Capim
Erivelto Reis
Quando encerrar-se
A minha existência terrena
Alguém terá que notar
Que eu estava numa arena
Lutando à beça
Alguém terá que reparar
Na dimensão aterradora
Das feras, dos monstros contra os quais lutei.
Não ponho reparo
Que chegue apenas tarde
Essa percepção
Mas me magoa se ela não chegar...
Isso posto,
Nada importará.
Dão-te alguma chama,
Um pouco de conhecimento,
Centenas de idiossincrasias
E a isto chamam alma
E do que dela vaze e te defina,
Ainda que parcialmente,
Chamam de talento, id, ego,
Personalidade,
Temperamento...
Quando eu me for
Fui porque fui
E não há volta
Nem memória em papel carbono
Há apenas esquecimento, abandono, ano após ano...
Apesar de qualquer escritura
A vida rememorada
É ficção pura
Literatura e lápide e fim
Num crematório, a sete palmos,
Ou no infinito ermo de uma biblioteca
(Teia de aranha, mofo, poeira)
Crescendo saudade e remorso
Como arbusto, matagal e capim.
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