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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Poema: "Vintage", de Erivelto Reis

Vintage
Erivelto Reis

À moda de Patrick Furtado

A ruga é!
O olhar também,
Chorar e sorrir são...
O passado, sem dúvida!
A ilusão.
As marcas nas costas das mãos,
O álbum de retratos descoberto no porão,
Ex-amores vingativos,
Amigos de longa data,
Suspensórios, honra e gratidão,
Silêncio na alma,
Calça boca de sino,
Futebol de botão.
Vinho do Porto envelhecido,
Retrospectiva do destino,
Infância na memória,
Livro que conta estórias
Essa rima,
Ruína,
Arrependimento.
Vestuário, decoração, comportamento.
É o tempo, deslocado,
Levando vantagem.
Toca-discos, toca-fitas
Vídeo cassete,
O que eu era antes,
E, daqui a pouco,
O ano dois mil e dezessete.




quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Poema: "Masmorras", de Erivelto Reis

Masmorras
Erivelto Reis

Apenas por milagre,
Hei de tornar a beber
A lágrima do teu vinagre.
Escuta:
Afaste de mim este cálice da tua cicuta:
Fel – cúpula de negar o céu,
Infernal arma com que a eternidade
Tenta ou agride a quem a denigre:
Oferta onipresente,
Desconto onisciente de passado...
Eis o saldo da vida: juro (s).
Cobrados dos antepassados
E pelos descendentes descontentes.

Na minha casa as paredes são de sal
E choro e despedaçam-se nos dias de festa,
Finais de semana e feriados.
Existir é uma forma de punir e de nos sentirmos
Permanentemente culpados.
Apenas por milagre hei de acreditar em milagres.
O que acontece a quase todos...
Assim estabelece-se uma meta!
Preciso que um novo futuro se aproxime,
Não posso mais extinguir (–me).
Nessa antiga idade média,
Que importa que eu não aceite?
Necessito que me cr(l)eias:
Fritarei no azeite escaldante do teu sol,
Apodrecerei nas entranhas de minhas próprias veias
Ou no fundo do tempo de tuas masmorras...
Manténs-me vivo,
Para que todo dia eu morra.



quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Poema: "Arrulho", de Erivelto Reis

Arrulho
Erivelto Reis

Meu poema caminha.
É uma palavra à toa...
É um escombro, um monturo,
Um entulho...
É um arrulho.
Desespectro de pessoa...
Meu poema é um pombo que atravessa a rua,
Sabendo que pode voar, mas não voa.
É uma toada boba,
É um atol de lama de Mariana!
Meu poema pensa que me engana...
Lá vai meu poema atravessando a rua:
Lá vai meu pombo ser atropelado,
Meu tombo:
Vidro da linguagem estilhaçada,
Tímpano perfurado da palavra,
Explosão de vísceras
E asa.



sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Poema: "Folheia", de Erivelto Reis

Folheia...
Erivelto Reis

Os livros que nos marcam aprisionam em suas páginas
O que somos, o que éramos, o que pensamos ser quando os lemos.
Depois, ao relê-los,
Vamos nos reencontrando, nos reescrevendo.
Os livros que nos marcam nos aprisionam em liberdade
Perpétua de culpa,
Pois olham dentro de nós. Olham dentro de nós...
Até que passam a existir em nós, absolvem-nos do dolo,
Absorvem-nos de nós.
(Do exílio do dogma), resgatam-nos da ilha,
Naufragando e afundando pra sempre em nós.
O labirinto das ruas de frases e parágrafos
Constituem o alicerce da cidade-fortaleza
E da dignidade do casebre,
Do sentimento mais vil ao mais frágil que possuímos.
Os livros que nos marcam convidam-nos a reencontrá-los
E, ao reencontrá-los, os reconhecemos,
E eles nos desconhecem:
Somos quebra-cabeças sobrando peças,
Faltando peças, com um parafuso a menos,
Com uma engrenagem a mais...
Mais velhos pra reagir, mais frágeis pra empreender.
Os livros se riem do reencontro:
Sua alegria é sincera e irônica,
Sua amizade é leal e canina como um dente de leite.
“Quem são esses todos que te acompanham?”
Perguntariam os livros?
Mais cheios de saudade, menos cheios de nós,
Esvaziados de tempo,
Lotados de saudades e de memórias novas,
(Das memórias antigas que tivéramos outrora),
Respondemos:
“Ninguém!”, referindo-nos aos outros que não vemos.
Mas pressentindo personagens ficcionais, espirituais que nos rodeiam...
Não é possível saber o dia de nosso fim,
Talvez os livros marcantes o saibam,
Por isso se nos iluminem
A enxergar no fundo do túnel de nossas almas.
Quisera fugir pro enredo do meu livro mais especial,
Quisera apenas fugir.
Fecha o livro de tua existência,
Que outra história ainda está por vir.





quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Poema: "CENTRO DE MEMÓRIA, PAZ E RECONCILIAÇÃO", de Erivelto Reis

CENTRO DE MEMÓRIA, PAZ E RECONCILIAÇÃO
(Cemitério colombiano)

