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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Poema: "Capim", de Erivelto Reis

 

Capim

Erivelto Reis

 

Quando encerrar-se

A minha existência terrena

Alguém terá que notar

Que eu estava numa arena

Lutando à beça

Alguém terá que reparar

Na dimensão aterradora

Das feras, dos monstros contra os quais lutei.

Não ponho reparo

Que chegue apenas tarde

Essa percepção

Mas me magoa se ela não chegar...

Isso posto,

Nada importará.

Dão-te alguma chama,

Um pouco de conhecimento,

Centenas de idiossincrasias

E a isto chamam alma

E do que dela vaze e te defina,

Ainda que parcialmente,

Chamam de talento, id, ego,

Personalidade,

Temperamento...

Quando eu me for

Fui porque fui

E não há volta

Nem memória em papel carbono

Há apenas esquecimento, abandono, ano após ano...

Apesar de qualquer escritura

A vida rememorada

É ficção pura

Literatura e lápide e fim

Num crematório, a sete palmos,

Ou no infinito ermo de uma biblioteca

(Teia de aranha, mofo, poeira)

Crescendo saudade e remorso

Como arbusto, matagal e capim.

sábado, 18 de dezembro de 2021

Crônica: "PASSOU PASSOU, PASSOU PASSANDO OU PASSOU PASSADO?", de Erivelto Reis

 

PASSOU PASSOU, PASSOU PASSANDO OU PASSOU PASSADO?

Erivelto Reis

                                                                                                      

Para a Flávia Valim e para o Cícero César,

com os quais sempre converso a respeito.

 

               Na feira... no mercado... no ponto do ônibus... pelo zap...

               – E teu filho?

               – Que é que tem ele?

               – Passou passou, passou passando ou passou passado?

               – E qual é a diferença? Ele passou!

– Aí é que você se engana. Há muita diferença.

– Se ele passou passou nós temos que saber, por exemplo, se ele teve todas as aulas, de todos os professores, em que condições a escola lidou com os professores, se eles recebiam seus salários de forma justa, se a escola forneceu equipamentos, cursos de capacitação, incentivos para se adaptar ao modelo remoto/híbrido durante esses quase dois anos de pandemia...

– Você sabe que a escola do meu filho é particular. Dessas que fazem anúncios no horário nobre. Tem filho de artista e tudo estudando lá. É num bairro legal. Tem funcionário de apoio pra ajudar a gente a parar em fila dupla no trânsito na hora da entrada e da saída... Lá a coisa é chique. Mas você sabe, é particular. É uma empresa. Quem não tiver satisfeito com o salário que peça as contas... E além do mais, a escola paga o piso do magistério. Não tá bom?

– Então teu filho passou passando.

– Como assim?!

– Quando não há valorização do magistério, de todo o corpo de funcionários de apoio, administrativo, seja na rede pública ou particular, nossos filhos, ainda que em condições de frequência e aprendizado, estão apenas passando. Porque a sociedade está atrasado, porque o sistema que deveria valorizar a educação está sobre ela explorando a força e a capacidade intelectual dos professores e funcionários. Assim, mesmo que seu filho tenha um ótimo aproveitamento, o cenário de relações interpessoais, as relações em sociedade não se modificam, porque ele fica isolado nessa “ilha”. Ou seja, por mais preparado que esteja, apesar da exploração da força de trabalho e da desvalorização dos professores, a sociedade não estará num ponto de evolução para uma troca. Logo os embates, o desemprego, as oportunidades, a insegurança da sociedade... estarão ainda na pauta e na vida do seu filho. Logo, ele passou passando. Significa que a escola particular usou seu investimento para a educação de seu filho para gerar lucro, para gerir com o menor recurso possível a folha de pagamento de professores e funcionários e não para transformar a sociedade da qual seu filho faz parte como aluno e de que fará parte enquanto cidadão educado e formado.

