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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

terça-feira, 31 de março de 2020

Texto: "Do professor como ferramenta", de Erivelto Reis

DO PROFESSOR COMO FERRAMENTA
Erivelto Reis
Professores e professoras estão lutando e se reinventando para a escola continuar funcionando. Não são atores e atrizes, não são youtubers, apresentadores de televisão. Respeite-os e valorize-os. Toda mudança de meio compromete as metodologias de linguagem. Vão ler Vanoye, vão ler Marcuschi, vão ler tratados de argumentação. Para a pedagogia da ausência não há nenhum tratado além da boa vontade, do carisma, do domínio de conteúdo dos profissionais. No entanto, o contexto social, os recursos técnicos, os espaços, e o que se oferece como retorno não é um Plus, um extra. É apenas a possível permanência no emprego e a continuidade no pagamento dos salários: algo que escapa à responsabilidade administrativa do professor ou professora, mas que, especialmente nesse momento, com ele/a é divido. Se não ficar "perfeita" a videoaula, contenha-se, reflita, pondere a respeito do meio e do contexto, não apenas sobre o desempenho do mensageiro. Em muitos casos, nem mesmo a escola física oferece os recursos básicos necessários, que dirá a casa do professor, com seu celular, com sua internet, com sua energia elétrica, com o espaço de sua propriedade ou por ele alugado, de sua intimidade privada e particular cujas gravações interferem inclusive com a rotina de seus familiares... Provavelmente na sala de aula, em dias "tranquilos", e ainda com problemas históricos de superlotação, valor pago pela hora/aula ridícula e aviltantemente muito baixo, em relação à responsabilidade de se educar não a uma mais a dezenas de crianças em uma única turma, o desempenho dos professores seria infinitamente mais natural ou desenvolto.
Alguém poderá contra-argumentar que no canal de vídeo "Não sei qual" os professores arrasam... pague o que aquelas pessoas recebem pra estarem ali (nem todos são Professores: são atores encenando uma aula). E mesmo assim, em duas, três semanas tornar-se um professor de videoaula na internet... Acredite: a necessidade do emprego (E DO SALÁRIO) é enorme, mas o amor e a dedicação à profissão e aos aluninhos e aluninhas são muito maiores. Você que é patrão ou patroa, dono de escola deve estar muito preocupado com as contas a pagar, mas saiba: coagir, constranger, ameaçar ou permitir que outro funcionário de gestão o faça com seu professor ou professora não aumentará ou melhorará a qualidade da videoaula (nem quis mencionar aqui direitos conexos de imagem e de produção de material didático e instrucional, que constituem objeto de outros valores e pagamentos, mas pesquise pra ver). Se seu professor ou professora está se disponibilizando, valorize-o/a. Continuo acreditando que educação é afeto, conhecimento e olho no olho. (Família EaD, amigos EaD, relacionamento EaD não raro dão errado). Ou então grupos virtuais de família, trabalho, por exemplo... São uma conferência de monges budistas ou franciscanos? ... Até parece. Se ao vivo, presencialmente, tem problema, imagine a distância. Nem câmera, nem dinheiro, nem palavras indistintas e sem significado real, escritas num pedaço de papel que chamam de diploma, fazem o profissional. O que vale é o respeito e o exercício ético da profissão. O diploma é obrigatório e faculta legalmente ao exercício da atividade profissional. Daí a exercê-la com dignidade...
Tenho lido e visto e recebido muitas questões sobre essa necessidade de videoaula nas Escolas e faculdades particulares, mas entendo que ainda há um caminho longo a se percorrer e temo pelo uso político que gestores possam fazer desse período e desses recursos. Mesmo a EaD da educação pública corre sério risco de não ser inclusiva (devido a questões sociais graves em nosso país: há casas que não têm saneamento ou comida, mas supõe-se que o menino ou menina terá computador, Smartphone e internet?!!) e, consequentemente, não atingir resultados satisfatórios para o aluno.
Já vi muita coisa para entender que o entusiasmo da vontade pode atrapalhar a consciência ética do dever e coisificar o outro. Seu professor ou professora é uma pessoa, não o cargo que ocupa e precisa ser valorizado e estimulado no contexto do processo em que nos encontramos. Boa semana a todos e todas.

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