Marés
Erivelto Reis
Talvez seja apenas uma forma
Ingênua de caminhar na neblina...
Mas hei, quem sabe, de descobrir
Que todo Portugal não seja,
Poeticamente, é claro,
Conquanto o saiba gigante metáfora,
Telúrico halo, terra próspera,
Estrela de grandeza inesgotável e própria,
Mais que uma casa,
Um livro de História, um épico único,
Sobre um permanentemente lírico e inexorável povo,
Uma arquitetura, um fado, um cálice de vinho do Porto...
Que toda sua gente, historicamente diversa,
Seja sempre a mesma gente
A ler e esquecer ou a consagrar os mesmos poetas
E os novos escritores até que lhes sejam conhecidas,
Difundidas as palavras,
Barcos à deriva, ilhas de náufragos,
Desde o Atlântico e do litoral de Faro
Até o Índico e os mais pacíficos lugares...
Coleção de obras de arte,
Tesouros parcialmente ignorados.
Penso, tal qual um menino
A brincar mentalmente de ventríloquo
Com os sentimentos de seus heróis,
Que todos os seus monumentos tenham sido erigidos
Aos sonhos, às lendas, ao Tejo,
Às intempéries, aos sortilégios
E aos seus feitos de mar e nuvem.
Hei de descobrir que Portugal
De tão íntimo, seja mesmo imenso, universal...
Imagino, viajo e vejo
Saramago a discutir com Vieira,
Pessoa a gritar por Camões,
A imensidão do amor de Pedro e Inês,
Sophia a observar as marés.
Navios dos quais eu mal conheço o convés...
Hei de descobrir Portugal!
Por agora,
Uma casa da qual não hei de partir,
Um cais para onde regressarei,
Um planeta em que um dia
Hei de aportar meus pés.
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