Erivelto Reis

Diferente do que de fato é,
Meu pai foi sepultado em Bogotá,
Numa tarde fria, muito fria e triste.
Aliás, foi lá que ele faleceu, pra mim.
Lá eu soube de seu mal súbito,
E de lá nunca pude escapar
Pra ouvir suas últimas palavras,
Pra olhar no fundo de seus olhos miúdos,
Verdes de menino triste,
Socorrê-lo,
E dizer o quanto o amava.
Da estação do Transmilênio,
Li rapidamente uma grande placa:
Centro de Memória, Paz e Reconciliação...
No alto de Montserrat
Ou na praça tão inumanamente silenciosa e vazia
Que testemunhou a confissão
Mais dolorosa da desgraça mais profunda
Que de um filho pudesse partir:
A dor pela constatação de desexistir...
Sou um cemitério colombiano,
A memória eu já tenho...
Não há horizonte pra onde eu possa ir.


domingo, 29 de outubro de 2017

Um poema de João Gabriel, aluno do Colégio Nossa Senhora do Rosário ao meu pai, José de Arimatéa


Poema de João Gabriel
Colégio Nossa Senhora do Rosário - 2017

Autor: João Gabriel,  aluno do Colégio Nossa Senhora do Rosário, onde meu pai,                        José de Arimatéa, trabalhou e onde se aposentou, escreveu este poema, que aqui reproduzo, no primeiro mês de falecimento de meu pai.

TIO BAIXINHO
João Gabriel

Um jardineiro simpático
Nada dramático
Um sorriso maroto
Alma de garoto

Era ele o homem
Da alegria e da felicidade
Dessa forma animava nossa comunidade
Ele era um homem de muito bom caráter

Em uma única palavra
Mais feliz ele me tornava

Em nosso desânimo e tristeza
Ele logo perguntava
O que há meu amigo?
Se abra comigo!

Devemos entender que o exemplo dele
É o que temos de seguir
Pois daqui a algum tempo
Não estaremos mais aqui.
#saudadestiobaixinho

João Gabriel - turma 63

sábado, 28 de outubro de 2017

Poema: "RH", Erivelto Reis

RH
Erivelto Reis

Deus me amaldiçoou duplamente:
Com a morte de meu pai,
E com a minha distância, a minha ausência
No dia em que meu pai se foi 
E nos dias próximos que antecederam sua partida.
À primeira maldição, ainda o desculpo,
Porque não fui o único a ser amaldiçoado,
Porque sei que a outros ele puniu mais
Severamente ainda,
Obrigando-os a penar
Com a morte de seus filhos: heranças,
Desnascimentos, fuga da lógica do tempo...
Quando Deus quer enlouquecer um homem,
O faz carregar o caixão do próprio filho,
Sem ter o poder de ressuscitá-lo...
Mas a segunda maldição?!
Porquê?!
Eu poderia ter socorrido meu pai,
Tê-lo amparado, confortado em sua dor, em seu sofrimento,
Segurado sua mão, também...
Secado o suor frio de seu rosto,
Talvez até ajudá-lo e resgatá-lo,
Trazendo-o pra casa,
São e salvo,
Para finalmente, já que Deus é quem decide,
A morte pudesse, em algum outro momento, envolvê-lo:
Lacuna, penúria de minha alma,
Sequestrar meu pai, removê-lo,
Vestindo-o com sua túnica.
A minha dor parece única,
(Deus tem um jeito antididático de ensinar!),
Meu luto é perpétuo, minha vida não é...
A isso, acaso, chamariam fé?!
Disseram-me:
“Deus protegeu e poupou você”.
Sou obrigado a reconhecer.
Tenho vergonha de olhar nos olhos de minha mãe e de meus irmãos.
Deus foi com minha cara e me escolheu
Pra não lutar – de corpo presente, com todas as minhas forças,
Até o último instante, pela vida de meu pai.
Envio o e-mail a quem?!
A qual ouvidoria celestial,
Agradecendo o empenho do departamento de pessoal?!
Deus me amaldiçoou duplamente,
Que não espere de mim nenhum cartão
Felicitando-o no Natal.


quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Poema: Óbito - Erivelto Reis

Óbito
Erivelto Reis

Continuar a viver
Depois da perda de um ente amado
Parece ilícito, parece errado...
É tanto tempo chorado,
Desesperado,
Desexercício de diálogo,
Desperdício de todo leite derramado...
Que o sol que aquece o mundo
E ilumina as folhas e o gramado
É afronta ao túmulo, à cova,
Ao mausoléu claudicante que anda e fala
Em que vemo-nos transformados.
Uma noite, depois de sonhos inquietos,
A vida dos remanescentes cessa...
Depois que a luz de um ente querido apaga!
Por agora...
E nunca mais!
Será, de novo,
Tempo de jabuticabas.

terça-feira, 3 de outubro de 2017

#EternoTioBaixinho

Alunos e Alunas do Colégio Nossa Senhora do Rosário - Campo Grande - prestam homenagem ao Tio Baixinho -                José de Arimatéa - *25/10/1951 - !29/09/2017

