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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Poema: "Santinho", de Erivelto Reis


Santinho
Erivelto Reis

Não, companheiro, não é desse que eu tenho medo,
Nem do outro ou dos que os seguem
E acreditam cegamente neles...
Nem daqueles que esquadrinham intenções propostas
Ou dos que inventam fake news, fake lifes, lives fake...
Não tenho medo de ideologias, nem do embate de ideias:
Tenho medo da falta de ideais,
E das atitudes que tornam os horrores irreversíveis e reais.
Tenho medo da angústia de desconfiar
Do ex (tinto) irmão e do ex (tinto) amigo,
De não confiar no meu instinto,
De só confiar depois de muito vinho tinto...
Tenho medo de me equivocar,
Tentando lembrar a ordem dos nomes
Que não deverei mencionar
Quando vierem me torturar.
Omitir o quê? Seja agora ou depois...
Todos os nomes já estarão ditos
Quando o desejo do algoz é condenar!
Tenho medo dos que nos entregam
Por um lugar efêmero ao qual jamais poderiam alcançar,
Tenho medo dos que nos julgam traidores,
Quando habitam um cubículo grandioso de rancores.
Tenho medo da inveja,
Daqueles que poderiam ser, se quisessem,
Bem maiores do que eu jamais seria...
Mas que preferiram gastar o seu tempo e sua energia
Ocupando-se da vida que supunham que eu teria
E das coisas que temiam que eu dissesse.
Tenho medo dos que não trabalham,
Ainda quando poderiam...
Dos que simulam que trabalham,
E daqueles cujo trabalho se incube
De desesculpir sonhos e regurgitar vereditos!
Tenho medo dos malditos disfarçados de bonitos.
Dos sem alma, dos sem graça, humor,
Pudor, amor e predicados.
Tenho medo dos articulados sem ética,
Dos patéticos com prática,
Dos hipócritas com simulacros de razão,
Dos religiosos e ateus sem coração,
Dos poetas que não valem a pena com que escrevem.
Tenho medo dos que tomam conta do sexo do outro
Do nexo do outro:
Frígido pensamento congelado,
Veneno letal disfarçado.
Tenho medo e protesto?
Tenho medo e fico calado?
Oh, dúvida mais antiga!
Tenho medo e denuncio?!
Talvez seja essa a constante dor que me atinja,
Talvez seja essa a próxima coisa que eu sinta,
Talvez seja essa a última coisa que eu diga.


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