Marcadores
Erivelto Reis
Se os marcadores de livros
que uso como ritual destino hábito ou improviso
pudessem – distraindo-se de sua real função
de postar-se às portas do futuro
guardando o passado (tola ambição do sábios) ─
marcar também o que sinto, o que sofro, o que choro,
ou rio, de janeiro a janeiro, enquanto leio,
e não tão somente as páginas, os capítulos,
que parcialmente abandono enquanto
descanso, durmo, como ou me procuro,
diante da grandiosidade ou da infâmia
do que eventualmente leio,
não seriam apenas marcadores...
Eu, traça humana,
jardineiro de palavras,
não me depararia com um
utensílio extensão do objeto definidor
de sua única função:
encontraria, certamente um espelho.
Se indicassem de que forma uma história ou um verso
Ou um poema inteiro me atingiram em cheio,
revelariam um novelo, um pote de mágoas,
um litro de passado, uma lágrima de olheiras,
um descongestionante creme de cânfora.
Marcadores de livros, presos ou perdidos entre as
páginas,
Iriam me manter atado
ao fundo de meus sentimentos
como âncoras.
Únicas testemunhas do momento em que
os raios de sol derretem as geleiras.