Temporada de caça
Erivelto Reis
Há uma sanha por censura,
Uma herança que perdura
Como uma forma estúpida
De referendar o poderoso
E o mau uso que este faz do poder.
Há uma sanha por dizer "cala a boca"
Ou por mandar calar,
De não ser contestado,
De não passar atestado
Do quanto não quis
Ou do quanto fingiu estudar.
Há uma sanha por pequenas e médias
E grandes crueldades,
Por vingança contra os fracos,
Por espezinhar os culpados,
Por criminalizar e condenar inocentes,
Como se tais absurdos pudessem
Tornar alguém superior.
Ou perpetuar alguém no poder
A salvo do escrutínio da História,
Da arte e da Literatura.
Dos censores eu tenho pavor.
Deles jamais se deve esperar candura.
Há uma sanha pela censura
Que impeça de se revelarem as tramóias
Da imoralidade, da falta de ética
E da corrupção de que são capazes.
Usam a censura para cobrir os espelhos,
Para não gritarmos que o rei está nu
E que nunca foi rei.
Os que pedem a intervenção
Não se imaginam censurados
Ou passíveis de serem marginalizados.
Esquecem-se de que a Censura esgarça
E que, para não ser confrontada,
Ameaça, tortura, prende, amedronta e mata.
Vivendo sob censura somos presas
Feras acuadas, animais na jaula
Num país em que nunca é dia da caça...
Num país em temporada de caça.
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