Quem sou eu

Minha foto
Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

segunda-feira, 27 de abril de 2020

Texto: "Do Estado Mínimo", de Erivelto Reis

DO ESTADO MÍNIMO
Erivelto Reis
Essa EaD do estado em tempos de pandemia (e mesmo a maneira como historicamente se cuida de educação no Brasil) já é um exemplo de estado mínimo;
As filas para atendimento e informação na Caixa Econômica e na Receita Federal já são um exemplo de estado mínimo;
O atendimento que, mesmo agendado, pode levar meses no INSS, já é um exemplo de estado mínimo;
A postura arrogante e indiferente desse governo em relação à pesquisa e à universidade já é um exemplo do estado mínimo;
A venda criminosa de aeroportos e estatais brasileiras a empresas estrangeiras já é um exemplo de estado mínimo;
A falta de condições de trabalho e de recursos para a área pública da saúde já são exemplos de estado mínimo;
A asfixia e a demonização dos servidores públicos já são exemplos do estado mínimo;
Um fundo partidário e as regalias dos altos escalões do legislativo, do executivo e do judiciário já são exemplos do estado mínimo;
A supressão dos direitos trabalhistas e a flexibilização por decreto de cláusulas pétreas da constituição já são exemplos de estado mínimo;
Bilhões aos banqueiros e migalhas por barganha política aos mais necessitados já são exemplos de estado mínimo;
Juros de agiotagem ao cidadão comum e a camaradagem com que se empresta dinheiro a juros zero ou quase isso à elite já são exemplos do estado mínimo.
ESTADO MÍNIMO é cada centavo que qualquer governo te cobre, em função da qualidade mínima, ou intencionalmente desproporcional, em demanda que este governo lhe ofereça como retorno em respeito aos seus direitos. É cada vez que qualquer bem público funcione muito mais pelo empenho de seus servidores e gestores de carreira, do que pela articulação e indicação política e valorização de qualquer quadro dos três poderes, principalmente do executivo e do legislativo. ESTADO MÍNIMO, aliás, é tudo que, a duras penas, ainda funciona, mal ou bem ainda funciona, apesar dessa gente que vem governando o país, com raros momentos de lucidez e algumas exceções.
O que essa gente que agora está no poder deseja é o ESTADO AUSENTE, sustentado com o dinheiro de nossos impostos. O ESTADO NENHUM, o ESTADO DESOBRIGADO, mas com a chave do tesouro nas mãos e as benesses e projetos apenas para um pequeno grupo. Um ESTADO ESCRAVOCRATA em relação à grande maioria dos servidores e dos trabalhadores.
Não podemos aceitar um ESTADO SUCATEADOR das áreas da educação, saúde, emprego, transportes, segurança. Um ESTADO ENTREGA A PREÇO DE BANANA os bens estatais.
Nós já vivemos há bastante tempo, em diferentes épocas, sob o ESTADO MÍNIMO. Nós não podemos é aceitar pagar pelo ESTADO AUSENTE. O ESTADO SEM RESPONSABILIDADE. Deveríamos lutar por um ESTADO PRESENTE, JUSTO, EQUÂNIME. E não permitir ou sustentar com nosso dinheiro e nossos votos um ESTADO INIMIGO do povo que o banque.

