Hexagonia
Erivelto Reis
Eles já saíram daqui derrotados...
Primeiro, porque não saíram daqui,
Partiram planejando não voltar
Ou só voltar a turismo, ou pra buscar asilo
Ou pra negociar dívidas e dividendos...
Ou por ostentação e esnobismo:
Filho pródigo pronto a desmentir
Qualquer exame de DNA.
Poucos voltam para transformar, contribuir, semear,
Há gente assim, que volta só por querer estar
Ou se há...
Não posso nem culpá-los por não querer voltar.
Mas eis que se encontram derrotados,
Porque realizaram tudo o que sonharam quando
Conquistaram os códigos financeiros do mundo
Mas não puderam conquistar o mundo,
Que foi o que sonharam
Quando descobriram do que eram capazes.
Aí não, rapazes...
Fugiram de onde estavam
E de lá só levaram raiva, trauma,
E cicatriz.
Vestiram uma roupa que de longe
Lembra as cores de nosso país...
Mas que de perto...
Tá certo, fizeram só o que lhes ensinaram,
Talvez até revidaram, deram o troco
Pagaram na mesma moeda: “despreza a quem te despreza!”,
Enquanto bancam com o orgulho a conta do seu desprezo.
Ainda há traço de humanidade suburbana e periférica
Na comoção que os meninos descalços e hábeis
Com a bola nos pés e os pés no chão lhes causam.
Há também a espreita de um negócio rentável.
Sua posição não é nem um pouco confortável:
Saíram pra só voltar consagrados
E sempre que voltam
O seu retorno é magoado...
Porque marca algum sonho adiado.
O país que idealizaram os ignora enquanto idolatra seu talento...
O país que abandonaram não melhora.
Alguns deles são só por fora a capa que esconde
O estranho espectro do que são por dentro.
Eles já saíram daqui derrotados!
E sua meta inconsciente
Talvez não seja erguer a taça
E sim, voltar pra casa...
Para realidade de que escaparam.
Por isso não voltam.
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