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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

terça-feira, 26 de novembro de 2019

Poema: "Sororidade", de Erivelto Reis

Sororidade
Erivelto Reis

Afaga a outra alma
Com a luz que brota da tua.
Abraça, conforta,
Protege e luta.
Algumas palavras
Não servem pra desmentir e apagar
A desigualdade que existe
E ainda persiste.
E só outra irmã
É capaz de proteger
Como se desse de presente
Uma semente de germinar amanhã.
Aos demais, cabe o respeito,
E o carinho pela dignidade,
De quem ama os sonhos
Que nascem no seio
De onde todos os sonhos vêm.
Abraça e toca o semblante
Daquela que comporta
Outra alma feminina igual a tua:
Vibrante, inquieta, sensível,
Latente.
Sororidade:
(Espaço de comunhão
Onde a Liberdade atua).
Necessária mais do que se imagina.
Afaga uma alma feminina
E irmã igual a tua.

Poema: "Xô", de Erivelto Reis


Erivelto Reis
Bishop bixou
Baixou o ibope
É shopping
É golpe
Photoshop
Vai dar xabu!
Água no chopp
Boicote.
Choque.
Xarope.
Acinte.
Acharque.
Parachoque.
Que a Flip flope.

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Poema: "Cuidado! Cão falso!", de Erivelto Reis e "Hás de virar sabão quando chegar a hora", de Cícero César


Cuidado! Cão falso! [ parece o "cão chupando manga"]
Erivelto Reis

“Cão feroz”! Avisa a placa!
Os que não conhecem até se enganam!
Lambe os próprios textículos,
rosna para própria sombra
e abana o rabo para os poderosos.
De dia, ronrona, qual felino...
De noite, estranho em sua própria casa!
Ataca os que lhe dão comida,
apoio, amor e abrigo;
copula com a própria vaidade,
emite juízos-ganidos
rigorosíssimos contra os desafetos,
ostenta os títulos:
coleira de pedigree forjado que se autoconcedeu,
Cão misógino: assedia e gosta de humilhar.
Passa! Cachorro falso!
Dá voltas em torno de si mesmo,
lambe os próprios textículos,
vive sempre com a pulga atrás da orelha,
mastiga suas próprias fezes...
Vai arrumar sarna para se coçar.

Hás de virar sabão Quando chegar a hora
Cícero César

Hás de virar sabão Quando chegar a hora Hás de morrer feito um cão Com a língua pra fora As moscas em ti pousarão Depois irão embora Beijar a mais nova mão De um borra-botas Se o dono te der pancadas Daquelas que quebram as costelas Sejas um bom cão de guarda Redobres a sentinela Bebas das águas paradas Comas as sobras de muitas panelas E morras, sem saber que morrer não é nada E que viver é que são elas

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

"Vai buscar teu filho, Liberdade", de Erivelto Reis

Vai buscar teu filho, Liberdade.
Que o canto desse povo é de alegria e de saudade.
Nem medo, nem ameaça, nem quebranto
Ou maldade, vão impedir meu povo de ser feliz!
Pode atrasar, é verdade.
Vai buscar teu filho, Liberdade...

Poema: "A historiadora", de Erivelto Reis

A historiadora
Erivelto Reis
Para Marcia Cristina de Vasconcellos
Essa é uma saudação em Vida!
Não será a primeira vez
Que um historiador faz História:
Com seu trabalho, com sua ética,
Com valores acadêmicos
E capacidade inconteste.
Márcia Vasconcelos,
Com qualidade, dedicação e amor
Marcou a História
No coração da Zona Oeste.
Deve-se reverenciar seu trabalho,
Respeitar sua trajetória...
Sua inquietude e obstinação
Com a pesquisa, com os estudos.
Sua grande Lealdade
Em favor da História
E da formação adequada de suas alunas e alunos.
Seu humor bem de leve
─ entre azedinho e açucarado ─,
Sua coragem e bravura contra os
Fascismos, intolerâncias e preconceitos
(explícitos ou disfarçados).
Há pessoas cujo convívio perdemos
E não quereríamos perder,
(E que nos servem de exemplo)
Uma delas era você.
Toda revolução tem um estopim!
Silenciosa que seja,
Mas ela marca o fim
Da opressão, da exploração
E da banalidade medíocre
Das soluções tacanhas.
Você é grande demais
Sendo simples, generosa e humilde
Eis mais essa sua façanha.
A teia que liga os pontos da sua história
Será tecida por suas lutas e vitórias.
Historiadora e professora igual a você,
Márcia Vasconcelos,
Não se acha toda hora.