Texto: "Expedição", de Erivelto Reis

            É preciso uma expedição ao âmago do retrato revelado de Dorian Gray em que o país se viu transformado. Não há gado, não há pasto. Há zumbis e robôs. Comandados por criminosos sem consciência, hostis em seus propósitos.
Há um sequestro permanente de uma democracia agonizante. Uma massificada teia de palavras de ordem, vazias de sentido e realidade já ao serem proferidas, mas que têm sustentado e mobilizado um ódio ao que não existe, direcionado contra os que pedem calma e reflexão, aos desvalidos, aos funcionários públicos, à Universidade e à escola.
            Os que têm desprezo aos mais pobres, os que não conseguiram, não quiseram ou não puderam ser abraçados pelos breves e já saudosos tempos da mudança sustentam um déspota genocida no poder. Legislativo e judiciário parecem pairar indiferentes ao lodaçal do executivo.
            A pandemia agrava o isolamento de ideias. Não há uma contra-ofensiva em marcha e não parece possível que haja responsabilização à altura dos crimes perversos cometidos. Nem antes, nem agora. Nossas reservas de tudo estão sendo torradas dia e noite, as pessoas morrem à míngua, as mínimas condições trabalhistas nos foram arrancadas.
            Como as pessoas não entendem que não se combate corrupção retirando direitos dos trabalhadores? Que se os bancos continuam lucrando, mesmo na crise, é porque os sistemas ainda se apropriam das brechas de corrupção do Estado e de seus gestores e legisladores?! Denunciam um professor (colegas, inclusive, o fazem), sem recursos, com os próprios parcos recursos por uma live/ead na quarentena, mas a voz some na hora em que se deveria protestar contra a política de opressão e exploração.
            Mesmo aqueles e aquelas que pretensamente se oponham ao governo fascista, a ele se aliam ao emular suas práticas, em conluios com patrões inescrupulosos, contra trabalhadores e trabalhadoras, vendendo um produto que não entregam ou entregam danificado. Capos. Capatazes e capitães-do-mato.
            Mesas partidas, famílias divididas. Gente de bem exalando uma monstruosa sede de vingança por algo que sequer existe ou contra o desejo individual que alguém expresse de existir para além de convenções burguesas. Fala-se contra a violência com violência contra os que sempre foram oprimidos.
       Contra a ciência em nome de um deus mínimo, limitado e particular. Um deus domesticado pela mesquinhez e pela frustração dos que o aprisionaram nos labirintos de seus discursos. É sábado, 25 de abril. São 5 ou 6 semanas de confinamento. Lá fora não há cura nem governo. Aqui dentro é outono, mas parece inverno.

domingo, 19 de abril de 2020

Poema: "Sussurradores (The walking dead)", de Erivelto Reis

Sussurradores (The walking dead)
Erivelto Reis
Teu silêncio cúmplice,
Passeia fantasma, zumbi
Naquela carreata.
Entre outros, até um professor...
E um nada
Preferiste ficar de braços cruzados
De boca fechada.
(É claro, milhões escolheram o horror!)
És um trabalhador,
De patrão, nada tens!
Tua saúde e tua família são teus únicos bens.
E agora, sob o perigo da dor e da morte,
Querem-te arrancar à força de tua casa.
Podes até estar decepcionado,
Decepcionada...
Teu corpo não vai
Mas a tua falta antes, fala.
Teu silêncio cúmplice,
Passeia fantasma, zumbi.
Naquela carreata.

quarta-feira, 15 de abril de 2020

Texto: "Atari", de Erivelto Reis

Atari
Erivelto Reis
O Google não tem uma sala de aula nem é capaz de oferecer uma. O que é o Google senão o resultado do que centenas de pessoas aprenderam verdadeiramente com seus professores e professoras nas reais salas de aula? Da genialidade, da inventividade, das frustrações e do contato com o outro surgem as grandes ideias, os grandes ideais. Não dá virtualização. EaD é uma ferramenta do processo. Não substitui a aventura da viagem e o que ela seja capaz de proporcionar em amadurecimento e crescimento e, principalmente, nos anos de formação inicial, em experiências socioculturais e afetivas. Fosse diferente, bastaria o tour virtual por países e museus e seria já o suficiente para saciar as inquietações do Espírito humano. Portanto, uma classroom apenas se parece com uma sala de aula. É como o dinheiro do Banco imobiliário. Ou milhões de seguidores numa rede social. O que as pessoas seguem? Senão um perfume do que seria humano, empático, palpável e capaz de um gesto humano e sensível? Ou um espelho delas mesmas? O que se compra com o dinheiro que só existe virtualmente e só existe naquele momento do jogo.
A classroom do Google ou de qualquer outra plataforma é um videogame de escola. Como um Fifa soccer de gramática ou de álgebra, como um super Mario de ciências ou de química. Não é mesmo a gramática, a álgebra ou a aula de ciências e de química. Apenas emula algo pretensamente, supostamente parecido com uma aula. O professor que se inscreve lá naquele espaço virtual apenas se parece, pelo instrucional da linguagem, pelo imperativo dos comandos ou pela artificialidade da linguagem escrita - por melhor que este seja como tutor - com o professor do dia a dia que experimentamos na liturgia da aula. Mesmo que não se lhe possa encontrar um único defeito virtual - essa "perfeição" já seria por si só um desvio, um ponto fora da curva. Há avatares, mas nesses, por mais reais que se pareçam, não bate um coração de verdade. O foco no resultado é garantido quando todo o processo é informatizado. Premissa falsa de resultados duvidosos. A sala de aula é todo dia o big bang da existência de sonhos, de novos universos e descobertas. A sala de aula é o ensaio de nossas estréias, o anfiteatro de nossos afetos e de nossas emoções. O palco de nossas experimentações. Espelho de si e ecos dos outros. Sala de aula virtual é um console para um jogo. Que nem sempre pega. E não adianta assoprar o cartucho. Educação on line num país como o nosso, com os problemas que temos é tentar zerar o jogo antes da primeira fase. Game Shark. Craquear. Quem vai arcar quando hackearem o futuro das gerações vindouras. O ser universal globalizado, vazio de si e do outro apertará qual tecla pra resetar o jogo e restaurar a configuração original? Ou o fará por comando de voz?