PRIMITIVO PAES E JOSÉ DE ARIMATÉA: INESQUECÍVEIS


sábado, 30 de setembro de 2017

Poema: De Ar e Matéria - Para meu pai - Erivelto Reis

De ar e matéria
Erivelto Reis
Para meu pai.
Vai dormir, meu pai.
Avança sobre a luz do dia
A energia de tua força
De nunca ter desistido.
Aqui no mais longínquo país do mundo
Para se perder alguém
Me reencontro com tua memória
E tudo em mim é escombro
Dor e prisão.
Na viagem que fizeste
Pra bem mais longe do que esta minha de agora
O pranto de minha mãe, de meus irmãos
E dos que a ti queriam bem
É do tamanho da imensidão
De tudo que há
E cabe na lágrima – milagre do mínimo –
Átomo de nossa história
De teres tentado ser o melhor
Pai que podias
Para mim, que procurei sempre te dar orgulho
Descansa, meu pai.
“A saca de arroz” de agora
Sou eu que carrego…
E pesa uma tonelada de saudade sem fim.
Vai dormir, meu pai.

FALECIMENTO DE MEU PAI JOSÉ DE ARIMATÉA - 29-09-2017

Última foto com meu pai
Meu pai chegou ao Rio de Janeiro com a família em formação. Ao lado de minha mãe trabalhou duro e nós trabalhamos junto. Eu, Deda e Neném, cada um a seu jeito, somos capazes de falar de nosso pai. O Elton foi um presente que meu pai e minha mãe deram pra nós naquela época. Assim como cada um dos netos foi para meu pai um presente que ele valorizou ao máximo. Dele aprendi fundamentalmente a trabalhar com amor, ser educado com as pessoas, admirar inteligência e caráter, ficar perto de quem nos trata bem, ficar longe de quem nos trate mal. Só posso falar das coisas que me cabem e só delas falarei. A ele prometi três coisas que, com ajuda fundamental de minha esposa Gloria Regina, consegui cumprir: me tornei um profissional reconhecido em minha área - assim como ele sempre foi; me formei e comprei o sítio do qual ele tanto gostava, no qual trabalhou duro ao lado de minha mãe, dos meus irmãos e do Rei. Isso não faz de mim melhor ou pior do que qualquer um dos meus irmãos, do que meu pai, minha mãe ou quem quer que seja. Essa foi minha história com ele, que foi firme e muitas vezes rígido porque a vida o ensinou assim. Gostava nele que fosse polido e simpático, quando me beijava e abraçava e quando contava histórias. Aprendi a conversar com os outros por causa dele, que sempre foi muito comunicativo. Isso sempre admirei nele e procuro imitar, embora eu seja tímido como minha mãe. Dele herdei a fisionomia, a altura, os olhos e o gostar de interpretar as letras das músicas. Também a sua perspicácia e a insubordinação contra a exploração do mais fraco. E assim, reconheço e quem nos conheceu sabe que há muito dele em mim. O tempo que convivemos foi de muitas batalhas pra vencermos e muito cedo me desavim com ele e minha mãe para tentar minha própria trajetória. Ele me perdoou porque ele mesmo construiu um pouco dessa forma sua história. Um dia depois da minha formatura fizemos pra sempre um pacto de solidariedade. Um salvo-conduto para tudo que pudesse ter nos ferido em algum momento por qualquer motivo. Eu sempre tive muito orgulho dele e sei que ele se orgulhava muito de mim. Foi um grande pai para o filho que eu consegui ser. Meu coração é dor e saudade porque ele não estará mais aqui. Mas também, é gratidão porque ele sempre acreditou em mim. Infelizmente, por motivos que só ao destino pertencem, me encontro em outro país e não chegarei a tempo de participar de seu sepultamento. É uma dor que terei de carregar. Agradeço aos meus irmãos, à minha mãe, aos familiares e amigos. Ele foi amado como homem, valorizado como pai e como avô e sua trajetória será lembrada por mim enquanto eu viver. Sou grato por tudo. Não tenho o que perdoar pois tudo já foi perdoado e estava em nosso destino pra nos fortalecer. Lembrarei pra sempre do dia em que o vi, em 1982, consertando o portão do sítio; e de quando fui buscá-lo no hospital em 2008 e ele me deu a mão pra atravessarmos a rua. Fomos pai e filho irmanados pela lembrança carinhosa da presença de minha Avó Domira. Ele a ela se junta agora num céu de felicidade eterna. Daqui a não sei quanto tempo, a eles também me juntarei. Vai dormir, meu pai. Teu repouso eterno foi conquistado por tua luta vitoriosa. Não há nada a ser dito ou provado. Daqui pra frente tudo será lenda. Erivelto Reis. 30.9.17. O dia mais triste do mundo. (TEXTO LIDO POR MINHA CUNHADA CAMILA COMO ÚLTIMA HOMENAGEM DURANTE O VELÓRIO).