Crônica: "Para os que defendem a Democracia", de Erivelto Reis



PARA OS QUE DEFENDEM A DEMOCRACIA
Erivelto Reis

Os que defendem a Democracia não estão ou vão a determinados lugares simplesmente porque querem. Vão ou estão porque é preciso ir. Vão ou estão porque outros tão destemidos quantos eles não puderam ir.
Os que defendem a Democracia vão ou estão na linha de frente do combate ao preconceito, à humilhação, à destruição do estado democrático, à supressão dos direitos civis e constitucionais porque, antes deles, em um tempo muito, muito recente na história do Brasil, outros que estiveram ou que foram aos cenários equivalentes aos da mesma batalha foram presos, sequestrados, capturados, interrogados, torturados, mortos. E os que não morreram sofreram violências da natureza das torturas descritas nos círculos infernais de Dante.
Os que defendem a Democracia vão ou estão em combate contra os inescrupulosos, os déspotas, os capachos de ditadores, contra os entreguistas, os detratores, os caluniadores, os torturadores, os corruptos porque é preciso que alguém comece a combatê-los.
Os que defendem a Democracia não toleram ameaças como “brincadeiras”, o compadrio como forma de se fazer política, sabem que, historicamente, quando forças econômicas, religiosas e políticas se unem, pode haver componentes perversos que brutalizem o povo; ou o banalize ou o escravize ou o animalize ou o bestialize. É raríssima a possibilidade de favorecer, esclarecer, governar e proteger o povo em circunstâncias análogas. Leia na História, na Arte e na Literatura: você vai ver.
Os que defendem a Democracia o fazem porque acreditam na soberania, na autonomia entre os poderes, na Educação, no trabalho e na valorização de trabalhadores e trabalhadoras, na proteção das riquezas naturais de um país, no respeito à dignidade humana, na justiça, na Arte e na Cultura, na Liberdade e na convivência pacífica entre as pessoas.
Nenhum regime democrático se legitima pela opressão, pela subserviência aos países ricos e pela Violência, física, institucional, pela supressão de direitos dos trabalhadores e pelo discurso de ódio.  Os que defendem a Democracia sabem disso. Os que buscam privilégios e migalhas de privilégios, não. Ainda não.
O autoritarismo no agir e no falar, a indiferença ao diálogo, o menosprezo ao interlocutor, o uso de ameaças explícitas ou veladas, o assédio aos servidores, o enfraquecimento administrativo e a transferência sistemática de patrimônio, bens e serviços essenciais do estado para os setores privados, sem discussão e debate com a sociedade e sem justa e real compensação é roubo de patrimônio e, mais grave ainda, de nosso futuro. Condena nossa população à indigência, porque certamente nos veja assim.
O repúdio à arte, aos artistas, à cultura, à livre expressão, a perseguição aos professores são indícios claros de um estado antidemocrático. Penso que os professores representem para os ditadores o que os comerciantes judeus representavam para os nazistas na Alemanha no período que antecedeu a abertura dos campos de concentração.
O uso de violência contra os mais pobres, o horrendo balé da cópula entre corruptos e corruptores, cujo ápice do prazer é a dissolução dos direitos mais elementares à vida, à saúde, à segurança, ao ir e vir, ao trabalho, à seguridade social, à escola... são indício da brutal sanha com que os ditadores se lançam ao que julgam ser o corpo agonizante do estado democrático ­─ ensaio de cadáver putrefato ─ de uma jovem Democracia. Demonstram seu fetiche pela dor do outro, sua arrogância e sua libido pelo ódio e contra as instituições democraticamente legitimadas.
A coexistência de jovens de “boa índole”, com boas famílias desprezando a escola e escolhendo o partido da esperteza, do preconceito, assenhorando-se pessoal e virtualmente do comportamento do “troll”, do “hater”, das pequenas corrupções, do desprezo à ética, ao trabalho, do Bullying com o desejo por justiça com as próprias mãos, sobretudo quando feita contra os pobres e desvalidos, as mulheres e crianças, os idosos, os de matriz religiosa diferente, os indigentes, os marginalizados por quaisquer razões, na mesma grande massa de pessoas às quais os governos antidemocráticos pretendem aplicar a pena capital em doses homeopáticas, constantes e cada vez mais intensas, é outro indício de que os que lutam pela Democracia não devem se calar e não devem parar de estar e ir aonde precisam ir.  E porque sabem que a Democracia deveria estar em todos os lugares.
Os que defendem a Democracia sabem que é preciso defendê-la todos os dias com gestos, atitudes e palavras. Os que defendem a Democracia sabem que, nos tempos que se seguem, esta talvez seja a última coisa que façam.




sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Reunião, poema de Erivelto Reis







Reunião
Erivelto Reis

Pagamos os bancos esse mês?
Claro! Pagamos.
Parabéns.
E os funcionários e funcionárias?
Que esperem.
(Parabéns.)
Pagamos os bancos esse mês!
Mas eles podem esperar?
Se não esperarem empregados, esperarão desempregados.
Mas nós temos o direito de fazer isso?
Não temos dinheiro.
Mas não estamos pagando aos bancos?
Claro que estamos.
E os salários atrasados desses funcionários e funcionárias?
Pagamos os bancos esse mês.
E as famílias deles e delas,
Que estão passando por dificuldades?
Pagamos os bancos esse mês!
E no mês passado... e no outro mês...
Não deixamos de pagar os bancos nenhum mês.
Mas por que fazemos isso?
Para não pagarmos mais juros.

