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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

quinta-feira, 21 de julho de 2022

Poema: "Breve estudo sobre o descontentamento da alma", de Erivelto Reis

 

Breve estudo sobre o descontentamento da alma

Erivelto Reis

 

Morava qualquer dia, em qualquer tempo, em qualquer rua,

A não ser quando amava.

Nesses dias o endereço era a alma.

Bastava isso:

Era o que entendia como aura.

Mas houve algo,

Uma chuva, vendaval de lava.

Erupção vulcânica

De paixão em estado de brasa.

A partir daí qualquer distância

Esgotava.

Não era isso o que queria:

Um desejo sem prazer

Um vício sem querer

Experimento de laboratório

Coração triste, cobaia em redoma de vidro.

Alma foi ficando sem brilho,

Sem luz...

Foi ficando calada, calada...

Não é ter o que se quer o almanaque do amor

É amar sem medo de perder.

Um breve estudo provaria a tese.

Depois de saltar o abismo,

Pular pra dentro do abismo

É um misto de desastre, pessimismo

E estoicismo.

Podem fazer a necropsia,

Não vão encontrar vestígio, nem sentido.

Há somente a arcada dentária

Do que outrora foi sorriso...

Um crânio sem um Hamlet,

E uma víscera que pulsava

Agora calcificada e fria

transformada em pedra.

História de amor assim

Só a vida engendra, repete e copia.

Passou um trovador nesse instante

Cantando uma cantiga que glosava esse tema.

Foi um arauto ou um clown?

Talvez apenas alma desencantada,

Viajada, vigiada, viajante, vigilante...
Possa converter o horror ao credo da poesia.

Quem vai saber de cor o amor

Quando o susto do adeus é grande?

Morava qualquer dia, em qualquer tempo, em qualquer rua...

A não ser quando amava!

Nesses dias o endereço

Do começo e do fim do mundo era a alma.

 

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