sábado, 12 de agosto de 2017

Poema: "Pensamento Primitivo", Erivelto Reis

Pensamento Primitivo

Erivelto Reis

Nas páginas dos livros únicos que escreveste
Nas eternas lições que ensinaste
Aprendi a ler o mundo do jeito
Que me foi possível.
O nosso desencontro
Foi um capítulo terrível
E a lembrança
Nem sequer pode servir
Como prólogo, epílogo lenitivo.
É uma bobagem pensar em datas
Quando a saudade
É um cronograma que maltrata...
A vida é breve quando se
A vida é longa quando (...)
Não se sabe que se foi
E amarga
Ao se descobrir o quanto
A felicidade preenchia sua vida...
Parece que herdei o peso de toda a tua idade
De uma vez só, desde o dia em que partiste.
Abri os olhos
Vi uma fresta de luz na janela:
O dia raiava sereno,
Desperto de meus sonhos,
Envolto em pensamentos,
Dentro de mim, cada dia mais,
Anoitecia.

Eu era feliz... e eu sabia.

sábado, 24 de junho de 2017

Poema: "Botoeira de Pavimento" - Erivelto Reis

BOTOEIRA DE PAVIMENTO
Erivelto Reis
Estranhos paradoxos
De um mundo
Em desfavor...
Às vezes,
A gente que reage à crítica
É a mesma que não entende

Amor.

domingo, 18 de junho de 2017

Poema: "Cinza", de Erivelto Reis

Cinza
Erivelto Reis

E tudo é chama no coração de Portugal, por Deus!
As pessoas, os animais, os sonhos...
Por Deus! Que dor e sofrimento
Abateram-se sobre teus filhos e famílias?!
Abriram as portas do inferno,
E encontraram nossos irmãos desarmados,
Desprotegidos,
E sem julgamento de qualquer ação.
Ainda que nada mereça tal danação.
Peço redenção por esse povo.
E tudo é cinza...
E tudo é chama no coração de Portugal,
E tudo é apelo por essa gente...
E tudo é choro...
Mas lágrima, mesmo muita,
E são tantas...
Muito menos a distância,

É água que não apaga o fogo.

quarta-feira, 14 de junho de 2017

Poema: "Círculo", de Erivelto Reis

CÍRCULO
Erivelto Reis
Para meus alunos e alunas que se formam nesse semestre
Não vou me despedir de nenhum alunoalado,
De nenhuma alunaencantada.
Vou encontrá-los e encontrá-las
Logo ali – na vida, na virada.
Trabalhando, criando, fazendo sonhar!
Motivando novas formas de ser e de pensar.
Pra que irei me despedir
De quem jamais irá partir daqui,
De mim?!
Estaremos juntos, perto, unidos...
Assim espero.
Nada de reencontros, pois não estaremos separados.
Não vou me despedir de nenhum (a), de ninguém,
Alunoalado, alunaencantada:
São encantadora gente do bem.
Sua luta, repleta de desafios e vitórias,
É apenas mais uma página da Literatura da vida,
Da História...
Somos idealistas, mas também realizamos com palavras,
Suor, reflexão e labor...
O místico enredo de uma narrativa de amor!
De um poema romântico, moderno, talvez até barroco...
Surreal, misteriosamente lúcido e louco!
No que tem de viagem, chegada e recomeço e partida.
Não vou me despedir de nenhum aluno/aluna!
Eles e elas vão junto comigo,
São meus amigos (as), não meus/minhas discípulos (as),
Nessa caminhada
Que desenha as linhas da Vida.

sexta-feira, 12 de maio de 2017

POEMA: "CANDIDO", de Erivelto Reis

CANDIDO
Erivelto Reis

É inútil tentar combater a morte com a Literatura?
A essa altura de nossa jornada,

Nesse trecho de nossa aventura...
A coisa toda já devia estar
Desmistificada.
Mas a ficção do improvável do mundo
É que a vida acaba, 
É que a personagem
Só se torna herói,
Se o seu destino
Maltratá-la...
Se suas palavras ecoarem,
De seu ato de criar,
Até o tempo em que sua teoria
Perdurar.
De integridade, ética e talento:
Fórmula mágica que o mundo persegue,
Faz-se o mítico reino dos gênios,
E das incríveis ideias que o habitam...
Porquanto tudo quanto um mestre representa!
Não é preciso tentar combater a morte com a Literatura!
Literatura é Arte,
É o Olimpo no qual a morte não entra.

segunda-feira, 8 de maio de 2017

Poema: "As Redes Tristes de Meu Pai", Erivelto Reis

“AS REDES TRISTES DE MEU PAI”
Para meu pai e para o pai de Cícero César, onde ele estiver.

