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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

sábado, 27 de abril de 2024

Poema: "Receita para entrar no Céu", de Erivelto Reis

 

Receita para entrar no Céu

Erivelto Reis

 

Não grite na porta,

Não questione deus, zeus, ateus

Semideuses ou alguém vestido de deus

Não chame por santos

Eles são quadros abstratos

Nas paredes de pó e nuvem

Não espere por milagres

Não diga que tem sede

Porque senão te dão um copo de vinagre

Fique afastado das grades, dos pátios

Dos átrios, no limiar do anonimato

Não tenha pressa

Porque te farão esperar

Por toda a eternidade.

Quem já lá esteja

Não brindará tua chegada

Não te oferecerá uma cadeira,

Um torresminho, uma cerveja

O céu é para os heróis,

Os faraós e os aerossóis

Que herdarão a Terra

Pois fizeram dela usucapião

E sabem que depois que ela sucumbir

O céu não vai fazer qualquer sentido.

No céu de faz de contas

Anjos e querubins

Se levantam enquanto passam

Os arcanos, os decanos e os chapolins

Enchem de ar e derrota os pulmões

E tocam os clarins

Para anunciar que algum daqueles deuses

Acabou de passar por ali.

Não reclame da falta de espaço,

Transparência e ética no recinto

Por qualquer coisa, um semideus se zanga

E o céu é Terra de quem só crê em si.

 

 

quarta-feira, 17 de abril de 2024

Poema: "Engulhos", de Erivelto Reis

Engulhos

Erivelto Reis

 

É gosmento o argumento dos hipócritas

São de pus as certezas do demagogo...

Tudo que eles falam talha,

Tudo o que fazem, jogo.

É metastática a sordidez dos canalhas

E seus ecrãs espelham suas taras.

Andam na rua,

Sempre à procura de defeitos

Que sirvam de álibis distrativos

Aos seus malfeitos...

São de carne morta a língua

E os ardis com que proferem certas frases...

É como úlcera, refluxo gástrico de monólogos

No palco do teatro de sua polidez de farsas.

Banem, discriminam... sequer suam,

Apertam a mão, enquanto rotulam,

Abraçam e mantêm perto pra punir.

Reagem, sorrateiros, emulando emoções

Qual malabares.

Não revelam a expressão real

De seus intentos mais profundos

São de pedra, incontornáveis desvalores,

Vomitam aspergindo seus engulhos.

 

domingo, 14 de abril de 2024

Poema: "Babilônia", de Erivelto Reis

Babilônia

Erivelto Reis
Tardiamente cheguei à Babilônia.
Ali todas as linguagens
Apontavam para uma
Possibilidade de futuro.
Esfregando, ruidosas,
O passado em todas as caras.
Estranho pensar como
O mesmo valor: a linguagem
Liberta a alguns e aprisiona outros.
Ar, espaço e sepulcro,
Correntes e asas.
O mesmo valor (sem valor)
O mesmo ouro de tolo.
Ação humana sobre a natureza,
Ação humana sobre a consciência,
A estética e a onipresença...
A mesma espada sagrando cavalheiros
E erigindo estátuas aos bárbaros,
Ou criando símbolos
Para rotular os bonequinhos
Dos lavabos...
Vício para os artistas,
Ruína e auge para os astros,
Prisioneira dos discursos dos tiranos.
Tardiamente cheguei a Babilônia,
Cenário devastado,
Império atacado por canalhas...
Escombro em ascensão constante,
Onde a linguagem dominava o mundo
E o mundo já não se bastava.