Breve estudo sobre o descontentamento da alma
Erivelto Reis
Morava qualquer dia, em qualquer tempo, em qualquer rua,
A não ser quando amava.
Nesses dias o endereço era a alma.
Bastava isso:
Era o que entendia como aura.
Mas houve algo,
Uma chuva, vendaval de lava.
Erupção vulcânica
De paixão em estado de brasa.
A partir daí qualquer distância
Esgotava.
Não era isso o que queria:
Um desejo sem prazer
Um vício sem querer
Experimento de laboratório
Coração triste, cobaia em redoma de vidro.
Alma foi ficando sem brilho,
Sem luz...
Foi ficando calada, calada...
Não é ter o que se quer o almanaque do amor
É amar sem medo de perder.
Um breve estudo provaria a tese.
Depois de saltar o abismo,
Pular pra dentro do abismo
É um misto de desastre, pessimismo
E estoicismo.
Podem fazer a necropsia,
Não vão encontrar vestígio, nem sentido.
Há somente a arcada dentária
Do que outrora foi sorriso...
Um crânio sem um Hamlet,
E uma víscera que pulsava
Agora calcificada e fria
transformada em pedra.
História de amor assim
Só a vida engendra, repete e copia.
Passou um trovador nesse instante
Cantando uma cantiga que glosava esse tema.
Foi um arauto ou um clown?
Talvez apenas alma desencantada,
Viajada, vigiada, viajante, vigilante...
Possa converter o horror ao credo da poesia.
Quem vai saber de cor o amor
Quando o susto do adeus é grande?
Morava qualquer dia, em qualquer tempo, em qualquer rua...
A não ser quando amava!
Nesses dias o endereço
Do começo e do fim do mundo era a alma.
Nenhum comentário:
Postar um comentário