O mesmo raciocínio se aplica ao governo pela mesma prática. Com o agravante de que nesse caso, a corrupção, os desvios de verbas, a falta de respeito às leis, o assédio moral ao funcionalismo, a privatização de setores ligados à educação, a interferência política, via coordenadorias e secretarias, a perseguição a funcionários e profissionais atuantes sindicalmente, tudo isso faz com que o quadro social vá se deteriorando entre uma geração e a outra. Ou seja, seu filho enfrentará, com menos recursos um mundo ainda com mais conflitos e crises do que aquele que você enfrentou.

Sem falar na redução da oferta de trabalho, do achatamento salarial em todas as categorias, das perdas de direitos, da manipulação de setores organizados da sociedade contra os próprio povo, da perda de direitos, liberdades e garantias constitucionais...

– Então, quer dizer que mesmo na escola particular carérrima, meu filho passou passando e que as oportunidades para ele são menores?

­– Não é que sejam exatamente menores. Pode ser que ele tenha uma grande formação e tenha todo êxito naquilo que escolher fazer. O problema é que nesse sistema, baseado no modelo econômico da exploração da força de trabalho, o abismo social, a desigualdade, as injustiças sociais se perpetuam e se expandem.

– Mas na reunião de pais, eles disseram que o reajuste das mensalidades era justamente em decorrência do aumento do salário dos professores...

– E você acreditou? Vamos lá, trezentos reais de aumento, vezes 1000 alunos divididos por X professores e funcionários... Você acha que essas pessoas receberão esse aumento nessa proporção?

– Agora fiquei curioso. E o “passou passou”?

– O passou passou é uma utopia. É quando as condições sociais, emocionais, afetivas, psicológicas, econômicas da vida do estudante, o espaço escolar, as relações familiares, o quadro social estão em harmonia positiva para que ele possa sentir segurança e perceber que há perspectiva de ingresso no mercado de trabalho, de desenvolvimento de suas potencialidades, segurança para a prática de atividades esportivas, culturais, para formação continuada, valorização de sua formação... A escola não é um organismo isolado do mundo. Não é um depósito de gente. E não tem condições de resolver todas as questões inerentes da formação de um indivíduo. Mas é na escola – principalmente na escola pública – que as pessoas – especialmente a grande maioria da população –, tendem a solicitar ajuda para amenizar ou tentar solucionar esses problemas. Na escola não temos médicos, nem psicólogos, nem assistentes sociais, nem quaisquer profissionais além daqueles entendidos pelos governos como estritamente necessários para chamar um espaço de escola.  Não há investimento em tecnologia, acessibilidade, modernização dos recursos. Apenas propagandas e jogos de palavras para esconder a incompetência e o desinteresse pela formação da população.

– Quer dizer que a escola particular, mesmo as boas e caras, não têm como mudar o entorno social e ainda exploram a força de trabalho de seus funcionários e professores e que a escola pública é gerida por incompetentes e por interesses econômicos e políticos?

– A escola pública tem grandes e muito bons profissionais entre seus quadros. A questão é que a iniciativa privada está cada vez mais ávida por essa fatia do que o governo deve por lei investir em educação e quer fazer com que esse dinheiro troque de mãos. Ou seja, deixe de ser administrado pelo governo e que possa custear a educação pública e passe para as mãos de grandes conglomerados financeiros e educacionais que prometem melhorar a qualidade do ensino público, desde que essas empresas sejam contratadas pelo governo.

– Não entendo. Se o governo tem profissionais de excelência na educação e se alega ser capaz de fiscalizar um serviço quando esse é privatizado, por que não dá condições a esses profissionais e investe o dinheiro que é de todos e é garantido por lei na melhoria da formação de seus alunos, de seu povo.

– Porque não se trata de educar o povo, mas de fazer o dinheiro público mudar de mãos. Assim empresários financiam suas campanhas; assim percentuais de contratos bilionários são pagos – sob inúmeros disfarces – como propina; assim se negociam cargos políticos com salários exorbitantes nos mais variados escalões da administração pública.

­– Mas se as empresas têm competência e querem administrar a escola pública, por que não permitir?