Erivelto Reis

Cada distância
Ensina um sentimento
Que transcende o momento do efêmero.
Sempre lembro, com a reverência,
Daqueles que experimentaram
O destino que é de todos
E que sei: aguarda-me.
Quisera voltar no tempo,
A tempo de conhecer-te.
Quisera merecer
Tua lembrança, tua caneta,
As redes tristes com que
Embalavas a criança
Que jamais fui...
Há um silêncio ressentido entre nós,
Um chão que se abriu em cratera,
Um terremoto de emoções não vividas...
Há vida enquanto se espera a vida?
Ou um hibernar profundo
De sentir em todo mundo...
Quanta lava, quanto lodo,
Quanto limo, quanto mofo...
Nos livros não lidos,
Nos abraços negados,
Nos morcegos da memória no forro.
A letra que brotou de tuas mãos,
O afago que morreu sem ter sido dado,
Explicam meu semblante,
Minha expressão de espanto:
As cartas que vasculho,
Que ora produzem doutores,
Ora horrores, ora escombro! –
Véspera adiada de entulho.
Embala a rede, meu pai...
No teu mais longínquo sorriso,
Ao perceber que eu caminhara
Sobre meus próprios tropeços.
Gostavas de ser como eu era
Gostaria de ser quem tu foste.
Nenhum de nós negava,
Nenhum de nós sabia:
O mundo acabava às seis
E já passava do meio dia.


domingo, 30 de abril de 2017

Poema: "Tento", de Erivelto Reis

Tento
Erivelto Reis

Não é nem de longe uma revolução
Não chega aos pés de uma revelação
Não é ao menos um relato
Nem ao menos é um fato
É apenas a publicação
Da violência de que és capaz
Homeopática violência
Tornada conhecida
É apenas a impressão
Do que tens nas entranhas
Tua força jamais me foi estranha
Tua fraqueza é dissimulá-la.
Teu controle não está perdido
No sofá da sala – capacho de tapete na porta
Camuflagem de café requentado
É a bela xícara que o comporta.
Não é nem de longe uma revolução
Não chega aos pés de uma revelação
Não é ao menos um relato
Nem ao menos é um fato
É apenas a publicação
Da violência de que és capaz
Toma tento!

Tenta, rapaz.

sexta-feira, 28 de abril de 2017

Poema: "Ribalta", de Erivelto Reis

Ribalta
Erivelto Reis

É preciso valorizar,
Todo dia, ao que mais amamos.
Esse ato requer honrar
Aos que mais amamos...
Encontrar
A motivação necessária,
Em nossa própria existência,
Para olhar,
Com respeito, cordialidade,
Transparência.
(Arremedo de persistência),
Consciência de que quando e se
Talvez acabar...
O bom do outro e do que houve
Haveremos de lembrar.
Esse ensaio excede a nossa
Capacidade de dimensionar
Quem somos.
Essa força deve vir de nós:
Indicará, ainda que entre brumas,
O lugar pra onde iremos.
É preciso ensaiar pra ser sempre um pouco mais
Todo dia...
Ainda quando julguem
Que sejamos menos.


quinta-feira, 27 de abril de 2017

Poema: "Tabuleta", de Erivelto Reis

TABULETA
Erivelto Reis


Senhores deste mundo,
Que o tornam vil e mal,
E violento e boçal
Para impor suas receitas
De remédios
De torpor.
Que ameaçam,
Amordaçam,
E agridem trabalhadores e trabalhadoras,
Tirando nossos direitos,
E a oportunidade de sonhar.
Que tornam escravos nossos sonhos,
Nossa rotina,
E viciam o jeito de olhar o mundo e o outro.
Só tenho uma coisa a dizer-lhes:
Vão todos tomar cautela!
Vão todos tomar cuidado!
Que o povo não é o gado,
Pra ser espremido em cancela.
A revolução se avizinha,
E a Escola, destruída como entidade,
Renascerá das cinzas...
Não sucumbirá.
A nova sociedade marchará por justiça,
Igualdade e voz.
Senhores deste mundo,
Não estejais tranquilos,
Não profirais mentiras,
Que tudo no mundo sempre passa,
Que a sua roda da sorte um dia muda,
No mesmo compasso em que a Terra gira.


quinta-feira, 30 de março de 2017

Poema: "Poetrocantropus", de Erivelto Reis

Poetrocantropus
Erivelto Reis
Faço encartes
penduro as letras
as palavras estão aí
tirem-me do centro
desfocalizem-me
A escrita fica e é eterna.
Já eu!
Selma dias

Disso eu nunca duvidei:
As pessoas têm poesia dentro delas.
Disso eu sempre soube:
Há pessoas que as poesias
É que são elas.
Há poesias em pessoas,
Há pessoas que são a poesia em Pessoa...
Há pessoas que são várias pessoas.
Há pessoas que rascunham a poesia que serão,
Talvez no próximo outono,
Talvez na próxima estação.
Há pessoas que são a poesia em abandono,
O livro fechado das emoções que têm,
Dicionários de desastres e interrupções...
Há pessoas que são a poesia insone,
São chamas de vela,
Ou a cera que derrete,
A rima rara, o verso bom que não se repete.