Poema: "A escola está esperando por você", de Erivelto Reis

A escola está esperando por você
Erivelto Reis
Para os meus alunos e alunas (e suas famílias)
Meus alunos e alunas,
a escola está esperando por vocês.
Quando chegar a hora,
no momento em que for seguro para todos e todas
a escola está esperando por vocês.
Não tem aula correndo, desesperadamente,
nem conteúdos intergaláticos do outro mundo sendo dados,
nem equações irrespondíveis brotando do chão e do teto.
A escola está esperando por vocês.
Naturalmente, há pessoas que estão pensando e trabalhando
para quando chegar o retorno, o grande dia,
todos nós possamos comungar e partilhar
uma energia boa, do bem, produtiva,
muito mais pro nosso espírito e nosso amadurecimento
do que pra qualquer histórico ou currículo.
A escola está esperando por vocês.
Não há, acreditem, uma escola passando apressada,
nas redes virtuais, em plataformas digitais,
através de links, hiperlinks e quetais.
A escola não virou cursinho, preparatório com deadline.
Uma vida de avatar on line.
A escola está lá, onde sempre esteve,
porque a escola não é nada sem você,
aliás, é: um prédio, uma construção,
o espaço que você ocupará com seus sonhos
e seu potencial,
o berço da soberania de qualquer nação,
da integridade e da ética de qualquer cidadã/cidadão;
a escola está te esperando,
ela não está passando.
Não fique angustiado/a, ou nervoso/a
achando que está rolando uma grande festa
da qual você não está participando.
Você na escola é a festa!
E a festa está te esperando,
Para quando a pandemia passar.
Acalme o seu coração, interaja, converse,
Abrace sua família,
faça o que conseguir fazer, em termos de leitura,
de pesquisa, pra não desaprender-se de você,
de seus objetivos e ideais,
com responsabilidade, com respeito e com amor,
mas a escola não está passando,
não está correndo para longe de você,
a escola não é apenas conteúdo, aula não é live, não é chat
aula é um mundo e nele tem de caber você.
Não corra demais, mas não fique parado, pirado, bolado...
a escola te espera
e vai fazer qualquer inverno, qualquer outono,
a partir do nosso real reencontro
se transformar em primavera.

