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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

sexta-feira, 10 de julho de 2020

Crônica: "O teu patrão", de Erivelto Reis

O teu patrão (11-7-2019)
Erivelto Reis
Teu patrão tinha uma raiva estúpida de seus direitos como trabalhador, de te encontrar, ainda quando em sua mesa houvesse apenas um único chopinho, no bar badalado em frente à praia, ou na fila do cinema do shopping da moda, ou de descobrir que você, durante as férias, à custa de muita hora extra e economia, juntou um dinheirinho para dar uma passeada. Teu patrão tinha nojo de pessoas como você que encontrava no aeroporto: ele, indo viajar pelo mundo com o espólio canalha do lucro aferido pela exploração de sua força de trabalho e da de seus irmãos trabalhadores e trabalhadoras; você, finalmente voltando talvez para o último abraço em um pai e uma mãe que ficaram tristes em algum recanto desse país quando você se lançou na correnteza de exploração e ganância desses dragões e feras das grandes capitais. Teu patrão desdenhou secretamente quando você deu a notícia: "é, doutor, os menino agora tão na faculdade. Vão ser doutor também!". Teu patrão, se não agiu assim, é teu irmão é digno e decente. Mas os que agiram e sentiram e pensaram secretamente a divisão de classes e a tua inferiorização como homem e cidadão, agora e já de há algum tempo, já o tem feito à luz do dia, abertamente como o supra sumo de todos os discursos. Eu tenho medo, muito medo de pessoas iguais ao teu patrão. Porque eu sou apenas isso: um trabalhador igual a você.

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