Disso eu nunca duvidei.

sábado, 25 de março de 2017

Poema: "Papel", de Erivelto Reis

Papel
Erivelto Reis

Você não respeita o suor do meu rosto
Meu espaço de trabalho, seu espaço de estudo...
Não respeita o meu presente,
Me respeitará no futuro?
Meu conhecimento,
Que com você eu divido,
O que gostaria de construir com você,
São trapos, farrapos, migalhas,
Pra debaixo do tapete varrer?!
Me despreza e desdenha e critica
Mas quer ser tratado com distinção e decência
Se eu te tratasse como sou tratado...
No primeiro ato, você perderia a paciência...
Ah, se você me tratasse como se valorizasse a docência.
Acorda, pessoa de ética eólica,
Muda sua situação:
Estuda, respeita, trabalha,
Meu fardo é minha cangalha,
Meu pedido é minha indignação.
Aqui, em Paris ou em Roma,
Quem toma as atitudes que você toma,
Com certeza, o seu diploma,
Por favor, vê se me ouve:
Não serve nem pra papel de pão,...
Não serve nem pra papel de açougue!


domingo, 19 de março de 2017

Poema: "Buraco", de Erivelto Reis

Buraco
Erivelto Reis

Os reis de ouros
não desembainham espadas

num jogo de cartas marcadas.

sábado, 11 de março de 2017

Poema: "Mano a Mano", de Erivelto Reis

Mano a Mano
Erivelto Reis

Não sou mais aquele que eu era:
Passou o tempo,
Perdi momentos,
Mudaram-me os sentimentos...
Não sou mais.
Depois do primeiro poema,
Depois da primeira lágrima,
Passei a ter uma lavra:
Lavoura de palavra de poeta
Que semeia
Castelos de ar e areia.
Não sou mais,
Depois que me deixei levar,
Saiu de mim um poema
Com a tristeza de quem
Está longe de tudo,
De seu amor, de seus filhos,
Ou de seus pais
E sabe, lá no fundo,
Que nada vai voltar mais.
Sou um rio que não flui.

Não sou mais aquele que fui. 

quinta-feira, 2 de março de 2017

Poema: "Tarântula", de Erivelto Reis

Tarântula (Pode ler pra mim?)
Erivelto Reis

A tara da tarântula
Não é o tantra
Não é a teia
Não é a trama
A tara da tarântula
Não é o mantra
Qual é a tara da tarântula?
Qual é o seu chiste?
É esperar pela presa
Sem pressa,
Deixá-la presa à beça,
É isso que a tarântula preza
Salivar
Degustar, desgostar
Pra saborear
A tarântula não desiste
A tara da tarântula

É a glândula de seu fetiche.

quarta-feira, 1 de março de 2017

Poema: "Vendeta", de Erivelto Reis

VENDETA...
Erivelto Reis
Para Cícero César e Flávio Pimentel

Se Rosa estivesse aqui,
Eu perguntaria que raio de travessia é essa?!
Daria à Ana Cristina o que é de César!
Na certa, haveria uma esquina, um beco, uma sombra...
Alguém manipulando, com sutileza,
A heresia da gentileza do carrasco no cadafalso da porta da igreja.
Um rio de correnteza, que mostra como superfície
O que, bem lá no fundo, nunca foi razoável.
Se Rosa estivesse aqui...
Mas é pouco provável.
Nenhum Wilde, Dante,
Nenhum Cervantes, nenhum Huxley,
Nenhum Kafka, nenhum Camões,
Nem Adélia, nem Florbela,
Podem conter o fervor de preces e orações
De qualquer Pessoa,
E os seus heterônimos de amor e fúria.
Pergunte a quem pertence à cúria.
Eles sabem que o poder
É a melhor parte da loucura.
Se Rosa estivesse aqui...
Que Bandeira hastearia?
De Paz, de Camus,
Ora, Eça, nem me peça explicações: diria Régio
Que tudo isso se resume
A porra de um romance de António Lobo Antunes.
De Barros a Borges,
Leitores seriam fantoches
Que se assustariam com os deboches da vida:
Os atentados, os refugiados...
As Torturas dramáticas do cotidiano.
A morte de gente de bem fazendo estrago,
Permitida por gente mal...
Denunciada com a vidência da clareza de Assis e de Saramago.
Nenhum poema de Gabriela Mistral,
Nem a doçura de Neruda faria cessar essa dor aguda.
Dando na ponta o soco que trespassa a lança...
Vai ver o mundo é o sertão
E todo mundo é Riobaldo,
E Diadorin já morreu mesmo...
E, sei lá, se nunca houve céu!
E o pacto foi completado...
E agora o mundo é o diabo,
Com a faca tinindo,
Riscando destino
E cobrando a conta.
Tem mais silêncio no mundo,

Mas a vontade é tanta.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Poema: "Loa do leitor admirado", Erivelto Reis

Loa do leitor admirado
erivelto reis
Para Patrick e Gustavo
o empático Patrick
e o lacônico Gustavo
cada qual com seu trabalho
não que eu queira dar palpite
o enigmático Gustavo
e o romântico Patrick.
cada palavra escolhida
pelos dois é lapidada
Gustavo usa-as como escudos
Patrick usa-as como espadas
o emblemático Patrick
e o sistemático Gustavo
cada nova poesia
é um trecho do caminho
que por eles é trilhado
o lunático Patrick
e o marciano Gustavo
não são deste mundo os dois
pois que a arte é seu espaço
o semântico Patrick

e o sintático Gustavo.

