Parasita
Erivelto Reis
Não! Ela não é esquisita
Ela não é narcisista
Ela não é egoísta
Ela é empoderada,
Ela é antirracista.
Ela não engole teu falso fetiche
Ela tem a manha da periferia,
Da baixada, de Nikiti,
Tem a sabedoria da vida
Ela sabe o valor de Frida.
Você diz ler Fanon, Niketche,
Você pensa que se safa, que agrada, que bomba
Dizendo que lê (sem ter lido) aquilo que está escrito
Nas obras de Grada Kilomba, Djamila, Djaimilia,
Paulina Chiziane, Carolina Maria de Jesus, Bell Hooks,
Maya Angelou e Conceição Evaristo...
Ela entendeu teu cinismo, teu machismo,
Teu falso academicismo...
Ela sabe qual o tempero.
Ela é um oceano inteiro
E você é uma poça d’água.
Machão, patriarcal, vê se te manca,
Diz que é homem de bem, cheio de moral
Que tem até amigo assim, amigo tal,
Que até curte ouvir
Lineker, Majur, Emicida,
Elza, Agnes, Gog e o escambau
Ela sabe que tu finge,
No teu X-streaming
Só toca o lixo de tratar a mulher
Como objeto sexual.
Jamais assistiu Rita Von Hunty,
Nem trata mulher com respeito...
O que te define é esse falso verniz
Esse discurso pronto, esse caráter vazio,
Esse assédio descarado em tudo
Quanto é rede social
E esse eterno ajeitar de pau.
Disfarçando, à luz do dia,
Ao cair da noite, se embriaga
Em sua ética machista, racista e ultrapassada
Que pela violência e pela força é sustentada
Mas nem pensa, nem tenta,
Que ela não vai ficar intimidada
Venha de onde venha,
Ela te enquadra na Lei Maria da Penha,
Se apega com os orixás, com os santos,
Com a Sororidade, ela te bota na linha:
Ela se enche de coragem,
Pois sabe que não tá sozinha.
Não! Ela não é esquerdista,
Ela não é mal amada,
Ela é esclarecida,
Ela não é sexo frágil,
Ela é empoderada.
Sustenta a própria família
Ela é cheia de talentos,
Disposição e argumentos.
Ela te quebra na ideia,
Ela te quebra na ginga...
Se bobear, se afrontar,
Te manda um avada kedavra,
Te quebra bonito na palavra.
Não vai botar galho dentro.
E ainda leva de quebra,
Um solo da Nina Simone,
Um samba da Clementina, um ponto de Santa Bárbara,
Uma risada espontânea e uma flor no cabelo,
Leva um passa fora, leva um desmantelo,
Leva uns comigo-ninguém pode e umas espadadas de São
Jorge.
Leva uma pá de poesias
De todas as Minas do Slam,
Leva uma ironizada,
Tu diz que é o bam-bam-bam,
Que tem jeito de artista? ...
Ela sobe no salto,
Ela manda é na lata: “Ah, tá, tô sacando, aham!
Desce do palco,
Para de show, para de zica, parasita!”
Vem de mainsplaining, pra ver!
Que leva voadora no peito,
Uma boa desmoralizada,
Nesse teu preconceito, orgulho
De um mau sujeito...
Não! Ela não é esquisita
Ela não é narcisista
Ela não é egoísta
Ela é empoderada!
Se você não percebeu,
É porque você não entendeu nada.
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