– Por razões bem simples: 1) educação pública é soberania nacional; 2) educação pública é direito da população e dever do estado e 3) você já viu empresa particular melhorar efetivamente o serviço que presta à população? Eles mentem, enganam... Investem milhões e milhões em propaganda, falsificam números, estatísticas... fazem um modelo como padrão de alguma coisa ou serviço, filmam, fotografam, colocam pra funcionar por um tempo e em algum lugar e alegam que aquele é o padrão pra todo o serviço que oferecem. Quando sabemos que estão apenas interessados no lucro. Da telefonia à saúde passando pelo transporte público, obras, construções... você entende agora?

– Nisso você tem razão. Então quer dizer que eles ficam com todo o dinheiro da educação colocam uma ou duas escolas modelo em cada estado e depois a população e os profissionais de educação que lutem...

– Pera lá... Que “profissionais da educação”? ... A iniciativa privada contrata quem ela quer. No serviço públicos estão profissionais concursados, com carreira e formação profissional comprovada, continuada, com experiência e em constante aperfeiçoamento. Passam no mínimo por três bancas até serem aprovados e por pelo menos três anos de estágio probatório depois de assumirem seus postos. Mas as pessoas não sabem dessas informações. Os profissionais têm diretores, coordenadores gerais, coordenadores por área, reuniões de desenvolvimento por área, reuniões bimestrais, reuniões semestrais, reuniões anuais de planejamento, avaliação, autoavaliação. Têm fichas, diários, planilhas, documentos, provas, trabalhos, projetos que dependem de, no mínimo três verificações, três assinaturas – além de fiscalização externa de coordenadorias específicas – a cada um desses documentos. Você acha mesmo que se a iniciativa priva cometer um erro que a faça perder um contrato de bilhões, ela vai assumir o erro, indenizar as pessoas e sair do mercado para que outra “empresa idônea” assumir? Não. Ela vai manipular números, dados, demitir pessoas, mudar de nome, de marca, fazer propaganda pra distorcer as informações... Estão aí os crimes em Mariana e Brumadinho que comprovam essa tese.

­– Mas eu li que durante a pandemia o governo colocou muitos recursos à disposição.

– O governo colocou muitos recursos à disposição das grandes empresas. Como o Google, por exemplo. Como a rede de TV Bandeirantes.

– Mas não dava pro governo mandar um computador e internet pra cada aluno...

– Mas também não mandou um livro, não mandou material, alimentação... Não cuidou das pessoas. Não cuidou dos profissionais. Mas disponibilizou telefones para que profissionais de educação fossem denunciados. O governo simplesmente deixou o tempo passar, colocou uma plataforma digital – pra ser acessada por quem muitas vezes não tem sequer arroz e feijão em casa pra comer – colocou “aulotas” – aulas produzidas gratuitamente por professores públicos para passar de manhãnzinha na TV aberta que recebeu milhões por uma hora por dia na sua programação.

– Ah... entendi. Então, por isso, houve agora essa aprovação em massa por decreto. Porque o governo sabe que não foi capaz de gerenciar a educação em quase dois anos de pandemia. Por isso o a expressão “passou passado”. Porque o governo passou por decreto alunos e alunas que não tiveram a oportunidade real de aprendizado, já que o governo não criou meios reais para que ela ocorresse. Isso é gravíssimo. Se os alunos não aprenderam, mas foram promovidos, então todo o esforço dos profissionais da educação, a pedagogia, as didáticas, as metodologias que aplicaram para tentar ajudar os alunos e mesmo o fato de que já no final do ano foram obrigados a retornar ao ensino presencial ainda durante a pandemia... foi um risco desnecessário, porque os professores, os alunos e as suas famílias foram desrespeitados. Aprovar todo mundo é uma forma do governo lavar as mãos. Dar um “cala boca” na população. Evita que as pessoas cobrem o governo. Disfarça. É um engodo contra os mais pobres. Na prática, se considerarmos um aluno que foi promovido, por exemplo, para o terceiro ano do Ensino Médio, vamos perceber que desde que entrou no estado em 2020, no primeiro ano e em 2021, no segundo ano, esse aluno teve, se tanto, setenta, oitenta dias de aula presencial. E mais nada. Não pode contar com nenhum recurso real por parte do governo e agora está indo pro terceiro ano. Ou seja: foi dormir no nono ano do fundamental e acordou no terceiro ano do Ensino Médio, sem ter tido a oportunidade de aprender um milhão de coisas fundamentais pra sua formação, sem praticar a leitura e a escrita, sem amadurecer sua reflexão crítica, sem desenvolver suas habilidades sociais, cognitivas, emocionais e afetivas.