Samba Enredo: Meu TCC, meu artigo!, Erivelto Reis

SAMBA ENREDO 2017 - “MEU TCC, MEU ARTIGO!”
Erivelto Reis
AGREMIAÇÃO: GRUS (Grêmio Recreativo Universitário Surtando) ACADÊMICOS DO TCC
ENREDO:
“AS VOLTAS QUE O MUNDO DÁ: DO ENSINO MÉDIO À ACADEMIA NUMA VIAGEM EMPÍRICA PELA REFLEXÃO TEÓRICA E PELA METODOLOGIA EFICIENTE, À LUZ DAS HIPÓTESES PLAUSÍVEIS PROBLEMATIZADAS COM ÉTICA E COMPETÊNCIA”.
Carnavalesco (a): O seu Orientador ou a sua Orientadora
Intérprete: Graduando/Graduanda
Jurados: Banca Avaliadora
REFRÃO
Abram alas,
Venham ver:
Vai desfilar nessa avenida
O meu T-C-C!
(Repete refrão)
Meu sonho é lindo:
A minha graduação,
Vai compensar
A minha concentração!
Fim de semana, o chopinho com os amigos
Vou adiar
Pra depois do meu artigo.
REFRÃO
(Repete refrão)
Eu vou fazer funcionar
Conceito e teoria:
Vou responder os problemas,
Mostrar a bibliografia.
REFRÃO
(Repete refrão)
Vou digitar, revisar, diagramar,
Vou imprimir, conferir, encadernar,
Vou defender, convencer, impressionar,
Pra conquistar e o futuro melhorar.
Me-lho-rar! [Gritando desesperadamente cada sílaba]
Abram alas,
Venham ver:
Vai desfilar nessa avenida
O meu T-C-C!
(Repete refrão)

Poema: "Admirável Gado Velho", de Erivelto Reis

Admirável Gado Velho

Para Zé Ramalho

Meu gado fica ali,
Naquele cercado.
Meu gado fica ali:
Ruminando, calado...
Cada cabeça de gado
Produz tudo que me
É adequado.
Meu gado fica ali,
Naquele cercado.
Meu gado fica ali,
Com sal racionado.
Meu gado fica ali:
Às vezes extraviado,
Muitas vezes sacrificado...
Meu gado fica ali,
Daquele lado.
Não sei se ele sente,
O que sente,
Nem suponho...
-Estupor!?
Meu gado fica ali,
Bolandeira rodando,
Produzindo, trabalhando...
Basta-me parecer seu dono,
Nada respeitável.
Não disse: “Meu rebanho”,
Porque pra dizer isso,
Eu deveria agir como pastor,
O seu responsável, o seu condutor...
Meu gado fica ali,
Aqui, assim...

Estupor!

domingo, 19 de fevereiro de 2017

Poema: "De Prisma e Marfim", de Erivelto Reis

De prisma e marfim
Erivelto Reis

Quando eu partir
Decida me esquecer
Não me ignore, odeie
Se chateie com a falta ou
O alívio que por desventura
Eu venha a proporcionar
Esquecer é o avesso
De lembrar o avesso
Preencher de vazio
O todo que ocupado
Estava pela vida
Que se compartilhava
Quando eu for, se eu for,
Ou seja como for,
Dê um jeito de me esquecer
Para sofrer menos, para viver mais
Para não lembrar de que você foi capaz
De dizer o que disse, de fazer o que fez
E errar menos da próxima vez...
Serei passado, silêncio,
Soluço e fumaça
Não embaçarei a vitrine
Da tua vidraça, redoma,
Áurea e auréola
De prisma e marfim
Nem amarrotarei as curvas do teu manequim...
Quando eu for, como for
Me esqueça

E mesmo assim...

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Poema: "Peço às musas", de Erivelto Reis

Peço às musas
Erivelto Reis

Há pessoas que são em nós
Como a força de uma oração,
A alegria de um desejo realizado,
A aurora ou o mais tênue entardecer...
Há pessoas que estão em nós e que
Nunca irão nos perder.
Há pessoas de todo tipo, temperamento e jeito:
Não há pessoas sem defeitos,
Não há carinho que não mereça retribuição,
Mesmo quando não for esta a primeira intenção.
Há pessoas boas pra gente conversar,
Há aquelas boas pra nos acompanhar,
Se e quando a gente for cantar, caminhar ou beber...
Há pessoas que não estão mais em nós,
E que nunca poderíamos esquecer.
Há pessoas que nos fazem falta,
Há pessoas que nos motivam,
Há pessoas que nos comovem
Há pessoas que convivem conosco,
E nem se dão conta do bem que elas nos promovem.
Há pessoas que leem nossa energia,
Que contribuem pra melhorar nosso dia,
Há pessoas com quem não falamos,
Mas que moram no âmago dos nossos sonhos.
Há pessoas nas quais nos espelhamos,
São exemplos pra tudo que esperamos fazer...
Há pessoas que nós amamos

