Ponto-de-vista
Erivelto Reis
Eis que chega um tempo,
Um estranho agora,
É forjado de memória:
Essa labareda subjetiva
Que brinca
De esconde-esconde
Entre um lóbulo,
Um átrio e a alma,
É uma identidade secreta,
Que o indivíduo ostenta,
Esconde e carrega.
Roupa de gala ou pantufa rota.
Queima, algo febril,
Silencioso ardil
De bis para a dor ou prazer.
Parece emanar de nós,
Mas nós é que existimos nela.
Abre dessa forma
Uma paisagem e uma janela
Um ciclo, uma aliança, um elo
Entre lembrar e imaginar,
Entre criar e duvidar,
Entre um tango e um fado.
Entre um cheiro, um gosto,
Uma sensação de já ter vivido...
De se lembrar ou se esquecer
Um trauma, uma voz, um rosto.
Parece um cúmulo
Que haja memória
Que seja, ao mesmo tempo,
Nascimento, florescimento e túmulo.
Jazemos ilhados
Mergulhados no passado,
Como numa sexta-feira
Cheia de morangos mofados...
Ou entre o que conquistamos
E o que perdemos
Sem saber que era conquista.
Há dias em que o pensamento
É quase todo memória...
Mas isso é apenas
Um mero ponto-de-vista.
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