terça-feira, 14 de abril de 2020

Texto: "Sobre a EaD que o Estado do Rio de Janeiro propõe", por Erivelto Reis

Sobre a EaD que o Estado do Rio de Janeiro Propõe
Erivelto Reis

EaD não é live nem é chat. Quem não entende de educação não devia administrar nem gerir educação. Governo do Rio e Seeduc não podem ver uma vergonha que já querem passar. 
Vai dar livro aos professores? "Que tal colocar todo mundo num galpão e numa fila sem a menor condição?" Vai ter que dar aula EaD durante a pandemia? "Por que não colocar o professor pendurado no próprio computador, na própria internet, gastando a própria energia elétrica?" 
E se o aluno não puder estar on line na hora da aula ? E se precisar de tempo para estudar os materiais sem a presença do professor? Ao invés de agir com inteligência, com sensibilidade e com tranquilidade, o governo, seus metropolitanos e assessores de plantão farão com que as pessoas se desarticulem e se frustrem. E o que poderia ser uma oportunidade de construção de uma metodologia de aprimoramento e de interação vira uma massada burocrática e sem eficácia. 
Não sei quem pensa ou sugere essas ações ao secretário? Se for ele mesmo, está caminhando por um terreno que mistura populismo e incompetência. EaD não é live nem é chat. 
O professor ou professora que desde o primeiro momento se propôs a pensar, a contribuir, a adaptar materiais para o bem de seus alunos e alunas, mais uma vez se vê confrontado com a falta de articulação e conhecimento didático pedagógico dos que deveriam gerir a educação. 
Na falta de melhor solução, flexibilize, dê tempo ao aluno para que possa ler. As famílias têm dinâmicas próprias. A escola é que tem dinâmicas macro na modalidade presencial. Uma aluna me escreveu: "professor, demorei pra ver a mensagem porque meus pais estão trabalhando de casa é só temos um computador". Outro aluno escreve: "professor, na hora que eu ia assistir o vídeo meu computador travou". 
Quem trabalha com EaD trabalha com demandas de tempo, atividades e tarefas que dão a um público heterogêneo e plural condições de gerenciamento do seu tempo e de seus próprios recursos. Em caso de dúvidas, há os fóruns de debate e o aluno envia um e-mail ou mensagem particular para o seu tutor que tem um tempo para ler, interagir e responder. Fazer a estrutura da escola física: mesmo horário e chamada por EaD é da ordem de despreparo, populismo e despautério de obrigar os alunos e alunas a participar das aulas EaD uniformizados. Afinal foram entregues uniformes para boa parte dos alunos. Percebem a falta de critério apoiada pela burocratização desnecessária do processo? 
Se meu aluno não estava on line no dia e horário da aula, não merece ter sua atividade considerada? Merece levar falta? Ah, gente. É um desgaste desnecessário de alunos e professores. Em matéria de educação pública, há momentos em que o Brasil parece uma eterna reunião de condomínio daquelas com gente mal humorada e conservadora reclamando de fazer mal aquilo que sempre fizeram mal. Não chame de EaD o que é apenas a escola sem escola. 
Não queira falar de educação antes, durante a pandemia ou depois dela sem valorizar os profissionais de educação, seus salários e suas condições de trabalho. Um governo que permite ou faz contratos com empresas que pagam menos que o piso de um salário mínimo (ah, os descontos...) aos terceirizados e contratados não pode estar em condições de ser efetivamente levado a sério. Considero o atual secretário de educação bastante bem intencionado, mas fico preocupado porque sua gestão não pode ver uma vergonha que já quer passar. 
Educação é olho no olho, sensibilidade, metodologia e inteligência. EaD não é live nem é chat. Lá vem o Brasil descendo a ladeira.

quarta-feira, 8 de abril de 2020

"Rêmoras", poema de Erivelto Reis

Rêmoras
Erivelto Reis
Comensais...
Ostentam um prestígio que não têm,
Dirigem-se a quem não os conhece,
E se os conhece, só os usa,
E não os ouve, mas se vale
De sua megalomania pandêmica
Para saciar a sua fome e sede por poder.
Tomam para si uma dor
Que não sentem,
E que expressam apenas pela hipocrisia
E seu desprezo pela vida do outro.
Fazem altares de escalabros
Infâmias, fakes e opiniões l(r)etais.
Consideram-se arautos, paladinos,
São violentos em discursos sociopatas.
Estão nos jornais, nas redes,
São âncoras e naufrágio
Nas rádios e nas televisões.
Consideram-se no topo da mídia,
Mas são rêmoras,
Apenas peixes pequenos
Que devoram os restos putrefatos
Que escapam da boca dos tubarões.