Com todas as forças do nosso ser.

domingo, 12 de fevereiro de 2017

Poema: "(E) tapas", de Erivelto Reis

(E) tapas
Erivelto Reis
A Cartilha de Descarte (não de René Descartes) que os poderosos usam recomenda:
1. Mover os livros pra longe das consciências;
2. Afastar as pessoas umas das outras
3. Empurrar a massa pra beira do abismo
4. Intoxicar os olhares
5. Viciar os dados
6. Manipular os fatos
7. Impor o medo às classes de trabalhadores (as)
8. Enfraquecer as vontades
9. Adotar a religião do sarcasmo
10. Cultivar espinhos e desfaçatez
11. Punir inocentes
12. Condenar o futuro
13. Desacreditar a escola
14. Sacralizar o poder e os que o exercem
A anatomia da estrutura do desgaste
Inicia-se em qualquer um dos passos
Finaliza-se e repete-se
Em qualquer dos pontos...
É um carro desgovernado,
Promovendo tragédias, desastres,
Aniquilando a democracia e a esperança,
Atropelando o povo em qualquer lado
E em toda parte.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Poema: Curta/Longa no Ato, de Erivelto Reis

Curta/Longa no Ato
Erivelto Reis

Para Flávio Oliveira

Já que a vida é curta ou longa,
Dependendo do enredo,
Vou te confiar um segredo
Que a palavra logo revela:
Destino de artista,
Sensível, carismático, capaz...
É ser reluzente como estrela...
Que o filme passa na tela
Da retina e da janela.
Protagonista da própria existência,
Eu sei e quem não diria?!
Sua amizade é um clássico
Exibido sem bilheteria,
Com plateia sempre cheia,
Para aplaudir sua energia.
Seja na tela ou no palco,
Na ribalta ou na coxia,
Flávio Oliveira, meu caro,
Talentoso Professor...
Amizade é uma lição
Que só se ensina e

Só se aprende com amor.

Poema: Sucata, de Erivelto Reis

Sucata
Erivelto Reis


Pra me falar na lata
Que eu não passo de sucata,
Além de parecer ingrata,
Limpa essa fuligem,
Limpa essa ferrugem,
Que correm...
Que tanto tétano,
Quanto amor
Matam.
E, enquanto não matam,
Doem. Destroem. Sufocam.
Oxida, imanta,
Atrai,
Mas de nada adianta...
Pra me falar na lata
Que eu nem cheguei perto
E passo,
Nem ferro, nem aço
São mais resistentes
Que a vontade
De condenar os penitentes, os transeuntes,
Que pagam promessa e pedágio
Para o amor alado.
Escombros, sucata e rugas...
Resto de gente aparece na lata,
Na resposta e na pergunta.
Quem nunca disse
Que não ia nunca?!
Recicle a sucata
Que ela vira coisa nova...
Amor não se recicla, se renova:
Livre-se da sucata,
Que ela não te prejudica.
Sucata é o que não serve pra você na hora...
Joga a sucata fora,
Que, de repente, outro encontra,
Valoriza e aprova.
Esquece a sucata,
Deixe de bravata e desilusão.

O homem de lata é só sucata sem coração...

domingo, 1 de janeiro de 2017

Poema: "Áfricas", de Erivelto Reis

Áfricas
Erivelto Reis
Para Norma, em seu aniversário.

Nenhuma África existe a não ser
A que se encontra em nós.
Nosso DNA de Áfricas,
Acorrentado
Pela transposição das vitrines dos shoppings,
Pela segmentação social,
Pelo preconceito contra os Deuses
Que fundaram esses povos –
Tanto quanto outros deuses fundaram outros povos
E os que neles creem...
E se disponibilizam acessíveis aos credos da igualdade,
Pelas roupas que substituem as peles
Que disfarçam o sangue africano
Da Humanidade.
Existe, sim, com razão,
Uma África, marco histórico, geográfico, antropológico...  para onde os olhares se voltam
E de onde os olhares se desviam,
Conforme os interesses intrínsecos e explícitos
Combinam-se.
A verdadeira África reside em cada célula
Do nosso corpo (social)...
E não nas cédulas e pedras preciosas que habitam os cofres
E revestem o poder dos que a venderam,
E vendem e a exterminam
E negociam com ela...
Preciosa mesmo é a vida!
Seu povo sou eu também,
Que tão pouco sei a seu respeito,
E cada qual que a respeita
E pensa nela com carinho,
Reverência e nostálgica saudade.
Como se fora um filho que escreva
Uma carta, um e-mail,
Um bilhete que seja,
Para uma Mãe que viva distante
Por ocasião de uma data ou de um Natal qualquer.
A luta em favor da África e de seus povos
Começa por reconhecer que são nossos irmãos e irmãs,
Por valorizar suas Culturas e suas Artes.
Essa é a regra
Valores que Norma, em especial, entre outros queridos Mestres,
Legou-nos – a mim e aos demais:
Cultivar o amor
Como a Filosofia das Letras,
Da existência de uma África próspera de paz.