Quem sou eu

Minha foto
Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

sábado, 25 de maio de 2024

Poema: "Tríade", de Erivelto Reis

Tríade

Erivelto Reis

Não nego que seja possível haver quem goste

De algo que perdeu ou de alguém que se foi

Com afinco sem precedentes

De intensidade, de paixão e de entrega

Em nada comparáveis

Ao aparato afetivo empregado

De quando os tivera.

Não nego que diante da ausência do ente amado

A pluralidade de respostas emocionais

Ao reconhecimento do amor que passou, findou,

Desistiu de esperar a reciprocidade idealizada e devida

Seja muito mais dramática e intempestiva

Em sua oferta de conexão, desejo e entrega.

É por haver uma capacidade de amar

Para além do amor, um amor pra depois,

Um pós-amor,

Diferente, em esmaecimento de autoestima, ao desamor

Que acredito que a perseverança para a ruína

De quem não reconheceria o amor

Nem se tropeçasse ou fosse atravessado por ele,

Mantém os ébrios vestidos de sóbrios,

Os alucinados céticos

Os artistas em crise criativa

Ou processos embricados de supercriatividade

E hiperbólica interpretação,

Os deprimidos mergulhados na melancolia do desespero.

Por haver quem só percebe valor na perda,

É que os poetas têm ou não têm emprego

É que os poetas têm e não tem paradeiro,

Amores, leitores e dinheiro.

terça-feira, 7 de maio de 2024

Poema: "Às vezes, as pazes", de Erivelto Reis

 

Às vezes, as pazes

Erivelto Reis

 

Deus, quando quer perdoar, não perdoa!

Ele enrola, disfarça, não trapaceia:

Pega um pouco mais de barro,

Faz um empanado com areia,

Tira uma costela do outro lado,

Deixa no presente o seu passado,

Põe tua alma velha num corpo diferente.

Não quer atrasar seu lado,

Mas quer te ver penitente.

Deus, quando quer perdoar,

Perdoa!

Mas implica pra cacete.

Te faz capinar um lote,

Te esconde um monte de macetes,

Te joga na beira do Rio,

Te faz remar contra a maré.

Põe os anjos aos teus pés,

Compreende os teus defeitos,

Mas te vicia em café.

Deus, se quiser, às vezes, perdoa!

Faz um rascunho pra tua vida nova,

Troca a tua pena com a de outra pessoa...
Deus é um sujeito magoado,

Deus é um indivíduo estressado,

Deus é um ser mal-humorado,

Deus não anda de bobeira,

Deus não virou deus à-toa.

Deus pode até querer te perdoar,

Mas, daí a dizer

Que vai tudo ficar de boa...

É conversa pra boi dormir,

Que não engana mais ninguém...

Deus tem os mesmos defeitos

Que qualquer ser humano tem.