaga

Em sua ética machista, racista e ultrapassada

Que pela violência e pela força é sustentada

Mas nem pensa, nem tenta,

Que ela não vai ficar intimidada

Venha de onde venha,

Ela te enquadra na Lei Maria da Penha,

Se apega com os orixás, com os santos,

Com a Sororidade, ela te bota na linha:

Ela se enche de coragem,

Pois sabe que não tá sozinha.

 

Não! Ela não é esquerdista,

Ela não é mal amada,

Ela é esclarecida,

Ela não é sexo frágil,

Ela é empoderada.

 

Sustenta a própria família

Ela é cheia de talentos,

Disposição e argumentos.

Ela te quebra na ideia,

Ela te quebra na ginga...

Se bobear, se afrontar,

Te manda um avada kedavra,

Te quebra bonito na palavra.

Não vai botar galho dentro.

 

E ainda leva de quebra,

Um solo da Nina Simone,

Um samba da Clementina, um ponto de Santa Bárbara,

Uma risada espontânea e uma flor no cabelo,

Leva um passa fora, leva um desmantelo,

Leva uns comigo-ninguém pode e umas espadadas de São Jorge.

 

Leva uma pá de poesias

De todas as Minas do Slam,

Leva uma ironizada,

Tu diz que é o bam-bam-bam,

Que tem jeito de artista? ...

Ela sobe no salto,

Ela manda é na lata: “Ah, tá, tô sacando, aham!

Desce do palco,

Para de show, para de zica, parasita!”

 

Vem de mainsplaining, pra ver!

Que leva voadora no peito,

Uma boa desmoralizada,

Nesse teu preconceito, orgulho

De um mau sujeito...

 

Não! Ela não é esquisita

Ela não é narcisista

Ela não é egoísta

Ela é empoderada!

 

Se você não percebeu,

É porque você não entendeu nada.