– E ainda há uma agravante!

– E tem coisa mais grave do que isso ainda?!

– Infelizmente, sim.

– O quê?

– Os milhares de alunos e alunas que abandonaram a escola. Perderam o fim de sua infância e o início da adolescência por conta de que a escola deixou de estar presente em sua vida real. Porque não tinham recursos de tecnologia e acessibilidade pra manterem-se em interação com a escola. Cada aluno e aluna que abandonou é uma vítima da péssima gestão do governo do estado durante a pandemia. Cada aluno e cada aluna que ficou ainda mais exposto à violência, à fome, à exploração, ao desalento, à falta de perspectiva de futuro durante e a partir do período de pandemia, é responsabilidade do governo.

– Então o governo deveria ter investido, criado programas de recuperação escolar, aulas integrais ou no contraturno, contratado profissionais – inclusive psicólogos e assistentes sociais –, para garantir o mínimo de segurança alimentar para os alunos e alunas e suas famílias...

– Sim, deveria. Mas fez uma jogada. Aprovou todo mundo por decreto na busca por se isentar da culpa por sua irresponsabilidade e assim ainda desmoraliza a educação pública e transfere a responsabilidade pela má formação escolar, pela exploração da força de trabalho, pela subalternização, pelo desemprego, pelo fracasso pessoal e profissional das pessoas mais pobres para elas mesmas, pois o governo chegou até mesmo a aprovar por decreto.

– Isso é cruel. Porque na hora as pessoas não vão entender o quanto estão em desvantagem na sua vida em relação a outros alunos e alunas de escolas de granfinos – mesmo que sejam escolas que exploram os seus trabalhadores como já sabemos – mas o fato é que desde o início do pandemia os filhos dos mais ricos continuam aprendendo, tendo contato com a escola, com a literatura, com a educação, com as matérias de exatas, com as matérias de ciências, as biológicas, as relacionadas à tecnologia... ou seja, continuaram aprendendo coisas importantes e fundamentais para sua formação pessoal, intelectual que vão ser extremamente necessárias quando chegar a hora de prestar o ENEM, de escolher uma faculdade, uma carreira. Enquanto os jovens mais pobres da população...

– Não tiveram nenhuma oportunidade real de acesso (ainda viram o governo federal aumentar o valor da taxa de inscrição pro ENEM, entre outras maldades contra os mais pobres), passaram dificuldades inimagináveis. E agora, promovidos por decreto, estão certificados por um governo incompetente e hipócrita.

– Isso é muito triste. É o futuro desses meninos e meninas que está em jogo. E o que o governo e seus secretários e assessores fizeram é um crime contra a escola pública e o contra o futuro do país.

– Sim. É.

– E não vão ser punidos?

– A menos que a população se levante exigindo condições de aprendizado reais e valorizando o trabalho dos profissionais da educação, cobrando o empenho, um bom comportamento, com civilidade, ética e respeito às pessoas por parte de seus filhos e filhas, nada acontecerá. Ou pior: o pior acontecerá.

– Mas se um time que nem jogou o campeonato fosse declarado campeão, todo mundo ia reclamar. Inclusive o próprio time. Você não acha?

– Boa pergunta...

– Pelo menos agora, não tem mais como piorar, né?! Assim que passar a pandemia, é conscientizar os meninos e meninas, conversar com suas famílias... Caprichar nas aulas de Língua portuguesa, Sociologia, Biologia, História, Geografia, Filosofia...

– Acho que não será possível...

– Como assim?! Não brinca com essas coisas! ...

– Você já ouviu falar no “Novo Ensino Médio”?

– Não. Mas se é “novo” deve ser bom...

– Aí é que você se engana. O Novo Ensino Médio retira da grade dos alunos a obrigatoriedade de se aprender boa parte dessas matérias, coloca-as como optativas e ainda reduz o tempo das disciplinas que permaneceram na grade como Língua Portuguesa e Matemática, por exemplo. Cria uma ampliação apenas virtual do número de horas do ensino médio.

