Lacrado
Erivelto Reis
Estou cansado de ficar vivo
Para não conseguir viver...
Em estado de coma, lúcido,
Aterrorizado,
Estarrecido,
Suspenso entre qualquer coisa
Semelhante ao ato de respirar
E o de tentar escapar da morte...
Da dor não é possível escapar!
Nem do medo e da tensão...
Sou uma pessoa em guerra civil,
Apavorado, na trincheira,
Coberto pela sombra do inimigo
Que vem matá-lo.
Sei de milhares de compatriotas
Que se alistaram na horda
Dos que nos querem mortos,
Lobotomizados ou humilhados...
Nessa ordem de prioridade e caos.
Trazem consigo armas, mentiras e versículos deturpados.
E podem atirar em mim a qualquer momento.
São letais e estão próximos demais.
Trazem a ética corrompida (como o DNA de um vírus).
Sou uma pessoa em estado de sítio,
Que assistiu tantos irmãos sucumbirem
Ao extermínio em massa
Dos de sua própria terra...
Mortos pela doença
E pela atrocidade feroz
De um governo composto por assassinos,
Covardes e estúpidos.
Estou interditado, silenciado.
Sobrevivente, por enquanto apenas,
Sepultado sem velório todo dia um pouco
E a cada dia mais...
Não existe céu, somente o cheiro de éter
E a dor do reconhecimento
Do corpo de um ente amado,
Embalado,
Depositado sobre a mesa fria em uma morgue.
Há um calendário que se cumpre,
Uma ordem estabelecida.
Brasileiro:
Morto comum, caixão lacrado,
Ou executado ainda em vida.