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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

terça-feira, 7 de maio de 2024

Poema: "Às vezes, as pazes", de Erivelto Reis

 

Às vezes, as pazes

Erivelto Reis

 

Deus, quando quer perdoar, não perdoa!

Ele enrola, disfarça, não trapaceia:

Pega um pouco mais de barro,

Faz um empanado com areia,

Tira uma costela do outro lado,

Deixa no presente o seu passado,

Põe tua alma velha num corpo diferente.

Não quer atrasar seu lado,

Mas quer te ver penitente.

Deus, quando quer perdoar,

Perdoa!

Mas implica pra cacete.

Te faz capinar um lote,

Te esconde um monte de macetes,

Te joga na beira do Rio,

Te faz remar contra a maré.

Põe os anjos aos teus pés,

Compreende os teus defeitos,

Mas te vicia em café.

Deus, se quiser, às vezes, perdoa!

Faz um rascunho pra tua vida nova,

Troca a tua pena com a de outra pessoa...
Deus é um sujeito magoado,

Deus é um indivíduo estressado,

Deus é um ser mal-humorado,

Deus não anda de bobeira,

Deus não virou deus à-toa.

Deus pode até querer te perdoar,

Mas, daí a dizer

Que vai tudo ficar de boa...

É conversa pra boi dormir,

Que não engana mais ninguém...

Deus tem os mesmos defeitos

Que qualquer ser humano tem.