– Como assim? Se tira uma disciplina, significa que o aluno vai passar mais tempo aprendendo outra coisa, não é?

– Nada disso. Elimina ou coloca como optativas várias disciplinas fundamentais e passa a contar o tempo do aluno em idade escolar para o ensino médio, mas não a carga horária cursada. Na prática, desde a matrícula no Ensino Médio, até a conclusão o aluno terá horas contabilizadas em sua grade, mas não estudará efetivamente esse mesmo número de horas nem nas disciplinas obrigatórias, nem nas disciplinas optativas. É o registro do vínculo que faz com que haja a impressão de ampliação de carga horária.

– Isso é como o taxímetro rodando com o táxi parado sem sair do lugar. No final não se chega a lugar nenhum e a conta da corrida será caríssima.

– É exatamente isso.

– Agora estou entendendo tudo.

– Mas pelo menos os alunos ainda poderão ir à escola pra merendar...

– Nem isso. Com a diminuição do vínculo de horas de disciplinas cursadas, no terceiro ano, o aluno quase não precisará estar na escola. Segundo o texto, estará empreendendo, a um passo de conseguir o seu novo emprego. Logo, proporcionalmente, as verbas pra merenda escola atenderão á demanda formal da carga horária.

– Que covardia! Sem aula e sem comida! Com menor tempo de preparação e leitura pra enfrentar a prova do ENEM...

– Isso mesmo...

– Por isso você me provocou com a expressão “passou passou, passou passando, passou passado” ?! Agora tudo faz sentido. E os professores e os sindicatos não reagem?

– Alguns, sim. Mas pra muita gente, o discurso do opressor, mais o salário na conta – mesmo que pouco – já é uma forma de desmobilizar. Não é que concordem. É que entenderam que o sistema não vai mudar

– Mas mesmo assim, cumprem essas ordens muito contrariados, não é?

– Infelizmente, não. Há até os que gostam e emulam os discursos do opressor que responsabiliza as vítimas.

– Mas tem alunos que só pela misericórdia, não é?

– O sistema opera contra eles. Eles reproduzem com o desinteresse que demonstram pela escola o que recebem como informação e prática do senso comum. Além de perceber que a profissão do professor está a cada dia mais desvalorizada.

­– Não sei... tem uns alunos...

– Tem gente de todo tipo em todo o lugar. Mas se houvesse uma política de educação e valorização dos profissionais de educação, esses casos seriam uma gota no oceano e seriam de condução e resolução muito menos conflituosa.

– A escola é o espelho da sociedade, é isso?

– Essa é uma leitura. Não dá pra ter uma cidade, um estado ou um país dominados pela violência, pelo desemprego, pelo caos urbano, pela corrupção de seus governantes, pelo desprezo de sua elite aos mais pobres e por qualquer política de atenuação do abismo social e imaginar que esses conflitos não vão aparecer na escola. Claro que vão. Em algum momento... Mas ainda assim, apesar de toda a desvalorização, da falta de recursos, de investimentos, a escola ainda é um oásis na sociedade. E é obrigação de estado, garantida pela constituição mantê-la democrática, gratuita, equânime, socialmente referendada, com qualidade, laica e acessível a todos e todas.

– Falou bonito. Se fosse um político tinha o meu voto. Mas também os políticos prometem, prometem e depois de eleitos não cumprem o que prometeram nem a sua obrigação. Não tem jeito. Não tem saída.

– Respeitar e valorizar os profissionais da educação, conscientizar os filhos ou os menores sob sua responsabilidade, educá-los para a compreensão do que significa estar na escola, lidar com as pessoas, valorizar o momento de aprendizagem é fundamental. Acompanhar bem de perto o dia a dia na escola, dialogar com eles sobre o que aprenderam, mostrar-se presente no processo de seus filhos já será de grande ajuda.

– E cobrar dos políticos que respeitem as leis e a escola pública. Que invistam, que paguem melhores salários, que deem melhores condições e mais recursos para a escola. E pensar que nossa conversa de hoje começou assim: “passou passou, passou passando, passou passado”...