terça-feira, 7 de abril de 2020

Sobre pandemia e EaD, por Erivelto Reis


Nessa fase difícil por que estamos passando como sociedade considero importante que o governo esteja atuando para o bem estar da população. Não sei se o EaD seria a melhor solução para a educação no contexto social que temos no Estado do Rio de Janeiro. Nós já vínhamos de um processo de fechamento (otimização) de turmas, redução de carga horária de disciplinas essenciais como matemática e língua portuguesa (literatura sequer figura com nome oficial na grade), nossos alunos e alunas vêm de formação em escolas de municípios com condições de estrutura e gestões muitas vezes calamitosas, o valor pago aos profissionais da educação não tem reajuste há bastante tempo, além de não serem historicamente valorizados, em relação, por exemplo, a profissionais do judiciário.
Tivemos um dos maiores escândalos de corrupção ativa e passiva envolvendo um chefe do governo. Tudo isso pra chamar a atenção para um padrão de subvalorização e uso político da pasta sem levar em consideração pedagogos, professores, estudos etc. A EaD, infelizmente, vai se tornar um fardo para boa parte dos alunos seja por falta de recursos, seja por estrutura para realizar os estudos, seja por disciplina inexistente mesmo no curso presencial para realizar as leituras e tarefas, seja por falta de recursos formativos anteriores e pela percepção política intrínseca - talvez não racional e consciente -, de que numa situação como essa, dificilmente poderá haver reprovação; seja pelo medo real que as pessoas estão enfrentando nessa situação de pandemia.
Há, de fato, muitos alunos e alunas interessados e interessadas nesse processo, familiares preocupados, sobretudo, no terceiro ano do ensino médio, no entanto, os custos estão sendo repassados e divididos entre gestores e educadores. Não há realmente um plano EaD para a Educação, há uma transferência em massa de responsabilidades de gestão e articulação. Não se discutiu efetivamente com a classe, não se criou um projeto - uma pretensa live de conteúdos numa sala do google ou do facebook ou de qualquer outra plataforma - só com boa vontade pode ser chamada de aula para o público de que estamos tratando.
Mesmo em relação aos professores e professoras - há muitos colegas que pouco dominam ou conhecem de ferramentas de interação virtual, e, se formos considerar, o veículo de interação não é a aula e, sabemos, há dezenas de metodologias interseccionadas a cada interação virtual, mesmo num curso como esse, ministrado de profissionais para profissionais. Supor que às pressas, sem discussão real, em tempo mínimo, sob forte apreensão social, possa se construir uma rede EaD, é uma pretensão que atende - pode vir a atender -, a uma parcela mínima do alunado e a uma lacuna gigante de atuação política.
Considero o secretário de educação do Estado bastante bem intencionado e carismático, capaz de angariar fortíssimo e importante capital político, mas sem discutir e executar a evolução salarial do funcionalismo da educação, sem resgatar a rede FAETEC para a secretaria de Educação do Estado e valorizá-la devidamente, a EaD em tempos de coronavírus é apenas mais uma ação paliativa. O atual gestor deve raciocinar e devolver os tempos suprimidos do ensino das disciplinas como Português e Matemática, valorizar áreas como arte, filosofia, história, geografia e ciências sociais, descentralizar o poder das metro sobre a gestão direta das escolas, ou reorganizar as metros, criando áreas de cobertura menores (nem se gasta dinheiro pra uma ação como essa), e estimular a que as pessoas confiem na escola e não apenas no secretário e seus assessores. Tem muita coisa pra ser feita, pouco tempo, um cenário em que as famílias estão passando dificuldades e medo grave e real de morrer em consequência da pandemia.
Um sistema cultural, artístico, (Cinema, música, documentários, animações, shows, palestras de formação com adesão por área de interesse) mediado pelos profissionais da escola (circulando no google, facebook, youtube) me pareceria mais efetivo nessa circunstância. Não estou pessimista, embora o discurso possa direcionar para uma compreensão dos argumentos, o contexto e determinadas práticas de gestão é que me parecem apontar para um caminho equivocado. E que fique claro, sem valorizar efetivamente os profissionais da educação, mesmo o presencial ainda será um paliativo. Não desejo confrontar a nenhum/a dos/as colegas cursistas nem seus mediadores. Fiz apenas colocações que são para mim inquietantes e que não pretendem fazer de mim um dono da verdade, ou velho do restelo camoniano. São inquietações apenas. Grande abraço.

segunda-feira, 6 de abril de 2020

Sobre o futuro

Nenhuma era pode ruir sem fraturas. 
O futuro é o revolver dos escombros... (Erivelto Reis)

Homescholing, por Erivelto Reis

Delivery × homescholing:
Educação vem de casa.





Sobre a solidão em tempo de pandemia

A solidão também é um vírus. (Erivelto Reis)

Reflexão sobre a memória, por Erivelto Reis

Sobre a memória
Erivelto Reis 

Há dias em que a memória
é um outro país.

Poema: "Necropsia", de Erivelto Reis

Necropsia
Erivelto Reis
O mais difícil parece ter sido o primeiro golpe.
Os demais atos, dentro do golpe,
e subsequentemente a ele,
precisaram somente de acertos internos,
da condescendência de parte da imprensa,
da anuência de certos religiosos,
da paixão pela ignorância
e do ódio sem explicação
a um alguém ou algum grupo
que nunca lhes fizera mal.
Esquecer-se dos próprios erros
e ocultar as próprias falhas
também foram responsáveis pela letargia.
A pandemia
(quando se instalou, pouco operou
sobre o que já havia de estrago)
apenas realçou o quadro.
Agora e outrora podem ser épocas
propícias para se queimar arquivos
Ninguém é prova viva do golpe,
metafórica e circunstancialmente,
por muito tempo.
Jazer é verbo predominante
em tempos nada fascinantes.
Vai ser difícil explicar aos filhos
o ódio contra os mais pobres e desconhecidos.
Causa mortis ainda em vida:
a estupidez decrépita de uma memória sem honra.