Tríade
Erivelto Reis
Não nego que seja possível haver quem goste
De algo que perdeu ou de alguém que se foi
Com afinco sem precedentes
De intensidade, de paixão e de entrega
Em nada comparáveis
Ao aparato afetivo empregado
De quando os tivera.
Não nego que diante da ausência do ente amado
A pluralidade de respostas emocionais
Ao reconhecimento do amor que passou, findou,
Desistiu de esperar a reciprocidade idealizada e devida
Seja muito mais dramática e intempestiva
Em sua oferta de conexão, desejo e entrega.
É por haver uma capacidade de amar
Para além do amor, um amor pra depois,
Um pós-amor,
Diferente, em esmaecimento de autoestima, ao desamor
Que acredito que a perseverança para a ruína
De quem não reconheceria o amor
Nem se tropeçasse ou fosse atravessado por ele,
Mantém os ébrios vestidos de sóbrios,
Os alucinados céticos
Os artistas em crise criativa
Ou processos embricados de supercriatividade
E hiperbólica interpretação,
Os deprimidos mergulhados na melancolia do desespero.
Por haver quem só percebe valor na perda,
É que os poetas têm ou não têm emprego
É que os poetas têm e não tem paradeiro,
Amores, leitores e dinheiro.
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