E o que acontece enquanto funcionários e funcionárias não recebem?
Eles pagam juros.
E quando recebem?
Pagam os juros da dívida que contraíram
Por não haver recebido no tempo que deveriam.
Mas nós pagamos os funcionários e funcionárias?
Ocasionalmente. Parcialmente. Às vezes, integralmente.
(Antigamente era sempre).
E, de uns tempos para cá, principalmente, na justiça.
Mas não é mais justo e ético
Pagar funcionários e funcionárias conforme a lei?
É! Mas na justiça, ganhamos tempo.
Para quê?
Para pagar os bancos.
E as outras dívidas que temos...
Que outras dívidas?
Trabalhistas, por exemplo.

Por que temos dívidas trabalhistas?
Porque não estamos pagando os funcionários e funcionárias que temos.
E os que tivemos?
Demitimos. Porque não gostavam que não os pagássemos.
Ou se demitiram. Porque não gostavam que não os pagássemos.
Ou porque não puderam mais suportar a forma como os pagávamos.
Mas nós pagávamos...
De um jeito que eles não gostavam.
Por isso os estamos pagando na justiça
Com o trabalho dos funcionários e funcionárias que temos.
E que não estamos pagando.
Mas pagamos os bancos esse mês.
Mas os funcionários e funcionárias não reclamaram?
Reclamaram!
E nós, o que faremos?
Pagaremos quando pudermos.
Aos bancos?
Não, aos funcionários e funcionárias.
E se eles protestarem?
Os bancos?
Não, os funcionários e funcionárias.
Pagaremos os bancos esse mês.
E se ainda assim  os funcionários e funcionárias reclamarem?
Otimizamos.
Aconselhamos.
Orientamos.
Avisaremos.
Demitiremos.
E pagaremos os bancos esse mês.
Mas nossos funcionários e funcionárias não são bons?
São. Porque os coordenamos.
Porque os dirigimos.
Porque fazem o que mandamos.
Porque esperam mesmo quando não os pagamos.
Mas há os ruins?
Há. Sobretudo, aqueles que não concordam
Com o fato de que não os pagamos na forma como a lei determina.

Por que devemos tanto aos bancos?
Não devemos, estamos pagando.
Por que devemos tanto aos funcionários e funcionárias?
Porque estamos pagando aos bancos...
E ( só porque a justiça manda) aos funcionários e funcionárias que tivemos
E que não pagávamos quando os tínhamos.
Planejamento para o futuro?
Tentar convencer os insatisfeitos, demitir os descontentes,
Contratar novas frentes, novos ares,
Gente mais alegre.
Mas se pagarmos os nossos funcionários e funcionárias regularmente,
E os respeitarmos, reconhecermos sua capacidade, seu talento,
E lhes dermos melhores condições de trabalho,
Eles também ficarão satisfeitos.
É. Mas aí saberemos as caras feias que fazem.
E teremos a recordação das reclamações que fizeram quando não os pagávamos.
E eles terão para sempre a memória do que sofreram.
Não dá para confiar.
Progresso também é isso:
Produzir memórias ruins
Em pessoas boas diferentes ao longo de várias épocas.
E conseguir pagar os bancos.
E quando a dívida com os bancos acabar?
Todo o resto terá sido lucro para nós.
A reunião de hoje foi produtiva.
Embora haja muitos meses
A pauta tenha sido sempre a mesma.




Sonetos de Cícero César e Erivelto Reis dialogam


ESTE OCEANO SE PARTIU EM DOIS
Cícero César

Este oceano se partiu em dois
Este navio já tocou o chão
A tua voz se ergueu em vão

E o pior é o que vem depois:
Nosso algoz, acima de nós
Tira proveito da situação

O vento derrubou o cais
E à deriva vai a embarcação
Há dias que singram iguais
Aguenta firme, pobre coração

Cá estou fazendo um poema a mais
Pra abraçar a causa do irmão
Sem saúde, sem amor, sem paz
Aguenta firme, pobre coração



SONETO CABISBAIXO
Erivelto Reis

O coração já se afastou do cais...
E a razão estrangulou a aorta!
O oceano é raso pros boçais.

Extinguiram as preocupações formais,
Ancoraram-nos, fecharam-se portas.
Sabem de menos e podem demais!

O que nós fomos o tempo não comporta,
Transcende e une por laços vitais,
A amizade e o amor são as respostas,
Valores nobres: não morrem jamais.

Estou respondendo ao teu soneto-ilha
Sofrendo ao ver a água entrar no barco,
Meu porto-abrigo: amigos e família.
Receba neste, o meu fraterno abraço.