Quem sou eu

Minha foto
Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Poema: "Caule" - de Erivelto Reis



Caule
Erivelto Reis

Entre a ilha deserta
E a linha do horizonte
As dúvidas não indicam
Como olhar pra onde.
Mergulho, medo e barulho,
Marulho que as ondas de calor escondem...
Não me venha dizer que tens
O corpo e o coração fechados.
É tanto desejo reprimido,
Escondido, soterrado.
Azar e sorte na combinação
Improvável de damas e reis
Dos “ais” do baralho...
Flor sem caule,
Língua,
Pétala que míngua
A esperar orvalho.

domingo, 19 de maio de 2013

Crônica - "TOC de Cachorro" - Erivelto Reis



TOC DE CACHORRO
                                                                                  Erivelto Reis


            Antes de qualquer coisa: não é “tosse de cachorro”! É TOC mesmo. Agora vamos ao texto.
            Coitado de quem não tem boas lembranças para contar. Eu tenho, mas não sou bom de contá-las. Gosto mais das memórias inventadas... Essas marcam muito e me dispensam do trabalho de lembrá-las ou de explicá-las. Permitem-me até melhorá-las. No entanto, adoro contar as boas lembranças dos outros. O que ouço ou imagino ter ouvido. Às vezes, conto também as histórias não tão boas. Tal e qual o que se passa quando se conta com as pessoas...
            Tenho um amigo metido a psicólogo e a veterinário que exerce uma espécie de antropopsicologiaveterinária. Comparando gente com cachorro – atitude na qual não é o único mas na qual tem se esmerado bastante. Diz o “cientista postulante”:
 Tem gente que tem TOC de cachorro. Esse transtorno obsessivo compulsivo que faz com que as pessoas façam repetida, inexplicável e/ou inconscientemente o mesmo gesto. Tendo ou não função prática. Com controle ou sem.
– É mesmo?! Como é isso?
– Já observaram os cãezinhos?! Não abandonam quem não os trata bem. Antes, são abandonados. Rosnam para a própria sombra, latem e uivam para a lua. Agitam-se se estão felizes, se arrepiam se levam susto ou se se preparam para o ataque.
– Os cachorros fazem isso! Ok. Mas, e as pessoas?!
– Também!
E continua meu amigo:
            – Outro dia observei um cachorro que corria atrás de carros e motos latindo, rosnando, arranhando e ameaçando morder. Localizei logo o seu objetivo: mostrar que mandava no território. E mostrava a quem passava; a quem não estava nem aí. Bastava que alguém parasse e se detivesse observando a presença do animal para que ele ficasse estático, intimidado e confuso.
            – Me perdi. Insisto...
            – TOC de cachorro é isto! – Diz ele. E esclarece enumerando:
– “Ficante” de “pegação” na esquina da sombra; gente que busca o sonho, o consegue e não sabe o que fazer com ele; companheiros que não cumprem o trato e te “mordem” por instinto –, mas te avisam. Enforcadeira invisível a cercear espaço. Histórias e mais histórias que não se cruzam...
– Filosoficamente anticanino! – Aplaudo, me divertindo. Ele continua. Sustentando a metáfora:
– Perceba que os cachorrinhos que correm atrás dos passantes ou dos carros que os transportam, podem até assustar a um passante mais atento, como assustaria qualquer palpável e invisível repentina rajada de vento. Mas não conseguem nada. Assim como as bolotinhas de Bombril que uma babá colocasse, como se monstrinhos fossem, para assustar criança tímida, indefesa e doce. Produzindo, assim, a milésima segunda e a milésima terceira utilidades do Bombril: fazer maldade e cuidar da “recreação” infantil.
– Que conversa?!
– Não, cara, minha tia fazia isso quando trabalhava em casa de família. Mas a teoria do TOC de cachorro é minha.
“Família de inventores” – Penso.
– O cachorro indeciso, diante do carro parado, e o sonho possuído e não usufruído são partes de uma teoria que compara os homens aos cães?!
– Você é sábio! – Me diz ele, triunfante, com mal disfarçada emoção.
– Agora já posso explicar o capítulo da tese que aborda a fidelidade durante o cio e os postes nos blocos de carnaval...